Rapto de bebé. Suspeita fica em prisão preventiva em Santa Cruz do Bispo

Rapto de bebé. Suspeita fica em prisão preventiva em Santa Cruz do Bispo


Mulher terá levado a cabo o rapto numa tentativa para salvar o “casamento” com o companheiro


Uma tentativa de salvar o “casamento” com o companheiro terá motivado Laura Silva a raptar um bebé, para “preencher” a casa onde ambos viviam, em Vila Nova de Gaia, isto segundo apuraram até agora as investigações policiais ao caso do rapto frustrado de uma recém-nascida no princípio da noite deste sábado, no Hospital de São João, no Porto.

As intenções de Laura Silva só não se concretizaram porque na altura surgiu o pai da criança. A falsa médica, envergando uma farda azul descartável e com um estetoscópio ao peito, tentava ludibriar a avó paterna, ao dizer que iria levar a bebé, nascida na passada quinta-feira, para exames complementares. As desconfianças do pai e as sucessivas perguntas respondidas com evasivas, levaram a presumível raptora a deixar a enfermaria sozinha e em passo largo, antes de ser apanhada no quinto piso do Hospital de São João.

Laura Silva ficou desde o meio da tarde de ontem já em prisão preventiva, por decisão do juiz de instrução criminal Artur Guimarães, por proposta do procurador Manuel Melo, decisão tomada dado o alarme social causado pelo caso, principal razão em que se baseou a aplicação da mais grave de todas as medidas coativas.

Segundo apurou o i, a suspeita, que ontem seguiu numa carrinha celular da PSP do Porto para o Estabelecimento Prisional Feminino de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, será alvo de avaliação psiquiátrica, devido ao atual estado de desequilíbrio e discurso confuso que tem patenteado nos três dias que passaram desde a sua detenção pela PSP.

A arguida, de 48 anos, residente em Vila Nova de Gaia, não tem apresentado um raciocínio coerente, de acordo com aquilo que as autoridades policiais constataram, sendo a versão de salvar o “casamento” encarada como a mais plausível quanto à sua motivação.

Tal como o i adiantou, na sua edição impressa de ontem, é a Polícia Judiciária que está a tratar do caso, por ser crime cuja investigação criminal é da sua competência exclusiva, tendo, aliás, já realizado diversas diligências, nos últimos três dias, mesmo com a suspeita ainda sob custódia do Comando Metropolitano do Porto da PSP.

 

O filme dos acontecimentos Com a intervenção da diretoria do norte da Polícia Judiciária, foi possível fazer “o filme” dos acontecimentos e a respetiva “fita do tempo”, apurando-se que a suspeita já andava a “estudar” o sistema de segurança do Hospital de São João e as suas tibiezas, mas terá sido traída pelo desnorte que na própria tentativa de rapto evidenciou, ao não conseguir assumir a postura de uma médica, para além de andar com um casaco e uma mochila e de bata, o que não batia certo caso estivesse a trabalhar.

Apesar de ter uma farda plastificada azul e um estetoscópio, que se admite ter sido furtado no próprio Hospital de São João, o certo é que Laura Silva adotou sempre um comportamento demasiado humilde e até submisso. Além do mais, não é habitual ser uma médica a ir buscar uma criança, especialmente sozinha e na ausência da mãe da bebé, bem como ter denotado ainda um aspeto fragilizado e mostrar algumas hesitações sobre os propósitos para levar a menina consigo.

Por outro lado, para a determinação do pai da recém-nascida terá contribuído o facto de ao entrar na pequena enfermaria ter reconhecido Laura Silva,  não se recordando ainda onde já a teria visto anteriormente, mas tendo a certeza que não era médica, nem profissional de saúde em qualquer área, nem trabalhava no Hospital de São João, local, onde a poderá ter visto nos dias anteriores, por ser adquirido que a falsa médica terá cirandado naquele piso dias antes dos acontecimentos.

Não fosse o “amadorismo” da alegada raptora, demonstrado pelos factos referidos, e poderia ter sido outro o desfecho da tentativa de rapto, dadas também as falhas detetadas no esquema de segurança do Hospital de São João, que já desencadeou um processo de averiguações para apuramento das responsabilidades, visando ainda melhorar os procedimentos para que não se repitam casos idênticos.

Os familiares da mãe e da bebé ficaram apreensivos com o sucedido, exigindo que haja esclarecimento total das circunstâncias que permitiram a tentativa de rapto, mas não está confirmado ainda os propósitos iniciais de processar o hospital.

 

Tios da vítima são inspetores da PJ

A bebé vítima da tentativa de rapto, curiosamente, é sobrinha de um casal de inspetores da Polícia Judiciária do Porto, sendo a mãe da criança irmã de um inspetor que trabalha na secção de combate ao banditismo e cuja mulher, cunhada da parturiente, está colocada na investigação dos crimes de corrupção, após ter prestado serviço na Secção Regional de Investigação do Tráfico de Estupefacientes (SRITE) da Diretoria do Norte da PJ, tendo esta ido ao Hospital de São João, precisamente momentos após o seu cunhado ter levantado dúvidas sobre a “médica”.

A mãe da bebé, uma empregada num supermercado de 41 anos, que teve o parto por cesariana, recebeu alta médica logo no domingo, dia seguinte à tentativa de rapto, encontrando-se a recuperar em casa, na freguesia de Marecos, concelho de Penafiel, distrito do Porto.

O sistema de videovigilância do Hospital de São João, especialmente o da área do quinto piso, onde funciona o Serviço de Obstetrícia, já foi visionado pelos inspetores da PJ, em colaboração com agentes da PSP, da Divisão de Investigação Criminal do Porto e também da Esquadra do Campo Lindo, em Paranhos, da 3ª Divisão do Comando Policial do Porto.

 

Advogado não fala à imprensa

O advogado Miguel Conde, defensor da arguida, Laura Silva, não prestou qualquer tipo de declarações, nem à entrada, nem já à saída do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto, explicando que nunca o fará ao longo de todo o processo criminal, para o qual foi nomeado no sábado pela Ordem dos Advogados através do respetivo sistema informático.

Miguel Conde, licenciado pela Universidade Católica do Porto, é associado de uma das sociedades de advogados portuenses mais famosas, a Lopes Cardoso & Associados, um escritório onde pontificam, entre outros, Augusto Lopes Cardoso, o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, tendo durante todo o dia de ontem a colaboração informal de um colega.