Vitória de Setúbal, cinco vezes. Académica, quatro._Sporting, três. Eis o top 3 dos cabeçudos-mor do Benfica._Em 33 títulos de campeão nacional, nunca o Vitória de Guimarães se presta a esse serviço. Ao 34.º, é de vez e o D._Afonso Henriques passa a constar do roteiro especial, iniciado em 1936 no Bessa, com um 2-2.
Em Guimarães, basta o 0-0 para soltar o grito de campeão, bicampeão ou 34. Tanto faz, tudo vai dar ao mesmo. Estamos a falar do Marquês de Pombal e não só. A festa alarga-se a todo o país, como sempre. E desta vez, só desta vez, o 0-0 aliado ao 1-1 do Porto no Restelo provoca uma euforia desmedida, à 33.ª jornada, a penúltima da liga.
Zero-zero, quem diria? É tão-só o quarto 0-0 fora na era Jesus. Primeiro em Alvalade-2009. Depois Coimbra-2012, Olhão-2012 e agora Guimarães-2015. É pouco, pouquíssimo, e diz bem do querer em marcar a toda a hora. No_D. Afonso Henriques, onde Jesus perdera há um ano as estribeiras (e o relógio), mora o novo campeão.
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E se o zero à esquerda do Vitória não se mexe por nada deste mundo, o zero à direita do Benfica poderia ter desaparecido do mapa logo aos dois minutos, quando Jonas cabeceia à trave e a recarga de Pizzi encontra o corpo de João Afonso.
Ou então aos quatro, na sequência de um passe a rasgar de Jonas para Lima com este a deitar Douglas com uma belíssima simulação antes de fazer um chapéu de aba larga. Larga demais até – a bola sai por cima. Ouve-se um uiiiiiiii.
O Vitória não sabe defender-se e está desorientado. Disso se aproveita o Benfica para atacar até mais não. Aos 10’, Maxi cruza e Jonas acerta em Josué._Aos 14’,_Salvio dribla um, dribla dois e Lima atira para o golo. Será? Nããão, a bola bate em Douglas e depois caprichosamente no poste antes de sair pela linha final. Assim de repente, em 15 minutos, o Benfica tem quatro lances de perigo evidente.
E lá atrás? Júlio_César é mais um espectador e só sai da sua área aos 30’ para enxotar com o pé direito um cruzamento de Valente. O Benfica reage com galhardia, novamente por Maxi. Moreno falha o corte, o lateral avança e serve Lima que assiste Jonas de pronto. Com à baliza à sua mercê, o avançado atira ao lado. Incrível._Como também é incrível o 0-0 aos 45’ – no Restelo, por esta altura, 1-0 de Jackson. Tudo adiado para a segunda parte.
Ao intervalo, a palestra de Jesus é tão longa que o jogo em Guimarães começa cinco minutos mais tarde que o do Restelo. O Benfica entra mais recuado, o Vitória mais incisivo e a baliza de Júlio César vê-se ameaçada duas vezes, por Valente (51’, por cima) e André André (52’, para fora).
Prepare-se, a partir daqui, o jogo cai no ram-ram. Parece o clássico com o FC Porto (olha, outro 0-0), não ata nem desata. É o hino ao sono, ao bocejo. Nem vale a pena desviar o olhar para a televisão. Simplesmente não se joga futebol._Uns chutos para ali, outros para acolá, sem dedicação nem devoção. A bola queima._E o relvado também. Quando Tiago Caeiro empata para o Belenenses, aos 84 minutos (79 em Guimarães), aparecem foguetes no relvado do D. Afonso Henriques. Ahhh, o vermelho em acção.
O árbitro Artur Soares Dias é obrigado a parar o jogo e só o reata uns três, quatro minutos depois. Será um mero pró-forma. Confirma-se a paragem do Porto nas boxes e o Benfica já não precisa de ganhar. Nem de acelerar. Joga-se aos trambolhões até ao fim. Soa o apito e é uma algazarra sem fim à vista – nem hoje nem amanhã, isto vai durar muitos mais dias. Os adeptos continuam no estádio e os jogadores vestem as camisolas alusivas ao 34.º título. Uma das imagens curiosas tem a ver com a reunião do tridente Maxi, Jonas e Gaitán. Um uruguaio, um brasileiro e um argentino… Parece o Barça com_Suárez, Neymar e Messi. Salvas as devidas distâncias, claro. Ou não. Afinal, quer o Benfica, quer o Barça sagram-se campeões no mesmo dia, a uma distância de 548 km.
Por falar nisso, qual é agora a distância entre os dois maiores de Portugal? Nula. Tanto Benfica como Porto somam 74 títulos. Um tira-teimas cujo próximo capítulo está agendado para o dia 28, por ocasião da Taça da Liga entre Benfica e Marítimo. Por enquanto, está 74-74. Ou, se só contabilizarmos o campeonato, 34-27.