A paternidade não tem idade – rima e porventura é verdade…


Os pais devem ter os filhos quando acham que sim, ou seja, quando vêem reunidas as condições de vontade, logísticas, sociais e económicas, entre outras.


© Antonio Pedro Santos

A idade em que as mulheres têm o seu primeiro filho em Portugal tem vindo a aumentar. Por outro lado, os nascimentos de mães de mais de 35 anos, depois de uma forte descida, vêm subindo mas com uma radiografia bem diferente da de décadas anteriores, no que toca ao número de filhos, a apoio durante a gestação e a programação do nascimento dos filhos. 

Fala-se todavia menos na evolução da idade dos progenitores masculinos, dado o risco obstétrico ser das grávidas, mas, segundo os dados do INE, também a idade média dos pais tem aumentado nos últimos anos.

Antigamente os pais que tinham filhos depois dos 40 anos eram ou pais de muitos filhos e quase sempre de um primeiro casamento ou então os filhos eram de outras relações e designados pelos termos, hoje inaceitáveis, de “bastardos” ou “ilegítimos”.

A realidade mudou, com as recomposições familiares, as carreiras, as opções de vida que não se resumem a ter filhos e a necessidade de muitos homens de ter mais maturidade na parentalidade, para lá da maior longevidade e da mudança de paradigma, em que se passou de ter filhos para “ajudar os pais e trabalhar” para uma situação nova de “ter filhos para realização e como parte da necessidade existencial”. O número de pais que tiveram filhos em idades mais jovens e que voltam a ter filhos muito mais tarde, por exemplo, é uma realidade cada vez mais patente.

A paternidade não tem idade – rima e porventura é verdade… Quero eu dizer que os pais devem ter os filhos quando acham que sim, ou seja, quando vêem reunidas as condições de vontade, logísticas, sociais, económicas, entre outras. Já passou o tempo de ter filhos para ter mais opções, mais mãos para trabalhar, mais herdeiros ou ter filhos para que os filhos tenham irmãos. Tem-se filhos porque um casal assim o decide, presume-se que, na larga maioria dos casos, de forma pensada e não leviana.

Há idades que, em termos estatísticos, podem representar uma probabilidade maior ou menor de ocorrerem problemas de saúde – é conhecido o aumento da incidência de mongolismo com o aumento da idade das mães. Todavia, essas pequenas diferenças clínicas são, em cada caso particular, minudências estatísticas. Se para o desempenho de ser pai há tantos factores a ter em conta, entre os quais o bom senso, o instinto e a experiência, rotular as pessoas de acordo com a idade será disparatado.

Sendo-se mais novo tem-se possivelmente mais arcaboiço físico e mais resistência; sendo-se mais velho ter--se-á mais experiência, maturidade, calma e uma vida mais organizada. Tudo isto – e mais dezenas de aspectos que poderíamos juntar – podem ser factores positivos ou negativos, conforme a pessoa, as circunstâncias e o contexto.

Na minha opinião, é de recusar liminarmente a ideia, errada e arrogante, de se considerar avós os pais que têm mais do que… certa idade (curiosamente nunca se define qual, porque não há qualquer dado científico que permita essa definição). Pai é pai, avô é avô. Os desempenhos são diferentes mas o sentimento com que por vezes os pais recentes com mais de, por exemplo, 45 anos, são olhados, é ainda de desconfiança e um sinal de subdesenvolvimento e menoridade intelectual… ou de inveja por terem o que muita gente gostaria de ter: filhos. Muitas vezes são as mulheres, pela limitação etária mais baixa à capacidade de procriar, que falam com desdém desses “pais-avôzinhos”.

Já vi de tudo na minha vida profissional – jovens adolescentes com maturidade de se lhes tirar o chapéu, trintões totós e pais com mais de 40 com uma visão lúdica, lúcida e tranquila das coisas.

Como escreveu Ary dos Santos, «quem faz um filho fá-lo por gosto». Eu acrescentaria: e que tenha gosto em tê-lo, que o ensine, o ame, o proteja e lhe ensine os caminhos da autonomia e da responsabilidade, ao longo do percurso de vida, seja qual for a idade em que optou pela paternidade.

Pediatra
Escreve à terça-feira 

A paternidade não tem idade – rima e porventura é verdade…


Os pais devem ter os filhos quando acham que sim, ou seja, quando vêem reunidas as condições de vontade, logísticas, sociais e económicas, entre outras.


© Antonio Pedro Santos

A idade em que as mulheres têm o seu primeiro filho em Portugal tem vindo a aumentar. Por outro lado, os nascimentos de mães de mais de 35 anos, depois de uma forte descida, vêm subindo mas com uma radiografia bem diferente da de décadas anteriores, no que toca ao número de filhos, a apoio durante a gestação e a programação do nascimento dos filhos. 

Fala-se todavia menos na evolução da idade dos progenitores masculinos, dado o risco obstétrico ser das grávidas, mas, segundo os dados do INE, também a idade média dos pais tem aumentado nos últimos anos.

Antigamente os pais que tinham filhos depois dos 40 anos eram ou pais de muitos filhos e quase sempre de um primeiro casamento ou então os filhos eram de outras relações e designados pelos termos, hoje inaceitáveis, de “bastardos” ou “ilegítimos”.

A realidade mudou, com as recomposições familiares, as carreiras, as opções de vida que não se resumem a ter filhos e a necessidade de muitos homens de ter mais maturidade na parentalidade, para lá da maior longevidade e da mudança de paradigma, em que se passou de ter filhos para “ajudar os pais e trabalhar” para uma situação nova de “ter filhos para realização e como parte da necessidade existencial”. O número de pais que tiveram filhos em idades mais jovens e que voltam a ter filhos muito mais tarde, por exemplo, é uma realidade cada vez mais patente.

A paternidade não tem idade – rima e porventura é verdade… Quero eu dizer que os pais devem ter os filhos quando acham que sim, ou seja, quando vêem reunidas as condições de vontade, logísticas, sociais, económicas, entre outras. Já passou o tempo de ter filhos para ter mais opções, mais mãos para trabalhar, mais herdeiros ou ter filhos para que os filhos tenham irmãos. Tem-se filhos porque um casal assim o decide, presume-se que, na larga maioria dos casos, de forma pensada e não leviana.

Há idades que, em termos estatísticos, podem representar uma probabilidade maior ou menor de ocorrerem problemas de saúde – é conhecido o aumento da incidência de mongolismo com o aumento da idade das mães. Todavia, essas pequenas diferenças clínicas são, em cada caso particular, minudências estatísticas. Se para o desempenho de ser pai há tantos factores a ter em conta, entre os quais o bom senso, o instinto e a experiência, rotular as pessoas de acordo com a idade será disparatado.

Sendo-se mais novo tem-se possivelmente mais arcaboiço físico e mais resistência; sendo-se mais velho ter--se-á mais experiência, maturidade, calma e uma vida mais organizada. Tudo isto – e mais dezenas de aspectos que poderíamos juntar – podem ser factores positivos ou negativos, conforme a pessoa, as circunstâncias e o contexto.

Na minha opinião, é de recusar liminarmente a ideia, errada e arrogante, de se considerar avós os pais que têm mais do que… certa idade (curiosamente nunca se define qual, porque não há qualquer dado científico que permita essa definição). Pai é pai, avô é avô. Os desempenhos são diferentes mas o sentimento com que por vezes os pais recentes com mais de, por exemplo, 45 anos, são olhados, é ainda de desconfiança e um sinal de subdesenvolvimento e menoridade intelectual… ou de inveja por terem o que muita gente gostaria de ter: filhos. Muitas vezes são as mulheres, pela limitação etária mais baixa à capacidade de procriar, que falam com desdém desses “pais-avôzinhos”.

Já vi de tudo na minha vida profissional – jovens adolescentes com maturidade de se lhes tirar o chapéu, trintões totós e pais com mais de 40 com uma visão lúdica, lúcida e tranquila das coisas.

Como escreveu Ary dos Santos, «quem faz um filho fá-lo por gosto». Eu acrescentaria: e que tenha gosto em tê-lo, que o ensine, o ame, o proteja e lhe ensine os caminhos da autonomia e da responsabilidade, ao longo do percurso de vida, seja qual for a idade em que optou pela paternidade.

Pediatra
Escreve à terça-feira