Peniche. A formar juízes de surf desde os anos 90


Em 1977, Peniche era proclamado como o local de eleição para a realização do primeira competição internacional de surf. No mesmo ano, disputou-se a primeira prova nacional e Nuno Jonet contribuiu para que ambos acontecessem. “Naquela altura nós tínhamos os contactos com as federações europeias e embora fossem contactos basicamente pessoais, tentávamos trazer gente a…


Em 1977, Peniche era proclamado como o local de eleição para a realização do primeira competição internacional de surf. No mesmo ano, disputou-se a primeira prova nacional e Nuno Jonet contribuiu para que ambos acontecessem. “Naquela altura nós tínhamos os contactos com as federações europeias e embora fossem contactos basicamente pessoais, tentávamos trazer gente a Portugal para vir cá fazer surf. Peniche teve mesmo a primeira prova internacional e a segunda prova organizada no país”, recorda o comentador há já 31 anos.

Os critérios de avaliação eram então diferentes e duvidosos. Quem o diz é Nuno Baltazar, natural de Peniche, que participou no campeonato internacional, depois de se ter apurado através do Nacional. Nos anos 90, juntamente com Luís Chaves (outro local de Peniche), iniciou a sua carreira como juiz de prova. “Naquela altura já começava a fazer menos surf porque tinha e tenho um problema grave de coluna. Foi quando um amigo francês me convidou para julgar as provas. Mais tarde, deixei. Acho que isto não mudou muito e ainda há algumas politiquices que continuam na mesma”, considera Baltazar, de 55 anos. Politiquices? “Tínhamos sempre um bocado aquela coisa de que o júri torcia por alguém da zona dele. Acho que foi por isso que deixei”, confessa.

“Acho que os critérios do Nacional tentam seguir as normas da Association of Surfing Professionals (ASP), mas há aqui pontos em que não são bem iguais. No Nacional não somos tão exigentes como na ASP. Eles têm os melhores do mundo e, por isso, têm outra exigência”, explica-nos Albano Viana, de 48 anos, também surfista de Peniche e juiz desde 2004. As mudanças no julgamento ao longo da evolução da modalidade foram muitas e hoje as manobras arriscadas passaram a ser mais consideradas, gerando um maior risco de lesão para os atletas. Surfistas como Gabriel Medina e John John Florence, que recentemente se lesionaram em provas do Mundial, sentiram o peso da consequência, tendo o último estado afastado de duas provas. “É uma realidade. A probabilidade que têm de contrair uma lesão numa onda é muito maior, bem como o risco e o impacto e a necessidade de controlo. Contudo, eles são valorizados por isso. O John John teve agora um 10 em Bali e isso mostra que os juízes têm isso em conta”, defende Pedro Barbosa, juiz há 20 anos e o primeiro português a julgar no World Championship Tour (WCT, circuito mundial) no campeonato de 2002, na Figueira da Foz. Ainda nesta altura o surfista de São Torpes lembra que o surf progressivo “não era tão valorizado e o foco era no power das manobras na secção crítica da onda”.

“Tenho uma amiga numa revista japonesa que num editorial questionava se não se deveria acabar com os floaters para as carreiras dos atletas durarem mais”, conta-nos Jonet. “A resposta está no ginásio e em fortalecer os músculos e não ultrapassar os seus limites. É isto que faz Kelly Slater ter uma boa recuperação. Ele tem é um tornozelo que nunca há-de ficar bom, como teve o Tom Carroll, que nunca mais conseguiu recuperar. Só pelo risco de vida e pelo número de lesões os atletas deviam ser pagos com pelo menos mais um zero à direita”. Simples e directo o homem que dá voz aos campeonatos.

Certo é que a discussão na sala de juízes no final das baterias é sempre muita. Ou porque o surfista considera que uma onda foi menos pontuada ou o inverso. Com a aquisição da ZoeSea, empresa liderada por Paul Speaker e Terry Hardy, manager de Kelly Slater, a questão em torno do futuro dos julgamentos começa a fazer-nos comichão atrás da orelha. “Acho que passará pelo surf progressivo, pelo surf de rail e pela variedade, a contar também com a fluidez com que o atleta surfa”, salienta Pedro Barbosa. “Ainda não parámos os saltinhos, mas acho que a história do voar sem vela e sem parapente e sem papagaio ainda não está resolvida. Mas está em vias de resolução”, defende Nuno Jonet.

SEGREDO DE PENICHE Hoje chamada de “Capital da Onda”, localidade piscatória e conhecida por dar ondas em qualquer lugar, parece estar escondida, bem como os seus surfistas. Para Nuno Baltazar, é algo que está relacionado com o “dinheiro”, mas a lenda reza outra versão. “Basta olhar para alguns meios localizados de Portugal. O país tem um eixo e esse eixo domina por completo, desde patrocinadores a meios de comunicação e nós estamos fora desse meio”, revela Paulo Ferreira, responsável pela Península de Peniche Surf Clube (PPSC). Aos 44 anos, Paulo, funcionário de um banco, conta-nos que está no clube por amor à camisola, mas sente que nem sempre o trabalho é reconhecido. No que diz respeito à quantidade de atletas de Peniche que se encontram no Nacional, só tem uma coisa a dizer: “Existem muitos bons surfistas em Peniche que não competem. O que não houve durante a última geração foi uma aposta clara nos atletas. Temos tentado ao máximo que haja mais competições aqui para incentivar estas pessoas a competirem.”