Ano novo, a mesma vida. Merkozy marca reunião sob pressão nos mercados


Na crise da zona euro, o ano começará como 2011 terminou: com uma reunião entre a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, de preparação para a cimeira europeia de 30 de Janeiro, sob tensão renovada dos mercados de dívida após o anúncio de derrapagem orçamental em Espanha. A reunião servirá para…


Na crise da zona euro, o ano começará como 2011 terminou: com uma reunião entre a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy, de preparação para a cimeira europeia de 30 de Janeiro, sob tensão renovada dos mercados de dívida após o anúncio de derrapagem orçamental em Espanha.

A reunião servirá para trabalhar os detalhes do pacto orçamental assinado entre os 17 países da zona euro na cimeira de Dezembro passado, que funcionará como um manual rigoroso para disciplinar a despesa e o endividamento públicos na região. Depois do avanço desta reunião bilateral, a União Europeia volta a reunir no dia 23 (ministros das Finanças) e depois no dia 30, para a primeira cimeira do ano (2011 registou um recorde de oito cimeiras). Haverá ainda reuniões entre a dupla Merkel/Sarkozy e o chefe de governo italiano Mario Monti, bem como com o primeiro-ministro britânico David Cameron.

O regresso à liderança franco-alemã (à dupla Merkozy, como foi alcunhada pelos media) e às “cimeiras decisivas” procura comprar algum tempo para a moeda única, o tempo que Berlim e Paris esperam que Roma e Madrid demorem para darem sinais de controlo sobre as suas finanças. A estratégia assumida publicamente – no primeiro dia do ano pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble – parece ser de aguentar artificialmente os países mais pressionados pelos mercados até que estes consigam reconquistar a credibilidade nos mercados.

Itália, que tem de pagar 53 mil milhões de euros de dívida no primeiro trimestre (um terço do total da zona euro), é o principal campo de batalha na guerra pela credibilização nos mercados de dívida. O governo liderado por Mario Monti já passou um pacote de austeridade extraordinário, mas para já tem sido o Banco Central Europeu – quer através de compras no mercado secundário, quer via cedência de liquidez aos bancos que vão aos leilões de dívida – a impedir uma escalada maior dos juros, que se mantêm perto de 7%.

Euro em queda A dimensão e complexidade do problema forçarão, contudo, a novos avanços políticos no sentido de maior integração económica e orçamental da zona euro, sob pena da moeda única não sobreviver ao seu décimo aniversário. Ontem, a edição online do “Financial Times” noticiou que nos últimos dias de 2011 o número de apostas contra o euro feitas por gestores de fundos livres de cobertura (“hedge funds”) tocaram um valor recorde.

Posições “curtas” sobre o euro significam que o investidor está a apostar numa quebra do valor da moeda, ganhando caso essa previsão se confirme. Muitos destes fundos perderam dinheiro com o euro em 2011, uma vez que a moeda única não caiu tanto como esperavam. O mercado cambial é muito volátil e as previsões dos analistas para o valor do euro até meio do ano – que oscilam entre 1,20 e 1,34 dólares – confirmam esse comportamento. Para as empresas exportadoras portuguesas a continuação da quebra do euro seria uma ajuda, num contexto de recessão interna e europeia (que representa dois terços do mercado externo).

Perdão de 75% Entretanto continuam as negociações entre a Grécia e os credores privados, para a primeira reestruturação de dívida soberana na história da zona euro. A Grécia receberá um segundo pacote financeiro, de 130 mil milhões de euros, e beneficiará do corte de 50% da dívida pública (equivalente a cerca de 103 mil milhões de euros). Mas ontem o site grego Euro2day noticiou (sem citar fontes) que o governo alemão estava ponderar avançar com uma proposta de “perdão” de 75% para assegurar a sustentabilidade da dívida grega. Mesmo com um corte de 50%, os gregos chegariam a meio da década com uma rácio de dívida pública sobre o PIB próximo de 120%. O ministério das Finanças alemão não desmentiu ontem a notícia, optando apenas por avançar que as negociações com os credores estarão concluídas em breve.