Viagens. 10 Fest: os petiscos dos Açores revelados ao mundo


Durante dez dias, Ponta Delgada foi a grande montra dos bons produtos açorianos, com chefes de cozinha a interpretá-los à sua maneira. António Mendes Nunes esteve lá e pôde perceber como de ano para ano a orquestra da Escola de Formação Turística e Hoteleira dos Açores toca mais afinada. Este ano até se deram ao…


Durante dez dias, Ponta Delgada foi a grande montra dos bons produtos açorianos, com chefes de cozinha a interpretá-los à sua maneira. António Mendes Nunes esteve lá e pôde perceber como de ano para ano a orquestra da Escola de Formação Turística e Hoteleira dos Açores toca mais afinada. Este ano até se deram ao luxo de preparar um jantar integralmente açoriano, incluindo vinhos, café e charutos. Tudo de alta qualidade, obviamente

Há três anos a Escola de Formação Turística e Hoteleira dos Açores (EFTH) comemorou dez anos de existência com um festival de gastronomia a que chamou 10 Fest – dez dias, dez chefes. Foi um sucesso. Filipe Rocha o jovem e dinâmico director executivo da EFTH, resolveu repetir o festival o ano passado com entusiasmo crescente. Este ano teve lugar a terceira edição do que já é um acontecimento não só em S. Miguel como em todo o arquipélago, com o alto mérito de divulgar o bom trabalho que se faz na escola e os excelentes produtos açorianos um pouco por todo o mundo da alta cozinha, na Europa, na América e na Ásia, já que ainda não houve oportunidade de convidar nenhum chefe de África. “Convidar é o termo exacto, já que o 10 Fest é uma festa e para uma festa convidamos os nossos amigos”, disse-nos Filipe Rocha, acrescentando que com o passar das edições esta festa é também uma festa dos amigos dos amigos. Mas como é que tudo começou?

“Primeiro participaram as pessoas directamente ligadas à escola, quer da própria EFTH, quer de outros centros de ensino com que mantemos protocolos, quer do Continente quer de outros países da Europa ou dos Estados Unidos, e ainda através de antigos alunos que agora estão a trabalhar um pouco por todo o lado. Depois esses nossos amigos convidaram outros amigos e a rede vai-se alargando, na exacta dimensão em que o universo da escola também se expande. E é este espírito que marca de modo diferente este festival. Na colaboração entre os vários chefes, na ligação destes com os professores e os alunos, quer na cozinha, quer na sala e no bar.”

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Um dos pontos importantes é a utilização preferencial de produtos açorianos e não há outra região portuguesa que se possa orgulhar de servir um jantar de A a Z exclusivamente com produtos locais de primeiríssima qualidade, começando nos peixes, passando pela carne e pelos legumes, sem esquecer os doces e os vinhos (brancos de mesa e generosos) e a terminar com chá… ou café, sem esquecer um bom charuto final. De tudo existe nos Açores.

Ficou espantado com o café? É verdade, na ilha de S. Jorge, na Fajã dos Vimes (costa sul), o dono de um café local, Manuel Nunes, tem uma plantação de café nas traseiras da casa. Não é coisa recente, já que os pés do arábica vieram do Brasil trazidos talvez pelo seu bisavô, ainda no século xix. Mais recentemente, a família Nunes começou a dar–lhe outra importância, aperfeiçoou os tratamentos e o cultivo e produz entre 50 e 100 quilos de um interessantíssimo café, muito aromático e com boa acidez. Foi esse o café bebido no 10 Fest.

E, claro, quem não conhece os charutos da Fábrica Estrela, Beldinas para quem tem mais tempo ou um Meia Coroa, o tamanhinho ideal para um fim de jantar e só dois dedos de conversa, acompanhado com uma velhinha aguardente de figo do Pico? Pois de tudo isso houve no 10 Fest.

De 19 a 28 de Junho, o espanhol Fernando Agrasar (Restaurante Las Garzas, Galiza, com 1 estrela Michelin), Helena Loureiro, portuguesa radicada no Canadá (Restaurantes Helena & PortusCalle, Montreal), o inglês Adam Gray (Restaurante Skylon, Londres), o norte-americano Kevin Duffy, da Johnson & Wales University, Providence, o francês Rui Martins (Cuisin”Arts & Management, Paris), o dinamarquês David Fischer (Restaurante Hos Fischer, Copenhaga) e os portugueses Albano Lourenço (Quinta das Lágrimas Hotel, Coimbra), Paulo Matos (Hotel Aquapura Douro, Lamego), Ricardo Costa (The Yeatman Hotel com 1 Estrela Michelin), Porto e os chefes da EFTH Pedro Oliveira e Sandro Meireles levantaram-se cedinho e foram ao mercado de Ponta Delgada à descoberta dos melhores produtos açorianos.

Para alguns foram momentos de descoberta dos fantásticos peixes do mar dos Açores, dos mariscos, da tenra vitela das pastagens micaelenses, de legumes e ervas para alguns completamente desconhecidos. No belo espaço do Restaurante/Lounge Anfiteatro – a unidade de aplicação da Escola -, nas Portas do Mar, em Ponta Delgada, em todos os dias a lotação esteve esgotada.

Aos comandos da padaria, o chefe norte-americano Mitch Stamm, da Johnson & Wales University, em Providence, a maior universidade do mundo dedicada aos segredos da arte de bem comer.

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Mas não se pense que os sete chefes convidados vieram de cátedra apresentar os seus pratos. Houve uma intensa colaboração/cooperação com os alunos e cada jantar acabou por se transformar numa intensa aula prática, quer para os jovens da cozinha, quer para os da sala, muitos deles a viverem grandes momentos profissionais nas suas vidas, pela primeira vez. Foi uma bela festa, em que os vinhos dos Açores também brilharam.

As harmonizações com os vinhos tiveram a participação do master somellier João Pires e do somellier Bruno Antunes e a chefia do bar esteve a cargo do simpatiquíssimo João Couto, ele próprio formador na escola.

Na maior parte dos dias os vinhos foram de produtores do Continente, mas no dia dos chefes foram integralmente servidos vinhos dos Açores. Não nos alongaremos nas combinações, porque na próxima semana voltaremos aos Açores, para contar a experiência vivida com os vinhos da ilha do Pico.