Mariano Rajoy: A Moncloa vale bem um murro

Mariano Rajoy: A Moncloa vale bem um murro


   


O jovem aproximou-se de Mariano Rajoy, dizendo que queria tirar uma fotografia com ele, uma normal cena familiar de campanha. Rajoy estava na sua terra, Pontevedra na Galiza, ensaiou a pose, sorrindo. O tempo pareceu parar, de repente, o jovem “Capi”, para os amigos da claque de futebol, enfia-lhe um uppercut com a mão esquerda. O murro abana Rajoy e atira-lhe os óculos para o chão. O jovem de 17 anos é detido. 

No dia seguinte, a agressão é capa em todos os jornais de Espanha. No “El País” fala-se da agressão e identifica-se o jovem, como membro de uma claque. No “El Mundo” e no “ABC” grita-se que o presidente do governo foi agredido por um jovem esquerdista e antifascista. As fotografias de Rajoy são a mesma, mas estão diferentes: no “El Mundo” e “ABC” o primeiro-ministro espanhol tem uma enorme mancha vermelha na cara que não está presente na fotografia original. É chamada a política do photoshop. Mariano Rajoy recebe mensagens de preocupação de todos os seus adversários políticos. Generoso, embora a dramatização da campanha lhe possa convir, diz aos jornais que a agressão não tem nada que ver com a campanha, mas que Espanha deve combater o extremismo. O jovem agressor diz : “Não sou terrorista, e não me arrependo do que fiz”. O advogado de defesa, sabe que o seu cliente incorre a uma pena de prisão até seis anos, e garante que o adolescente não está vinculado a nenhum partido político. Pela imprensa, fica-se a saber que o jovem Capi é primo, em segundo grau, da mulher do presidente do governo. É coisa de galegos: são todos da mesma família.

Mariano Rajoy Brey, de seu nome, nasceu em Santiago de Compostela em 21 de março de 1955. É neto de um dos redatores do Estatuto de Autonomia da Galiza, datado de 1932. O neto de Enrique Rajoy Leloup, assim se chamava o seu avô, tem uma longa carreira política: filiou-se no partido pós-franquista, Aliança Popular, foi eleito deputado regional em 1981; foi vereador da Câmara de Pontevedra; foi presidente da Xunta da Galiza (governo autonómico); depois da transformação da AP em Partido Popular integra a sua comissão executiva em 1989; com a vitória de José Maria Aznar foi sucessivamente ministro da Administração Pública, ministro da Educação e Cultura, ministro do Interior e ministro da Presidência. Quando Aznar resolva sair depois de oito anos de governo, Rajoy é derrotado em duas eleições sucessivas. À terceira, é de vez, e chega a presidente do governo de Espanha. No próximo dia 20 de dezembro vai tentar ser reeleito.

Enquanto ministro da Educação, em 1999, aprovou a elaboração de um Dicionário Biográfico da Real Academia da História, uma obra magna com 50 volumes, no volume 42 está o perfil de Rajoy. Aí se garante que é “amante da leitura e apaixonado dos desportos, introvertido e discreto”. Nessa entrada podemos ler o papel determinante do político para resolver todas as crises que a Espanha viveu nas últimas décadas: Perejil [ocupação pelos marroquinos de uma rochedo espanhol], o envolvimento da Espanha na guerra do Iraque, e a crise ecológica motivada pelo derrame do Prestige. Não houve dificuldade que o galego não tenha resolvido. O dicionário garante o seguinte da sua gestão como presidente do governo: “entre os objetivos de atuação prioritários do governo, que explicam a sua ampla atividade legislativa, podem destacar-se três: a estabilidade orçamental, o saneamento financeiro e a reforma laboral”. Apesar desta boa entrada no dicionário real, a governação de Rajoy teve os seus contratempos. Os escândalos de corrupção atingiram gravemente o PP. Quando o tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, foi detido acusado de organizar o pagamento de dinheiro a dirigentes do partido, com verbas de empreiteiros interessados na adjudicação de obras públicas, Rajoy, um dos beneficiários dessas verbas, mandou um SMS a Bárcenas: “Luis, sê forte”.

Foi isso que lhe foi lembrado, pelo líder do PSOE, Pedro Sánchez, durante o debate televisivo que tiveram os dois. Mariano Rajoy manifestou-se agastado, com aquilo que denominou uma agressão e uma pulhice.

Durante toda a campanha eleitoral, o PP, que tem menos de 28% nas sondagens, defendeu que conseguiu debelar a crise em Espanha. Vamos ver se essa narrativa, e os murros que levou do primo, lhe permitem vencer estas eleições e governar de novo.