Chama-se Albergo Etico e trata-se de um hotel de três estrelas situado em Asti, uma província do norte de Itália. Podia ser um hotel como tantos outros. Mas não é. É gerido por uma equipa de funcionários com síndrome de Down. A ideia partiu de uma organização não governamental (ONG) italiana e tem como objectivo lutar contra a discriminação de pessoas que sofrem desta deficiência.
A unidade hoteleira, localizada perto do arborizado Parque da Resistência, abriu portas a 18 de Junho, conta com 21 quartos, com um total de 60 camas, e um restaurante com capacidade para 50 pessoas. Este projecto é o ideal para quem, na hora de reservar um hotel, der valor a questões como a inclusão social, ficando para segundo plano outros critérios como o tamanho do quarto, as comodidades oferecidas ou até mesmo a quantidade de estrelas.
É que, neste espaço, existe uma equipa rotativa de estagiários com síndrome de Down que vão adquirindo competências de autonomia. “Têm a liberdade de lá viver e receber formação profissional na área do turismo, além de aprenderem a administrar o seu dinheiro”, revela o jornal italiano “La Repubblica”.
Este albergue deu os primeiros passos graças a um jovem italiano com síndrome de Down. Nicolò estagiou no Restaurante Tacabanda, também na cidade de Asti, gerido pelos irmãos Benedetto e sobretudo pelo chefe de cozinha, Antonio. Ao verem as mudanças na vida do jovem criaram, em 2006, a associação AlbergoEtico. “Graças ao meu trabalho fiz tantas amizades, sobretudo com os meus colegas”, revelou Nicolò.
Esta associação, influenciada pelo que viu acontecer na vida de Nicolò quando este teve acesso ao mercado de trabalho, partiu da ideia veiculada pelo chamado método Montessori de que todos estes jovens têm capacidades específicas e que, se o mercado de trabalho souber retirar de cada um deles o que têm de melhor, estão perfeitamente aptos para integrarem esse mesmo mercado. Ou seja, cada um destes jovens é único e tem necessidades específicas. Mas também talentos específicos. O objectivo, esse, é comum: a autonomia e a inserção no mercado de trabalho.
Uma casa para a independência
Depois de colaborar com várias unidades hoteleiras e de restauração, a associação Albergo Etico viu os seus esforços reconhecidos em 2012 com o Civi Europaeo Praemium. Faltava apenas o derradeiro passo nesta caminhada: a inauguração do seu próprio albergue.
Sempre com o objectivo de demostrar que este grupo de jovens tem muito para oferecer à sociedade, bastando que lhes sejam dadas as oportunidades certas, acabou de abrir portas este AlbergoEtico. “A intenção deste trabalho é formar novos profissionais no sector turístico italiano, ajudando-os na aquisição de autonomia pessoal, algo indispensável para as pessoas com deficiência que pretendam entrar no mercado de trabalho“, assinalou o “La Repubblica”.
Os irmãos Benedetto esperam transformar esta unidade hoteleira num quatro estrelas no espaço de um ano.
Actualmente é composta por 35 jovens de toda a Itália. Alguns deles, neste processo de aquisição de autonomia, chegam a viver na chamada Accademia dell’Indipendenza, uma unidade pertencente ao albergue. “O Albergo Etico é uma casa, mas também um local de encontro para crescerem, conhecerem e adquirirem as ferramentas para se integrarem na sociedade de forma independente e com dignidade, sem hipocrisia”, revela a unidade hoteleira na sua página de internet.
Além de todas as competências habitualmente oferecidas pelos outros hotéis, o Albergo Etico conta ainda com um espaço de coworking aberto a hóspedes e habitantes da cidade. Para ajudar o leitor, o i fez uma simulação no site de reservas Booking e, se estivesse a pensar ir passar lá esta noite de sábado, teria de gastar 110 euros, com direito a pequeno-almoço.
