O futuro de Archie Manning haveria de estar sempre ligado ao desporto. Desde pequeno, construiu uma ligação forte a várias modalidades e entre 1967 e 1971 foi escolhido quatro vezes no draft da MLB. Mas nunca se decidiu pelo basebol. Havia talento para lançar bolas, mas o futebol americano acabaria por prevalecer sobre as outras modalidades. O sonho era ser um quarterback de elite. Atlanta Braves, Chicago White Sox e Kansas City Royals foram descartados, e quando saiu da universidade do Mississípi foi a segunda escolha do draft da NFL, detida pelos New Orleans Saints. Estávamos em 1971 e Archie já não pôde partilhar esse momento com o pai, que se suicidara dois anos antes.
A carreira de Manning na NFL não foi suficiente para deixar marca. Nos 13 anos ao mais alto nível participou em 151 encontros (139 como titular) e conseguiu 125 passes para touchdown. Em sentido contrário, sofreu 173 intercepções, um valor superior aos touchdowns e que não abona muito a favor de um quarterback. Ainda assim, mesmo sem ganhar qualquer título, fez parte das equipas de Pro Bowl (jogo de estrelas)em 1978 e 1979. No ano em que se retirou confirmou a estatística de nunca ter estado numa equipa que terminasse com registo positivo e a presença nos playoffs nunca passou de uma miragem.
Passagem de testemunho Archie Manning é pai de três filhos e todos eles nasceram durante a carreira. O primeiro, Cooper (1974), deu nas vistas como wide receiver na adolescência, mas viu a carreira terminar abruptamente devido a uma estenose espinhal, doença que afecta a espinha lombar e os nervos. Com Peyton (1976) e Eli (1981), a história foi radicalmente diferente. Se Archie conseguiu aquilo que muitos sonham e não conseguem – ser a segunda escolha do draft da NFL –, os dois filhos mais novos, também quarterbacks, superaram-no, aparecendo no primeiro lugar dos eventos de 1998 e 2004.
Peyton Manning chegou a jogar com Cooper na universidade e herdou-lhe o número 18. Depois, quando surgiu a altura, os Indianapolis Colts não duvidaram da sua qualidade e apostaram forte. A partir daí foi construindo um estatuto de quarterback que privilegiava um estilo de passe calculado. A partir de 1999 começou a ser uma presença constante nos jogos das estrelas e, em 2007, conseguiu finalmente ser campeão da NFL, com os Colts a vencerem a 41.a edição da Super Bowl contra os Chicago Bears (29-17). Era a derradeira prova que faltava a um jogador que era acusado de ser o melhor todos os anos na fase regular mas vacilar no momento em que as decisões apertavam.
Por essa altura, o irmãoEli também já estava na NFL, escolhido a abrir pelos New York Giants em 2004. Mais discreto, com um estilo não tão fiável, não quis ficar atrás do irmão e imitou-o logo na época seguinte. Em 2008, os New England Patriots entraram na Super Bowl como principais favoritos, com uma época 100% vitoriosa, mas embateram nos Giants de Eli com um resultado de 17-14. Também para ele foi um momento para retirar pressão dos ombros. Apesar da qualidade, nunca foi colocado na elite dos quarterbacks como o irmão Peyton, Brett Favre ou Tom Brady. Com uma Super Bowl no bolso, o caso começava a mudar de figura.
Mas só em 2012 é que a discussão ficou mais equilibrada. Sim, Peyton sempre fora visto como o elemento mais talentoso da família Manning – e com os melhores resultados –, mas Eli acabava de chegar à segunda Super Bowl, novamente contra os New England Patriots de Tom Brady. Com uma exibição de luxo – no seu caso, sempre se destacou pela capacidade de conseguir resolver (por vezes com alguma sorte) nas situações de aperto –, guiou os Giants a nova vitória (21-17) e rompeu de vez com as dúvidas. Hoje em dia, Tom Brady tem seis presenças em Super Bowls, com quatro vitórias, mas ninguém esquece que Eli Manning é o seu antídoto. E com dois triunfos, o irmão mais novo da família passou a batata quente para Peyton.
O ano de 2012 marcou uma grande viragem na família e não apenas pelo segundo título de Eli. Os Colts de Jim Irsay deixaram de acreditar na capacidade de Peyton e decidiram deixá-lo ir, de forma a investirem em Andrew Luck. Os problemas físicos de Peyton, que havia sido operado ao pescoço, assustavam, mas os Denver Broncos arriscaram e apostaram no experiente jogador para suceder ao discutível Tim Tebow e reconduzir a equipa aos tempos áureos da década de 90.
O impacto foi imediato. Sem problemas físicos, Peyton Manning encontrou em Demaryius Thomas um parceiro de luxo e na segunda época fez o que se esperava dele: venceu o troféu de MVP da fase regular pela quinta vez e apurou a equipa para a Super Bowl. Seria a oportunidade perfeita para Peyton retribuir a gentileza a Eli e garantir o quarto troféu para a família de um pai babado, mas os 60 minutos de jogo foram um pesadelo. Os Seattle Seahawks de Russell Wilson e Marshawn Lynch esmagaram os Broncos, e Peyton teve um encontro para esquecer na derrota por 8-43.
As fases negras existiram, tanto para Peyton como para Eli (excluindo os anos dos títulos, só por uma vez chegou aos playoffs desde 2007), mas o balanço continua a ser grandioso para a família mais famosa da história do futebol americano. E, caso se comece a pensar numa terceira geração, Peyton já tem um filho. Daqui a uns anos, logo se verá se o sangue continuará a fazer a diferença.
BI
ARCHIE Nasceu a 19 de Maio de 1949 em Drew, no Mississípi.
Draft Foi a segunda escolha de 1971, detida pelos New Orleans Saints.
Carreira Jogou nos Saints até 1982, fez uma época nos Houston Oilers e uma nos Minnesota Vikings.
Números Somou 125 touchdowns e 173 intercepções. Completou 55,2 dos passes tentados.
Irmãos Peyton nasceu a 24 de Março de 1976 e Eli a 3 de Janeiro de 1981. Ambos emNova Orleães, onde o pai jogava.
DRAFT Com uma diferença de seis anos, os dois foram as primeiras escolhas da NFL: Peyton em 1998 pelos Colts e Eli em 2004 pelos Giants.
Títulos Peyton conquistou a Super Bowl em 2007, enquanto o irmão o imitou em 2008 e aumentou o pecúlio em 2012.
Números Eli tem 259 touchdowns e 185 intercepções. Os totais de Peyton são melhores, tanto em absoluto como na relação: 530 para 234.
