Primeiro, a Plataforma deEsquerda, depois, a Juventude do Syriza. Por fim, um debate intenso e duro com os parlamentares gregos. Pelo meio, recados da Alemanha e alertas sobre a sustentabilidade da dívida, e isto já para não falar da crise dos refugiados na Grécia. Ontem, Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, viveu novo dia interminável, ainda que polvilhado com um ou outro dado positivo.
Odia arrancou com más notícias para a coligação governamental:o líder daPlataforma de Esquerda, uma das organizações que compõem o Syriza, emitiu um comunicado conjunto com outros 11 deputados da coligação do governo a apelar à fundação de um novo movimento – leia-se partido. “A luta contra o novo resgate começa hoje [ontem], pela mobilização do povo em todos os cantos do país”, refere a nota enviada aos jornais gregos, assinada à cabeça por Panayiotis Lafazanis, ex--ministro da Energia de Tsipras. Nesta, os signatários apelam à fundação “de um movimento unido que justifique o desejo do povo por democracia e justiça social”, não abordando, porém, a decisão de abandonar o Syriza – esse tipo de movimentações deverá esperar pela realização de um congresso do Syriza, provavelmente em Setembro.
“A assinatura de um novo memorando equivale à destruição do povo e da democracia grega e reverte o mandato dado pelos gregos no passado dia 5 de Julho contra as políticas neoliberais. Precisamos de continuar no caminho de 5 de Julho até ao fim, até expulsarmos as políticas dos resgates, com um plano alternativo para o dia seguinte, para uma Grécia democrata, reconstruída e socialmente justa”, lê-se ainda.
“Crise do capitalismo”A Plataforma de Esquerda não esteve sozinha neste pré-anúncio de cisão, já que também a Juventude do Syriza deverá seguir o mesmo caminho, conforme revelaram ontem os seus responsáveis, também em comunicado, onde criticam “amudança forçada para esta estratégia neoliberal” e pedem a saída não só da zona euro como da União Europeia. “Oterceiro resgate, que é o governo a negociar com o pulso dos credores, é completamente contrário às orientações estratégicas e compromissos programáticos e junto da comunidade pelo Syriza e pela Juventude. Estamos totalmente cientes de que isto foi o resultado de um golpe sem precedentes dos credores, que por seu turno foi o último episódio de uma coacção levada ao extremo que levou o governo a cair num impasse político”, aponta o comunicado daJuventude do Syriza, citado pelos meios gregos.
Para os jovens que têm apoiado Tsipras, a estratégia imposta pelos credores “consolida a lógica de que a saída da crise do capitalismo passa pela violação dos direitos do trabalho e dos jovens, em benefício do capital”, razão pela qual, asseguram, o Syriza precisa urgentemente de clarificar a sua posição, com os jovens a apelarem por isso ao avanço do congresso do Syriza o mais rapidamente possível.
oposição e orçamento Com a multiplicação de dissensões no Syriza, que começaram desde a votação pelo parlamento helénico do avanço para a negociação do novo resgate, o texto que Atenas e os credores negociaram e que foi agora votado precisou novamente do apoio de deputados da oposição, sobretudo da Nova Democracia e do PASOK, para ser aprovado. Este facto tem alimentado os pedidos para o avanço de eleições antecipadas, algo que só deverá ocorrer depois da normalização da situação do país e do congresso do Syriza.
Olga Gerovasili, porta-voz do governo, admitiu que o executivo está numa situação fragilizada mas que, por agora, a prioridade passa pela resolução dos problemas financeiros. Sobre a cisão, Gerovasili referiu apenas que “é possível que no futuro surjam procedimentos para procurar um novo mandato.”
Odia, no entanto, não foi só de más notícias. Logo pela manhã foi divulgado que não só o PIBgrego cresceu 0,8% no segundo trimestre do ano como os dados sobre o primeiro trimestre foram revistos, de -0,2% para 0%. Ontem ao final do dia foram ainda conhecidos números da execução orçamental grega entre Janeiro e Julho, meses que coincidem com o governo de Alexis Tsipras:segundo os dados avançados pelo “Ekathimerini”, o governo grego fechou os primeiros sete meses do ano com um excedente primário de 3,5 mil milhões de euros, justificados tanto pelos cortes realizados como pelo aumento de pagamentos em atraso.