LIVRE. A ocupação de um espaço vazio na esquerda portuguesa


O partido LIVRE, lançado por Rui Tavares no sábado, tem na sua génese uma componente ecológica e europeísta que o distingue das forças com representação partidária à esquerda do PS, mas o põe em linha com os partidos verdes europeus que têm vindo a crescer por toda a Europa. Um espaço vazio em Portugal –…


O partido LIVRE, lançado por Rui Tavares no sábado, tem na sua génese uma componente ecológica e europeísta que o distingue das forças com representação partidária à esquerda do PS, mas o põe em linha com os partidos verdes europeus que têm vindo a crescer por toda a Europa. Um espaço vazio em Portugal – “Os Verdes” em Portugal assumem uma posição diferente e concorrem juntamente com o PCP ao Parlamento Europeu – e, segundo José Adelino Maltez, o novo partido pode colmatar uma “falha grave” no sistema partidário português.

“O eurodeputado aderiu a um grupo institucionalizado [Os Verdes Europeus/Aliança Livre Europeia] a nível europeu e em Portugal não há esse espaço, como não há liberais, que por acaso são a terceira força política a nível europeu, nem há extrema-direita. Há falhas graves na no sistema partidário” aponta José Adelino Maltez, professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, que louva a iniciativa de Rui Tavares. Para Maltez “a democracia só se enriquece com mais partidos”.

Sobre o posicionamento do partido, no “meio da esquerda” como caracterizou Rui Tavares, Carlos Jalali, professor na Universidade de Aveiro, considera que esta opção é mais um sinal “da ideia de tornar o partido num federador de esquerda”. Se esta é ou não a melhor maneira de criar “pontes” à esquerda, o politólogo diz que é cedo para dizer, no entanto, sublinha que outras formas como manifestos e congressos falharam, acrescentando ainda que as divisões à esquerda já se adivinhavam antes do fim do Estado Novo. “Talvez a aposta seja para mostrar por via eleitoral um caminho para o entendimento. Se o LIVRE tiver 10% ou 15% de votação nas europeias, os restantes partidos à esquerda vão ter de repensar o seu posicionamento”, frisa Jalali.

Maltez considera que novos partidos como o LIVRE servem para “evitar hipocrisias”, já que dentro dos partidos já existentes há muitos actores políticos que tentam agir “como federadores de esquerda” sem quaisquer resultados práticos.

A favor e contra Para Carlos Jalali, os comportamentos eleitorais dos portugueses nos últimos anos mostram que a população está “disponível para alternativas” partidárias. Desde logo, o politólogo aponta os baixos níveis na confiança nos partidos estabelecidos como uma vantagem para quem pretende entrar na cena política. Por outro lado, os bons resultados conseguidos por figuras independentes tanto nas presidenciais, como nas autárquicas, mostram que há uma procura por novos actores políticos. Também o crescente número de votos em branco e nulos assinala que há descontentamento com o leque de partidos que existem actualmente. Basta segundo o politólogo saber se esta “insatisfação” se vai traduzir em votos no LIVRE.

José Adelino Maltez antevê que Rui Tavares, que até agora tinha “simpatia” por parte dos meios de comunicação e organizações à esquerda, vai começar a ser criticado, nomeadamente pela ala mais esquerdista do PS que ansiava por fazer entendimentos com outros partidos “nas costas”. O politólogo diz que este partido vem representar em Portugal “um grande dinamismo político” na Europa e “vai trazer novidade ao debate político em Portugal”. “Tudo o que seja contra a bipolarização do sistema partidário é bom”, conclui Maltez.