“Post-it” amarelos causam polémica no parlamento


Ainda o plenário não tinha começado e os deputados tinham à sua espera um post-it amarelo em forma de balão, nas bancadas na Assembleia da República. Começaram as interrogações mas só na intervenção do deputado do PSD, Pedro Saraiva, se descobriu o propósito: o deputado social-democrata distribuiu 230 "post-it", um por deputado para anotarem uma…


Ainda o plenário não tinha começado e os deputados tinham à sua espera um post-it amarelo em forma de balão, nas bancadas na Assembleia da República. Começaram as interrogações mas só na intervenção do deputado do PSD, Pedro Saraiva, se descobriu o propósito: o deputado social-democrata distribuiu 230 "post-it", um por deputado para anotarem uma “sugestão, ideia ou iniciativa que queiram para reforçar a competitividade do país”.

Mas nem todos viram com bons olhos esta ideia. Nas bancadas da oposição houve quem lhe chamasse “palhaçada”, quem dissesse que era “lixo” e também quem afirmasse que era assim que a maioria fugia às críticas feitas hoje pelo Presidente da República, que afirmou que os cortes dos subsídios são uma “violação da equidade fiscal”.

Na sua intervenção, Pedro Saraiva invocou um poema de Fernando Pessoa, “O nevoeiro”, para dizer que “o país se encontra mergulhado num incrível nevoeiro que se foi acumulando em muitos anos”. E referiu a fábula de La Fontaine, “A Formiga e a Cigarra”, lembrando que Portugal tinha o “comportamento” da figura da cigarra. Ao mesmo tempo da sua intervenção, duas telas suspensas ladeavam o deputado, com imagens do poema de Fernando Pessoa e d’ “A Formiga e a Cigarra”.

Seguiu-se uma equação sobre o futuro: “Futuro = fazer bem x fazer melhor x fazer diferente”, podia ler-se nos ecrãs. “O futuro é nosso”, dizia o deputado. Após a equação foi então desvendado o mistério dos post-its amarelos. Uma imagem remetia para o dia 14 de Junho de 1969, dia da operação balão – neste dia os estudantes de Coimbra desceram à baixa com balões onde estavam inscritas “frases revolucionárias” que expressavam os motivos da luta dos estudantes e a sua ligação à população. “Convido a usar o pequeno balão, nele anotando uma sugestão, ideia ou iniciativa que queiram para reforçar a competitividade do país. Mais de 230 passos serão dados no longo caminho de sucesso a percorrer”, afirmou o deputado.

"O grupo parlamentar do PSD vai propor a criação de um grupo de trabalho na comissão de Economia e Obras Públicas com a missão de congregar as sugestões de todos os partidos e da sociedade em geral para apresentar um projecto de lei de bases da qualidade, inovação e empreendedorismo para Portugal", anunciou Pedro Saraiva.

O deputado terminou a intervenção novamente com “A Mensagem” de Fernando Pessoas, “É hora de cumprir Portugal” e com uma imagem do cabo que ficou conhecido como o Cabo da Boa Esperança. “É hora de construir a esperança que fica no outro lado das tormentas”, referiu Pedro Saraiva, terminando a sua intervenção e recebendo uma ovação de pé da bancada do PSD.

“Palhaçadas desprestigiantes para o parlamento”, acusou o deputado do PS, Sérgio Sousa Pinto. “O parlamento não pode consentir que os recursos audiovisuais desta casa sejam instrumentalizados para patetices”. Também o deputado do BE, João Semedo, criticou esta intervenção: “Tivemos as bancadas sujas com este lixo presumo tenha sido distribuído pelo senhor deputado. Não sei ao abrigo de quê, nem  em que figura do regimento se inclui. Fica outra dúvida: no final dos trabalhos o lixo vai ser limpo pelo próprio ou temos de depositar na bancada do PSD?”.

A deputado do BE, Catarina Martins, lembrou mesmo que o poema “O Nevoeiro” de Fernando Pessoa foi utilizado em 1933, para fazer propaganda: “Se não sabia era bom que soubesse e percebesse o insulto que nos faz.” Já o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, acusou a maioria de não conseguir fazer a defesa do Orçamento do Estado: “Na sua patética intervenção, não ter defendido este Orçamento significa que a maioria não tem argumentos para o defender.”

O PS aproveitou ainda a oportunidade para lembrar as palavras do Presidente da República: “Só se percebe esta intervenção à luz do incómodo que devem estar a sentir pela intervenção do Presidente da República. É preciso sobriedade e seriedade no debate e respeito pelo sofrimento de todos os portugueses”, disse o deputado socialista, Pedro Nuno Santos.