O Real Madrid é grande, enorme, colossal. Ao todo, dez títulos de campeão europeu. Dez, precisamente o número em causa neste dia em que o presidente Florentino Pérez despede o nono treinador e prepara-se para anunciar o 10.º (será Rafa Benítez, do Nápoles, mas só depois do final da época em Itália).
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A lista de Pérez inclui dois portugueses, por supuesto. Ei-la, por ordem cronológica: Del Bosque, Queiroz, Antonio Camacho, García-Remón, Luxemburgo, López Caro, Pellegrini, Mourinho e Ancelotti.
Carlo Ancelotti sai então. "É com muita pena que tomámos essa decisão mas precisamos de um novo impulso para a próxima época com o objectivo de ganhar os títulos mais importantes", argumenta Pérez. "Falei com ele e entendemo-nos bem, porque ele é um cavalheiro."
O italiano chega em 2013 e ganha a Liga dos Campeões no ano seguinte. Em 2014-15, perde a Supertaça espanhola para o Atlético Madrid mas ganha a Supertaça europeia vs. Sevilha. Perde o campeonato (para o Barcelona) e ainda a Taça do Rei mas é campeão mundial. O último deslize é a eliminação nas meias-finais da Liga dos Campeões, aos pés da Juventus, em pleno Santiago Bernabéu.
Disso se aproveita para Pérez fazer aquilo que nos habituou ao longo dos tempos, dividido em dois mandatos. A verdade é que Pérez não vai à bola com Ancelotti há muito muito tempo. O italiano já é um nome questionado na época passada.
Faz então uma sondagem aos jogadores para sentir o pulso da equipa. Ronaldo é taxativo: “Presi, eu mato por Ancelotti. Nunca encontrei um treinador como ele, quero que continue connosco.” Sergio Ramos, Pepe, Di María e Benzema afinam pelo mesmo diapasão. “Não toque no treinador, presidente”.
O Madrid ganha 4-0 em Munique e está na primeira final da Liga dos Campeões desde 2002. “O mérito é do treinador”, desabafa Casillas aos jornalistas. Pérez concordará? Aproxima-se a final da Luz. Godín assusta, Ramos empata. O resto já se sabe com Bale, Marcelo e Ronaldo.
Quatro-um no prolongamento. A festa é evidente, entre todos. Menos um. Pérez é o único sem um discurso condizente com a conquista. Na zona mista, há quem lhe pergunte sobre o feito de Ancelotti em ganhar a terceira Taça dos Campeões e igualar o recorde de Bob Paisley.
“E então, Casillas também tem três.” Quê? Mais à frente, Pérez é solicitado para entrar em directo num programa de rádio espanhol, El Larguero. Durante sete minutos, Pérez fala pelos cotovelos de Ronaldo, Di María, Bale, Ramos mas nem uma palavra sobre Ancelotti. Quê? Na festa do título europeu em Madrid, o italiano é uma das figuras. Os adeptos entoam o seu nome e pedem-lhe para ficar. “Como no te voy a querer…” Na Cibeles e depois no Bernabéu. Sempre em festa. E agora Pérez?
O presidente é um homem com muito muito muito dinheiro mas tem um feitio muito muito muito muito difícil.
Em 2003, depois de se sagrar bicampeão europeu em 2000 e 2002, despacha treinador (Del Bosque; para dar entrada a Queiroz), capitão (Hierro) e mais três jogadores (Morientes, McManaman e Makelele, este porque “a sua técnica é limitada, falta-lhe velocidade para ultrapassar adversários e 90% da sua distribuição de jogo é para o lado ou para trás”).
Daí até Fevereiro de 2006, não ganha mais nenhum troféu de relevo e demite-se do cargo.
Voltaria três anos depois, em Junho de 2009. Contrata Mourinho, de quem ainda se diz adepto (“é o melhor treinador do mundo”), e, com a ajuda deste, encosta Casillas.
O afastamento do capitão mantém-se com Ancelotti, que dá a volta ao texto com Iker a titular na Taça do Rei e na Liga dos Campeões, os “únicos” troféus do Madrid em 2013-14. Um ano depois, Ancelotti é despedido por Pérez. Contra tudo e contra todos. O balneário do Real quer o italiano por mais um ano, o presi não concorda. Até Ronaldo escreve no Instagram: "Quero trabalhar mais um ano com Ancelotti."
Não, nada feito. Ancelotti vai meter um ano sabático. Quando é que Pérez o imita?
