As bactérias resistentes que continuam


O Serviço Nacional de Saúde foi uma extraordinária conquista e, dos anos 80 para cá teve, nos grandes centros urbanos, uma enorme melhoria. É praticamente impossível comparar o que era a rede pública de saúde nos anos 80 com a que existe agora – pelo menos nos centros urbanos.


É por isso extraordinariamente lamentável que um dos responsáveis nacionais pela prevenção das infeções hospitalares considere que uma cortina é suficiente para manter as condições adequadas ao isolamento de doentes afectados com bactérias multirresistente.

O relatório – que tinha como objetivo falhado o desmentido da manchete do i de segunda-feira – foi imediatamente criticado pelo bastonário da Ordem dos Médicos. “É um remendo, mas não digam que é isolamento”, disse José Manuel Silva, fazendo aquilo que lhe cabe, defender a saúde em vez da sua própria corporação.

Nesta edição do i, o redator do relatório da Direcção-Geral de Saúde vem admitir também que “não é uma boa prática” a ausência de uma cama de intervalo entre um doente infetado por uma bactéria multirresistente e outro doente. É um avanço, depois do relatório que não desmentia na realidade a situação relatada pelo i. Mas de facto a situação aqui mais estranha é a posição do diretor do Programa de Controlo de Infeção e de Resistências aos Antimicrobianos, Paulo André Fernandes.

Basicamente, o responsável diz que não há nada a fazer. São as condições que temos. Não há camas que cheguem. É a vida. Temos que aguentar. Pelos vistos, teremos que conviver com uma situação em que estaremos todos em risco de entrar num hospital doentes e ficar ainda piores. Portugal tem uma das taxas de infeções hospitalares mais altas do mundo.

Se quem tem que as gerir tem este tipo de posições agrava ainda mais o risco a que todos estamos sujeitos. De resto, a notícia do i permitiu saber o que se passa no Hospital Garcia de Orta. O que não sabemos sobre os outros hospitais não deixa ninguém sossegado.