Toy Stories. Volta ao mundo dos brinquedos em 58 países


Não é o filme da Pixar com Buzz e Woody, mas o projecto fotográfico de Gabriele Galimberti. Toy Stories mostra os brinquedos de miúdos dos 3 aos 6 anos. Vanda Marques falou com o fotógrafo que editou agora o livro com as imagens Em Kalulushi, na Zâmbia, não há lojas nem restaurantes e muito menos…


Não é o filme da Pixar com Buzz e Woody, mas o projecto fotográfico de Gabriele Galimberti. Toy Stories mostra os brinquedos de miúdos dos 3 aos 6 anos. Vanda Marques falou com o fotógrafo que editou agora o livro com as imagens

Em Kalulushi, na Zâmbia, não há lojas nem restaurantes e muito menos um Toy”r”us. Brinca-se na rua, anda-se descalço e os brinquedos podem ser as coisas mais inesperadas, como uma colecção de coloridos pares de óculos de sol. Maudy, de três anos, diverte- -se com dúzias deles e mostra orgulhosa o seu tesouro para a câmara de Gabriele Galimberti. “Nesta pequena aldeia é quase impossível ter um brinquedo, os miúdos brincam com o que apanham. Quando conheci a Maudy, ela tinha uma caixa cheia de óculos de sol que encontrou na beira da estrada – deve ter caído de um camião – e todos os miúdos brincavam com eles”, explica o fotógrafo italiano que viajou durante dois anos por 58 países para criar Toy Stories.

A história de Maudy foi uma das mais marcantes, mas Gabriele também não esqueceu Taha, o miúdo palestiniano que vivia em Beirute, no Líbano. “Taha e a família eram refugiados, e quando lá fui fotografá-lo ele não quis. Chorava muito e ainda mais quando agarrava no carro dele (o seu único brinquedo) para organizar a fotografia. Depois de 15 minutos a tentar, desisti. Sentia-me mal com a situação”, recorda por email. Foi a mãe da criança que fez a fotografia acontecer. “Ela não me deixou ir embora e disse: “Tem de ter um rapaz palestiniano no seu projecto. Fotografe o meu filho.”” E assim foi. Durante duas horas a mãe de Taha tentou convencê-lo e o miúdo lá parou de chorar por três minutos. O suficiente para conseguir a imagem.

Bingo Bongo Mostrar as diferenças dos quatro cantos do mundo em miúdos entre os três e os seis anos, é este o projecto agora reunido em livro, “Toy Stories”. Porquê esta faixa etária? Simples: “Com esta idade a única coisa que eles fazem é brincar. Não têm de ir à escola, de estudar, não têm compromissos, passam 100% do tempo a brincar.” Há crianças que adoram violas e tambores, outras são fanáticas pelo Homem-Aranha, por baseball, animais de peluche, piratas. No Malawi, o fotógrafo encontrou um miúdo que adorava o seu dinossauro porque achava que ele o ia proteger dos animais ferozes. Do Texas à Suécia, da China a Marrocos, um retrato do mundo. Onde uns têm brinquedos às toneladas e outros apenas um. “Os que eram mais apegados eram os mais ricos”, conta Galimberti.

A ideia do projecto surgiu graças a um pedido de um amigo. Há quatro anos foi fotografar a filha dele, Alessia, na Toscana. Como a criança vivia numa quinta, os brinquedos dela eram as vacas. Ela costumava fazer de conta que as alimentava com os seus bonecos e foi isso que Gabriele fotografou. “Pedi-lhe que pusesse todos os seus brinquedos à volta e que posasse ao lado das vacas. Gostei muito do resultado.” Pouco depois, Gabriele Galimberti foi fazer uma reportagem para a revista italiana “D – La Repubblica” sobre couchsurfing e a volta ao mundo que deu foi a melhor forma de conhecer todas estas crianças.

Na maior parte dos casos foi fácil convencer os miúdos, bastava brincar com eles. Mas Gabrieli também tem truques: “Tinha sempre no meu telefone as imagens que tinha feito dos outros miúdos, por isso mostrava-lhes e eles ficavam convencidos.” Num continente diferente do de Taha ou Maudy, encontramos Abel Sientes, de quatro anos, com uma história com poucas semelhanças. Na pequena aldeia de Nopaltepec, a 500 km da Cidade do México, a família de Abel vive da agricultura. Não é por isso de estranhar que os seus brinquedos preferidos estejam relacionados com isso. “Ele brincava sempre na rua, e adorava a sua colecção de tractores. Por isso costumava fazer de conta que cultivava tomate.” Num universo oposto está Sofia Iris Shonfeld, de quatro anos, de Bradfort, no Reino Unido, que adora vestir- -se de fada e rodear-se de Barbies e bebés. Mas, passando a bola para o lado de Gabriele, se tivesse sido ele o fotografado em criança como seria? “Com o meu boneco preferido, um peluche, um pequeno macaco chamado Bingo Bongo.”

Nascido em 1977 em Arezzo, Itália, estudou Fotografia na Fondazione Studio Marangoni e dirigiu um laboratório profissional de fotografia e uma galeria em Florença. Além de trabalhos comerciais, gosta sobretudo de fotografia de viagem e documental. Com três livros publicados, “Florence versus The World” e “Switzerland versus The World”, a que se junta “Toy Stories”, o seu trabalho tem um lado conceptual muito marcado. Uma arrumação de objectos e pessoas que ordena o mundo. “Sempre gostei de fotografar. Tiro fotografias dos meus amigos desde os 12 anos, e nunca mais parei.”