Cerca de 400 refugiados da Birmânia foram ontem resgatados por pescadores no estreito de Malaca, na costa da província indonésia de Aceh, depois de o pequeno bote em que viajavam há vários dias ter sido recusado “várias vezes” pelas autoridades costeiras da Malásia e da Tailândia. A notícia surgiu ontem de manhã, pouco antes de dois países da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) terem aceitado acolher “temporariamente”_parte dos bangladeshianos e dos milhares de muçulmanos Rohingya, vítimas há várias décadas de uma repressão brutal pela Birmânia em escalada.
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“Vamos continuar a dar assistência humanitária aos 7 mil migrantes em situação irregular que ainda estão no mar [de Andamão]”, referiram os governos da Malásia e da Indonésia num comunicado conjunto após uma reunião de emergência da ASEAN. A esse grupo será dado “abrigo temporário”, na condição de “a comunidade internacional tratar do seu realojamento ou repatriação no prazo máximo de um ano”. Ficou por esclarecer o que será feito depois disso se os processos não transitarem em tempo útil, bem como em que locais esses migrantes serão acolhidos depois de semanas à deriva sem água nem comida. A pequena parte dos que conseguem alcançar a costa de um dos países vizinhos da Birmânia tem denunciado abusos e violações dos direitos humanos nos centros de acolhimento onde ficam antes de serem expulsos.
À imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Malásia, Anifah Aman, sublinhou que “o que ficou dito claramente é que vamos resgatar apenas as pessoas que estão em alto mar”, actualmente a rondar as 7 mil, mas que “em nenhuma circunstância devem esperar de nós o acolhimento de todas elas se houver mais influxo”. A_Tailândia, um dos principais países cuja costa estes refugiados têm tentado alcançar, não embalou nesse programa temporário (ver secundário), remetendo a sua participação ou não no acolhimento de refugiados para 29 de Maio, o dia em que a ASEAN_vai reunir-se para encontrar soluções de longo prazo que dêem resposta à crise humanitária e substituam este plano temporário.
Horas antes da reunião entre os representantes dos dez membros plenos da ASEAN, à hora a que centenas de Rohingya e bangladeshianos chegavam a Aceh, uma conselheira do vice-presidente indonésio, Jusuf Kalla, disse que o mais importante agora é “encontrar formas de os realojar o mais depressa possível”. “Se os migrantes começarem a ver na Indonésia um ponto de trânsito ou que têm no país mais hipóteses de se restabelecer”, declarou Dewi Fortuna Anwar aos jornalistas em Jacarta, “isso vai criar outro problema que temos de prevenir.” Na mesma conferência de imprensa, Anwar disse que a “principal responsabilidade” por esta vaga de pessoas em fuga é da Birmânia. O_país deve acabar com a discriminação dos muçulmanos Rohingya e só isso vai pôr fim ao padrão migratório registado na baía de Bengali, no mar de Andamão e no estreito de Malaca, referiu.
Desde as eleições de Abril de 2012, quando o partido da líder da oposição e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi chegou ao poder, algumas leis anti-Rohingya foram emendadas e milhares de prisioneiros políticos foram libertados. Mas os conflitos entre budistas arakaneses e os muçulmanos dessa minoria há muito perseguidos, sem direito a documento de identidade nem entrada no mercado laboral, levaram as forças do anterior regime militar e o partido que as apoia (que actualmente detém a câmara baixa do parlamento birmanês) a fazer ressurgir a violência e a perseguição de Rohingya.