Se Espanha fosse para novas eleições, provavelmente o resultado seria idêntico. Embora Espanha comece a parecer-se com a Bélgica – alegadamente, como os belgas, os espanhóis, como se está a ver, não precisam assim tanto de um governo legítimo, uma vez que a regionalização trata de tudo – a verdade é que, com a impossibilidade recorrente de acordos à sua esquerda, o PSOE arriscava muito mais em continuar a inviabilizar um novo governo Rajoy do que a engolir um sapo e permitir a investidura.
Não restava nada a Sánchez senão demitir-se. Não restava nada ao PSOE senão fazer o que está a fazer: infelizmente, a alternativa corria o risco de diminuir ainda mais as hipóteses eleitorais do partido, que estão nos 20%. Vale a pena reflectir no que teria acontecido ao PS se não tivesse acontecido o milagre do acordo de esquerda, na altura criticado dentro do partido, embora por uma minoria bastante curta.
Passado um ano, é possível concluir que a vitória de Passos Coelho explica-se não só pelo desastre que foi a campanha de Costa – é preciso lembrar que o PS na estrada não parecia oferecer nenhuma alternativa consistente, tal como todos os seus amigos socialistas europeus – mas também pelo medo instalado sobre o que viria com uma governação PS. Os resultados da execução orçamental provam que o PS mantém-se um aluno aplicado da Europa – aqui e ali com momentos irrequietos.
Hoje, nas sondagens o PS de Costa tem 36%. Não é maioria absoluta, mas o tempo das maiorias absolutas para os socialistas acabou. Estar a 4 pontos do PSD é em si uma vitória. Refazer o socialismo que se tornou sósia da direita através dos consensos europeus vai demorar mito tempo. Costa teve muita sorte e o talento e sedução que faltaram a Sánchez.