Alegre. “Nenhum candidato a Belém faz o pleno na primeira volta”

Alegre. “Nenhum candidato a Belém faz o pleno na primeira volta”


Manuel Alegre em declarações ao i lembra o exemplo de Álvaro Cunhal que deu uma grande lição política.


“A esquerda deve reflectir sobre a grande lição que nos foi dada por Álvaro Cunhal, na primeira eleição presidencial de Mário Soares”, disse Manuel Alegre . “Álvaro Cunhal, que tinha decidido em congresso jamais votar em Soares, perante o perigo da direita, voltou a reunir o congresso num dia, para anular essa decisão” e deu a vitória a Mário Soares na segunda volta. Alegre lembra a votação de Soares na primeira volta (25,43%) contra 46,31% do candidato da direita, Freitas do Amaral. 

Mas quem deve reflectir sobre essa lição? A esquerda fora do PS ou o PS? “Os dois”, defende Manuel Alegre, porque, sustenta, “nenhum candidato da direita ou da esquerda terá o pleno na primeira volta” e, acrecenta o histórico militante socialista,  “qem for à segunda volta deve ter o pleno da esquerda”, ainda que tenha de, como Cunhal, engolir um sapo.
Manuel Alegre não quer falar de presidenciais, porque as legislativas são a prioridade e diz mais: “A direita quer falar de presidenciais porque não lhe interessa falar das legislativas”. 

Mas, ainda sobre presidenciais diz não concordar com a leitura de um PS dividido pelas candidaturas a Belém. Mais dividido, diz Alegre, está a direita que tem três candidatos ou putativos candidatos:“A direita tem Rui Rio, Marcelo Rebelo de Sousa e ainda Santana Lopes”. 
 
PS EM CHOQUE. A menos de dois meses das legislativas, António Costa queria tudo menos ver o PS embrulhado numa discussão sobre as presidenciais. Ao contrário da direita – que apesar de ter três ou quatro candidatos tem, até agora, evitado que as divisões saltem para a praça pública – os socialistas estão a fazer das presidenciais um dos temas principais da pré-campanha. “Quem alimenta essa discussão está a desviar a atenção do essencial. Tenho visto com desgosto as declarações de alguns camaradas. OPS deve estar exclusivamente concentrado nas legislativas”, alerta, em declarações ao i, Capoulas Santos, cabeça-de-lista por Évora, que já tinha criticado no Facebook “uma certa rapaziada do PS que ainda não percebeu que as primárias foram no ano passado”. Capoulas apela a que a discussão seja feita com “serenidade e profundidade a seguir ao dia 4 de Outubro”. 
Apesar dos apelos de Costa, que não se cansa de dizer que presidenciais só a seguir às legislativas, o debate está aceso entre os apoiantes de Nóvoa e Maria de Belém. João Paulo Pedrosa, deputado e adepto da candidatura da ex-ministra, envolveu-se numa discussão nas redes sociais e disparou contra o ex-reitor: “Eu acho o Nóvoa um candidato apenas apoiado pelos comunistas, bloquistas e gajos do PS que vão aos comícios do Bloco”.  Sampaio da Nóvoa nunca fez o pleno no PS. Francisco Assis, Vera Jardim, Eurico Brilhante Dias ou Álvaro Beleza, os últimos dois próximos de Seguro, há algum tempo reivindicam o aparecimento de uma candidatura de um militante socialista. Vitorino e Gama foram desafiados a avançar, mas não quiseram. Belém aproveitou o espaço que ficou vazio e colocou a máquina em andamento, apesar de só anunciar a candidatura a seguir às legislativas.

UMTIRONOPS Do lado dos apoiantes de Nóvoa surgem apelos para que a ex-presidente do PS não avance. João Serra, que está ligado desde o início à candidatura do ex-reitor e foi assessor político de Jorge Sampaio em Belém, defendeu que a provável candidatura da ex-ministra da Saúde é “um ataque a António Costa” e divide o PS e a esquerda. Ao i, Vítor Ramalho disse que Maria de Belém “não tem condições” para ser candidata e avisou que, se o fizer, está a servir a direita. 
Alfredo Barroso, fundador do PS que abandonou este ano o partido, também acha que “a candidatura de Maria de Belém Roseira é um grande tiro, não apenas no PS mas, sobretudo, na esquerda”. Seja como for. Maria de Belém está decidida a avançar e Costa terá de decidir entre uma militante socialista e um independente, que já tem o apoio de figuras de referência do partido como Mário Soares ou Jorge Sampaio. A única certeza é que só decidirá a seguir às legislativas.