Guerra de mensagens escritas. Whatsapp ultrapassa pela primeira vez os SMS

Guerra de mensagens escritas. Whatsapp ultrapassa pela primeira vez os SMS


Quando o iphone de Patrícia Sousa toca, o difícil não é encontrá-lo na carteira, a habilidade está em identificar o som. Além do serviço de SMS que vem com todos os telemóveis desde os primórdios das telecomunicações, Patrícia tem instalado o Viber, o WhatsApp, o FaceTime, o Messenger, o chat do gmail e o Skype. 


A probabilidade pende para o WhatsApp, a aplicação que mais usa, na qual tem mais de 50 contactos. A trabalhar na área de comunicação, acaba por utilizá-la tanto por motivos profissionais como para falar com os amigos. “É mais prático escrever que falar ao telefone”, garante. Mas também há solução para quando a mensagem é demasiado comprida para ser enviada em texto: as mensagens áudio que o WhatsApp permite enviar.

Com mais ou menos possibilidades ou diferenças entre elas, as aplicações de chat continuam a ser as mais bem sucedidas de todas as que estão disponíveis para smartphones. Existem 3 mil milhões de contas associadas a este tipo de serviço, com o WhastApp a liderar a troca de mensagens entre os seus 700 milhões de utilizadores. Com apenas cinco anos no mercado, a aplicação norte-americana fez frente aos gigantes asiáticos e cresceu, em 2012, de 2 mil milhões de mensagens por dia para 10 mil milhões em Agosto do mesmo ano.

Na altura o “Financial Times” escreveu: “O WhatsApp está a fazer aos SMS dos telemóveis o mesmo que o Skype fez às chamadas internacionais de telefones fixos.” Tendo em conta a baixa percentagem de pessoas que ainda dão preferência ao telefone sobre o Skype, é fácil prever o futuro dos SMS. Os 30 mil milhões de mensagens WhatsApp ultrapassam os 20 mil milhões de mensagens escritas que se sabe terem sido trocadas diariamente em 2014.

As razões que levaram a que esta aplicação específica tenha vingado num mundo tecnológico em evolução não são fáceis de pôr numa lista, mas a entrada do Facebook no cenário terá sido certamente um grande impulso. No final de 2014, a rede social terminou a compra da aplicação de chat, numa transacção que chegou aos 17,4 mil milhões de euros.

O sucesso nem sempre segue caminhos lógicos, lembra Carlos Coelho, mas garante que grande parte do trabalho está na mente do utilizador. “Não temos espaço para todas as marcas que vão aparecendo no mercado e vamos encaixando essas ideias em gavetas”, explica o especialista em estratégias de marketing, fazendo referência à “gaveta de desactualização” onde os SMS foram guardados.

Para Carlos Coelho não há truques. Num mercado de grande concorrência como o das tecnologias só vingam as marcas capazes de entender estas limitações humanas e que consigam manter a notoriedade no auge. Mas lembra que “o mundo virtual é ainda mais mortal que o físico”, elevando essa “taxa de mortalidade” para os 99,9%. “Morre quase tudo e o que não morre é morto.”

Para provar a sua teoria recorre a uma palestra a que assistiu o ano passado e onde os oradores reforçavam a ideia de que as grandes empresas, como o Facebook ou a Google, estavam a impedir o desenvolvimento tecnológico porque compravam tudo o que viam nascer com potencial. “Esta é a prova de que nem sempre as razões de sucesso de um produto são fáceis de explicar”, garante.

Evolução da linguagem Com aplicações em todas as frentes de batalha, a guerra tecnológica está longe de acabar. O Facebook, além de ter comprado a WhatsApp, está a preparar a evolução do seu chat, o messenger. Dentro de pouco tempo vai ser possível usá-lo como forma de pagamento, com a transacção de dinheiro entre utilizadores. Além disso, está nos planos do gigante das redes sociais a passagem do messenger a “plataforma”, o que permite que outras marcas desenvolvam software para aplicar aí.

Perante esta evolução quase sem limites, Carlos Coelho resume: “Estamos mais disponíveis para partilhar coisas que não a nossa voz ao telefone”, e lembra que “por escrito se dizem coisas que não se dizem a falar”. O especialista em gestão de marcas refere-se ainda à escrita como um factor de desinibição.

Carlos Coelho não tem dificuldade em prever o futuro: “As linguagens vão ser mais poéticas”, e por poético entenda-se dar uma nova dimensão à linguagem, com a partilha de imagens, vídeos e até temperaturas e cheiros, “se para isso forem inventados algoritmos”. Se pensarmos que o envio de um pequeno texto escrito era o auge da tecnologia há 20 anos – em Portugal, o serviço de SMS foi lançado em 1995 –, não é difícil imaginar que a próxima vez que o telemóvel toque a mensagem seja em forma de perfume.