António Guterres já admite candidatar-se à presidência da República. O ex-primeiro-ministro assume, pela primeira vez, numa declaração feita para um livro sobre Jorge Coelho e antecipada pela revista “Sábado”, que “há sempre uma probabilidade, mesmo que mínima, de isso acontecer”.
António Guterres nunca tinha admitido essa possibilidade, mas Marcelo Rebelo de Sousa, apontado como o candidato do centro-direita, diz ao i que não ficou nada surpreendido: “Sempre disse que ele iria ser o candidato de esquerda. Sou um comentador atento e de círculos próximos dele vinham essas informações”.
A um ano e meio das eleições presidenciais os sinais sobre possíveis candidaturas começam a ser mais claros. António Guterres é provavelmente o candidato mais desejado dentro do PS, mas desde que se demitiu da liderança do governo, a seguir às eleições autárquicas em Dezembro de 2001, sempre disse que não estava disponível para voltar à política activa. “Não estou, nem penso vir a estar, na actividade política em Portugal”, disse, numa entrevista à RTP, em Novembro de 2012.
Apesar disso, alguns socialistas influentes têm alimentado a ideia de que Guterres deve ser o candidato com o apoio do PS a Belém. Jorge Coelho, em entrevista ao semanário “Sol”, há dois meses, disse que “gostava” que o ex-primeiro-ministro fosse candidato. À revista “Sábado”, António Vitorino vai mais longe e diz que “Guterres devia ser candidato”.
Se o ex-primeiro-ministro avançar, António José Seguro deverá apoiá-lo sem hesitação. O actual secretário-geral do PS ascendeu dentro do partido nos tempos de Guterres e, quando o governo caiu, era seu ministro-adjunto. Em 2004, Seguro defendeu que o actual alto comissário para os refugiados das Nações Unidas deveria ser o candidato a Belém, perante “um desejo muito grande” que existia no partido em tê-lo na corrida às presidenciais de 2006. Nessa altura, em entrevista à TSF, Seguro argumentava que era “importante ter na presidência da República alguém que tenha já esse prestígio, que tenha esse conhecimento da experiência governativa, para compreender as dificuldades da governação”.
À direita, Durão Barroso já se colocou fora de jogo e o PSD aposta em Marcelo Rebelo de Sousa, o candidato de centro-direita mais bem colocado nas sondagens. Ao i, o professor diz que a declaração de Guterres não influencia a sua decisão: “Não tem nada a ver comigo.”
Marcelo Rebelo de Sousa está convicto de que Guterres vai mesmo avançar: “Para mim é uma evidência”. O ex-líder do PSD chegou a admitir avançar para Belém, mas recuou quando Passos Coelho apresentou uma moção, no último congresso, a rejeitar como candidato um “cata-vento de opiniões erráticas”. Mas muitos dirigentes do PSD acreditam que o professor acabará por ser candidato, perante os fortes apoios que tem dentro do partido.