Extrema-direita alemã cresce às cavalitas dos refugiados

Extrema-direita alemã cresce às cavalitas dos refugiados


Realizam-se já a 13 de março eleições em três estados alemães. Todas as sondagens dão como segura a entrada da Alternativa Alemã nos parlamentos 


Não foram precisas grandes iniciativas de campanha eleitoral – a noite de fim do ano em Colónia e algumas cidades alemães serviu como uma gigantesca campanha.

As queixas de centenas de mulheres por terem sido roubadas e assaltadas sexualmente e a prisão de alguns candidatos a refugiados entre os alegados criminosos provocaram um crescimento exponencial dos alemães que são contra o acolhimento de centenas de milhares de pessoas que fogem das guerras nos seus países.

É certo que há também casos de mulheres que em Colónia foram salvas de assaltos sexuais por refugiados sírios, como noticiou o “The Independent” esta semana sobre o testemunho de uma turista norte-americana, mas o medo está instalado. E não é possível escamotear que há uma resistência crescente de muitos setores da população à concessão do asilo às pessoas que atravessam em condições miseráveis o Mediterrâneo e outros que fazem milhares de quilómetros.

No próximo dia de 13 de março, se se confirmarem as sondagens, a Alternativa para a Alemanha (AfD) confirmará que se converteu numa força importante, com representação nacional.

Algumas das sondagens garantem que se houvesse eleições a nível nacional, este partido racista e xenófobo obteria 12% dos votos em todo o país, o que o converteria no maior partido de oposição à grande coligação no governo que reúne os democratas-cristãos e os sociais-democratas, ultrapassando os Verdes, o Partido Democrático da Esquerda e os liberais.

Num dos estados que vão às urnas, a Saxónia-Anhalt, o AfD pode chegar aos 15% dos votos. Em Baden-Württemberg está só a quatro pontos percentuais do SPD (Partido Social-Democrata Alemão). “Conseguiram apresentar-se como o grande partido antissistema. E o único que propõe mesmo soluções radicais contra os refugiados, que é neste momento o assunto que mais preocupa os alemães”, nota o politólogo da Universidade Livre de Berlim Carsten Kochmieder ao jornal “El País”.

Segundo revela o diário espanhol, este crescimento de rompante do partido de extrema-direita está a lançar a confusão nas hostes dos partidos tradicionais. Dois dos candidatos, um ecologista e um social–democrata, que dirigem dois do estados que vão às urnas recusaram-se a participar em debates televisivos com representantes da AfD, o que levou a candidata democrata-cristã que concorre na Renânia-Palatinado a dizer que não iria à televisão se não fossem todos os candidatos que as sondagens dão como disputando lugares. Para o partido da senhora Merkel, que dirige a Alemanha, a estratégia de ignorar a extrema-direita falhou e permitiu alimentar o discurso desta contra as elites políticas. Os analistas afirmam que este crescimento da extrema-direita pode dar estes governos regionais aos partidários da chanceler, mas é uma vitória de Pirro. O crescimento de uma direita à direita da CDU-CSU pode pôr em causa a paz social no país e o papel de charneira do partido democrata-cristão como representante do eleitorado de direita, contribuindo para que esses setores se insiram plenamente na democracia.

Um forte partido de extrema-direita que se reclama de uma herança racista vai acender alguns terrores históricos na Alemanha. A extrema-direita já cresceu entre os germanos e fê-lo com um discurso racista antissemita. E foi uma vitória que custou mais de 50 milhões de mortos em todo o planeta. Como dizia o líder histórico bávaro Franz Josef Strauss: “À direita da CSU [União Social Cristã, partido-irmão da CDU, da chanceler Angela Merkel] não pode haver nenhum partido democrático legítimo.”

Vamos ver se agora, em vez de se repetir em comédia, a história regressa em tragédia.