Agentes da polícia japonesa estão a aprender a língua portuguesa para enfrentar a criminalidade dos brasileiros no Japão, divulgou a BBC Brasil.
Termos da “gíria” brasileira, como “treta” (confusão, briga, mentira), “bagulho” (coisa de baixa qualidade, um objecto qualquer, marijuana), “mano” (amigos), e outras expressões são ensinadas aos agentes da polícia, noticiou a BBC Brasil.
"Durante dois anos, de segunda a sexta-feira, os agentes aprendem o nosso idioma, inclusive gírias e termos técnicos jurídicos", disse o professor Miguel Kamiunten, que dá aulas a polícias japoneses.
"O objectivo é facilitar o trabalho comunitário em regiões com grande concentração de brasileiros, como passar informações, desenvolver acções de prevenção e dar orientações aos brasileiros", referiu.
Kamiunten, que é brasileiro, também disse que as aulas foram criadas por causa do alto índice de criminalidade entre os brasileiros que vivem no Japão.
Até agora, cerca de 200 polícias já se formaram neste curso.
"Uma preocupação é não ensinar 100% a gramática, mas habilitar os polícias a comunicarem com os brasileiros, principalmente com os jovens", afirmou o professor.
Segundo dados da Agência Nacional de Polícia, os brasileiros foram responsáveis por 1.619 crimes cometidos em 2014, 806 casos a menos do que em 2013. O crime mais cometido por brasileiros no Japão é assalto a veículos, com 686 casos em 2014.
As autoridades acreditam que esta diminuição esteja relacionada com a redução do número de brasileiros no país. Mais de 150 mil “decasséguis” (aqueles que saem da sua terra para trabalhar noutro lugar) regressaram ao Brasil desde a crise financeira de 2008.
Por mais de uma década, os brasileiros ocuparam o segundo lugar na lista de crimes cometidos por estrangeiros no Japão, atrás apenas dos chineses, mas desde o ano passado, os vietnamitas passaram os brasileiros.
A maioria dos presos no país, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, é formada por jovens envolvidos em furtos e roubos de pequeno valor, além de tráfico e consumo de drogas.
"Pela grande quantidade de jovens presos, podemos dizer que a questão da educação é um dos pontos cruciais no caso do Japão", afirma Kamiunten, que também é activista e membro do Conselho de Cidadãos do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio.
Para o professor, há uma falha no processo educacional que nem os governos brasileiro e japonês, nem as famílias, estão a conseguir superar.
Segundo um relatório do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o número total de brasileiros presos no exterior é de 2.787.
Os Estados Unidos lideram, com 407 presos, seguidos do Japão, com 397, o que representa 97% do total de presos brasileiros na Ásia.
Lusa