um dos mais bem conseguidos anúncios a uma promoção em supermercados capta a nossa atenção através de uma expressão comum, proferida por três personagens, que traduz a surpresa com preços tão baixos nas promoções anunciadas – “eishhh que exagero”… Quem compra quer sempre comprar mais barato, embora seja difícil encontrar algum comprador que deixe escapar um “eishhh que exagero” por considerar a oferta exageradamente barata – este é o segredo do anúncio. Mais fácil será ouvir um “eishhh que exagero” pelo contrário, por algo que se oferece a um preço realmente exagerado, ou seja, mais caro do que deveríamos considerar um preço equilibrado e justo para todas as partes.
Olhando, à boleia deste olhar sobre aquela publicidade, para o imobiliário, apetece-me também dizer um “eishhh que exagero” quando ouço o desejo de uma rápida retoma transformar-se numa realidade que está a melhorar mas ainda não regista aquela velocidade de cruzeiro. É bom ser optimista. Sempre o fui e sempre tentei dirigir o olhar para o ângulo mais favorável, incentivando a esperança. A esperança – que é a grande componente do negócio dos cosméticos – está presente em quase todos os demais negócios. Mas esperança em exagero pode dar uma imagem distorcida do nosso mercado imobiliário. Continuamos a merecer a atenção de muitos investidores estrangeiros, temos, internamente, melhor acesso ao crédito e mais vontade de investir, mas nada de excessos de confiança. Tem havido mais procura e mais transacções de imóveis, nomeadamente nas centralidades das cidades que se renovam, o dinheiro tem estado relativamente barato, mas a situação está longe de poder ser considerada eufórica. E muito menos quando, embalada pela doce esperança que paira no ar, a oferta faz crescer o preço para valores que geram na procura um “eishhh que exagero” muito diferente daquele que está a fazer sucesso num anúncio de promoção a uma promoção em supermercados. Este fenómeno é já visível, por exemplo, na oferta de imóveis bem localizados para uma reabilitação apetecível. Como a procura existe e é qualificada, a tentação de fazer aumentar os preços é muita e por vezes de tal envergadura que o negócio fica inviabilizado.
Os sinais de retoma da economia existem mas são ténues e podem, a qualquer momento, inverter-se no incerto quadro político e económico da União Europeia e da zona euro em que nos encontramos. A nossa classe média, um dos grandes motores do crescimento e do desenvolvimento em qualquer economia, está muito assustada, numa encruzilhada difícil e – como costumo dizer – em risco de perder o emprego, a casa, a face e a vontade de dar a volta a esta situação. Da classe média portuguesa – e não apenas da classe média estrangeira que nos procura – também depende o regresso à qualidade de vida que mantém abertos os museus, os teatros e as salas de concertos, os restaurantes, os jornais, as revistas, as viagens, tudo. E neste ponto nada do que eu estou a dizer é um exagero.
Presidente da APEMIP e da CIMLOP