GES. Clientes lesados do papel comercial apresentam queixas-crime por “burla qualificada”

GES. Clientes lesados do papel comercial apresentam queixas-crime por “burla qualificada”


Os lesados  iniciaram a 21 de Maio uma nova estratégia de protesto que prevê a apresentação de queixas-crime.


Clientes lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) estiveram de manhã nas agências do Novo Banco em Espinho, Cortegaça, Esmoriz e Santa Maria da Feira para, na presença da PSP, serem identificados funcionários que acusam de “burla qualificada”.

“As identificações do gerente, subgerente, gestor de conta e directora regional foram feitas e agora teremos que formalizar nas esquadras a queixa-crime por burla qualificada”, afirmou José Nunes, um dos clientes lesados e membro da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC), à saída do balcão de Santa Maria da Feira.

Após várias manifestações frente a agências do Novo Banco (antigo Banco Espírito Santo – BES) em todo o país, que nalguns casos culminaram na invasão dos balcões, os lesados do papel comercial do GES iniciaram a 21 de Maio uma nova estratégia de protesto que prevê a apresentação de queixas-crime “contra todas as pessoas que participaram na venda fraudulenta de papel comercial”, nomeadamente os gerentes, subgerentes e gestores de conta dos antigos balcões do BES.

“Todas as formas [de protesto] são válidas e nós continuaremos a lutar de todas as maneiras. Dentro da lei até ser possível e, se for preciso lutar fora da lei, também o faremos”, assegurou José Nunes.

Segundo este cliente, que integrou o grupo de seis investidores em papel comercial do GES que esta manhã 'visitaram' o balcão de Santa Maria da Feira, as queixas apresentadas contra os funcionários bancários são “por burla qualificada”: “Acho que estes funcionários deviam ter tido cuidado, porque a grande maioria das pessoas lesadas são clientes conservadores, assim classificados pelo próprio banco, pelo que nunca deviam ter tido acesso a este tipo de produtos”, sustentou.

Admitindo desconhecer “se eles tinham noção do que estavam a vender” aos clientes, José Nunes diz que o objectivo das queixas-crime é, precisamente, que “que a justiça o averigúe”.

“Eu conhecia o meu gestor há 14 anos, assinava de cruz, foi feito tudo pelo telefone porque havia uma confiança que, hoje em dia, sabemos que não pode haver”, disse.

De acordo com o cliente, quando confrontados com a presença da PSP – previamente chamada aos balcões pelos lesados – os agora funcionários do Novo Banco têm reagido “com alguma normalidade”, mas “talvez também alguma preocupação”.

“Participaram num acto fraudulento. Eu, se estivesse no lugar deles, estava preocupado”, afirmou José Nunes.

Assegurando que os clientes lesados irão “pedir responsabilidades em todos os sítios possíveis” e, “até reaverem o dinheiro, não vão parar de forma nenhuma”, o cliente disse estarem marcadas para hoje a nível nacional iniciativas semelhantes de identificação de funcionários do Novo Banco e destacou a “grande manifestação” de protesto agendada para sexta-feira em Lisboa.

“Amanhã [sexta-feira] há uma grande manifestação em Lisboa, com uma visita à residência oficial do primeiro-ministro, que terá que começar a ser chamado à coacção porque o Governo tem responsabilidades e tem que vir dar uma palavra às pessoas”, sustentou.

Segundo José Nunes, “em ‘off’ [informalmente] são apresentadas muitas propostas e certezas” aos clientes, “que depois não vêm a ser concretizadas”, mas o facto é que os lesados investiram no que lhes foi apresentado como sendo “um produto com capital e juro garantido e sem as taxas [de juro] exorbitantes que agora são faladas”.

“As taxas pagas eram ao nível dos depósitos a prazo normais existentes na altura e sempre nos foi vincado que era capital e juro garantido. Daí as pessoas terem aplicado as suas poupanças neste produto”, disse, salientando que “sempre foi tudo baseado numa coisa que é fundamental no sistema bancário, que é a confiança”.

A 03 de Agosto de 2014, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado banco mau (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os activos e passivos tóxicos do BES, assim como os accionistas) e o banco de transição que foi designado Novo Banco.

Lusa