Caparica. A velha geração ficou pelo caminho mas Flappy ameaçou


Depois de um intervalo de 15 anos a Costa da Caparica voltou a receber a Liga MOCHE em 2013, mantendo-se em 2014 como a etapa de abertura do circuito. No passado a zona da Caparica foi uma das mais relevantes no meio do surf, sendo inclusivamente considerada como um dos berços do surf português. Daí…


Depois de um intervalo de 15 anos a Costa da Caparica voltou a receber a Liga MOCHE em 2013, mantendo-se em 2014 como a etapa de abertura do circuito. No passado a zona da Caparica foi uma das mais relevantes no meio do surf, sendo inclusivamente considerada como um dos berços do surf português. Daí saíram alguns dos melhores surfistas da chamada geração de ouro, aquela que “invadiu” a Europa com grandes resultados, posicionando Portugal pela primeira vez como uma potência de surf.

E se os mais simbólicos surfistas dessa geração, nomes como Antunes, Charneca, Oliveira, entre outros, já estão afastados das lides competitivas, outros têm aproveitado este regresso do circuito para voltar a vestir a lycra de competição. Em 2013, Nuno Matta e Hugo Zagalo foram os icónicos capariquenses que tentaram a sua sorte num palco que já dominaram com distinção. Também a etapa de 2014, o Allianz Caparica Pro, recebeu vários surfistas “da antiga”. Da zona surgiram Pedro Frederico “Flappy”, também da geração que marcou o surf nos anos 90, e ainda David Luís e Hugo Corvo da conhecida geração esperanças. Nenhum dos três conseguiu a qualificação para a fase seguinte, sendo que o clássico “Flappy” foi quem ficou mais perto, apesar de ter perdido no primeiro heat da primeira ronda, por uma diferença de 0,75 pontos.

Do Sul do país surgiu João Mealha, um dos melhores surfistas de sempre do Algarve, que escolheu a Caparica para iniciar a sua tentativa de regressar ao top nacional, um lugar que já ocupou por vários anos. Apesar de ter apresentado muito bom surf, o algarvio não encontrou o ritmo do passado e foi também eliminado.

Já Justin Mujica conseguiu outro tipo de retorno à competição. O luso-venezuelano foi um dos responsáveis pela introdução do surf new-school, quando surgiu no circuito pela primeira vez em 1999. Nesse ano garantiu o título da liga e nas épocas seguintes continuou a expandir os critérios do surf performance. Recentemente, a sua passagem pelo circuito diminuiu de intensidade, mais pela falta de interesse e incompatibilidade com as datas do circuito do que pela entrada na nova geração nos top. Depois de ter competido em apenas uma etapa em 2013, sem sucesso, Mujica apareceu na praia do CDS a ressentir-se de uma lesão, chegando a pôr em causa a sua entrada na prova. Mas após uma breve sessão de free surf, Justin convenceu-se que estava apto para competir. E se estava! As ondas de meio metro, com sets maiores, foram perfeitas para provar que ainda é um adversário temível na Liga MOCHE. O ponto alto do seu heat foi um fortíssimo snap layback numa junção, completado na perfeição a caminho de uma vitória fácil na primeira ronda.

Também o galego Gony Zubizarreta voltou ao circuito depois de algumas ausências no calendário do ano passado. Este residente da Ericeira tinha pela frente o campeão em título do circuito, Frederico Morais, que é o maior favorito ao título de 2014. Frederico repetiu a sua fórmula vencedora, fortes pauladas verticais de backside, garantindo assim notas altas. Por sua vez, Gony surpreendeu nas transições de secção para secção com boas manobras e, graças a esse aproveitamento de onda fora-de-série, venceu a bateria.

Entre os mais cotados do quadro, Vasco Ribeiro foi o grande destaque. O bicampeão nacional encontrava-se no heat 4 e foi o primeiro entre os tops a mostrar tanto surf como estratégia competitiva acima da média. Nesta altura, ondas quebravam com meio metro e sets ligeiramente maiores, com o pico de esquerdas à frente do palanque a funcionar com mais consistência. Na outra ponta da praia, quebravam algumas direitas com menos regularidade mas muito potencial para encaixar mais manobras em secções com mais parede. Ribeiro garantiu algumas pontuações nas esquerdas e, com o heat praticamente garantido, não teve problemas em arriscar nas direitas, onde mostrou o surf mais rápido de todo o campeonato. Vários surfistas tentaram a mesma façanha depois, mas nenhum com o mesmo sucesso.

Apesar da boa formação, muitos surfistas encontraram dificuldades na falta de força das ondas, que prejudicava os mais pesados. Joackim Guichard não é dos mais leves do circuito mas isso não foi impedimento para ser um dos maiores destaques do dia. Guichard mostrou estar em grande forma e soube escolher bem as ondas, sendo leve quando tinha de ser e ao mesmo tempo pesado nas fortes e consecutivas rasgadas, vencendo assim um heat de notas altas.

À medida que a maré enchia, as ondas iam-se tornando mais difíceis, com secções mais rápidas e algum backwash. Mesmo assim, o nível de surf manteve-se altíssimo. Nicolau Von Rupp não estava a competir nas condições que mais o beneficiam, mas nem por isso deixou de tentar algumas das manobras mais arriscadas do dia. Uma delas custou-lhe uma prancha, outras deram-lhe uma média altíssima (15,85) e uma vitória folgada.

Outra surpresa neste dia foi o excelente surf de Edgar Nozes que, mesmo não tendo apanhado ondas boas, passou o heat com potentes manobras isoladas. Já David Raimundo soube escolher muito bem as esquerdas – nesta fase cada vez mais escassas e curtas – para encaixar mais manobras que os seus adversários, passando em primeiro para a segunda ronda.

Com a vitória de Zé Ferreira terminou esta fase e o dia de prova, ficando toda a prova feminina e a masculina a partir da segunda ronda adiada para este sábado. Da segunda fase alguns heats se destacam dos restantes, nomeadamente o terceiro o quarto. Distribuídos pelos oito surfistas destes dois heats estão também oito títulos da Liga MOCHE e serão seguramente equivalentes a finais antecipadas.

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