Skate em Portugal. Devagar, mas a crescer


“Há dois factores que têm feito com que o skate chegue a mais pessoas.” Quem o afirma é Rodrigo Pimentão, director de marketing da Despomar, uma das principais distribuidoras de roupa e acessórios de surf e skate em Portugal. “Um deles é a construção de skate parks, que tem aumentado muito, não só em Lisboa…


“Há dois factores que têm feito com que o skate chegue a mais pessoas.” Quem o afirma é Rodrigo Pimentão, director de marketing da Despomar, uma das principais distribuidoras de roupa e acessórios de surf e skate em Portugal. “Um deles é a construção de skate parks, que tem aumentado muito, não só em Lisboa ou nos grandes centros urbanos, mas também no Interior. O segundo factor é o acesso fácil dos miúdos a skates e a outro material. Por exemplo, nós estamos nos grandes centros urbanos, nos centros comerciais, e esta presença faz com que haja mais compra por impulso”, explica Rodrigo, referindo-se à cadeia de lojas Ericeira Surf & Skate, também pertencente ao grupo. “Além disto verificou-se nos últimos tempos uma redução dos preços. O que quero dizer com isto? Nós já conseguimos uma relação preço-qualidade muito aceitável, quando comparada com o dinheiro que as pessoas tinham de gastar aqui há uns anos. Precisavam de 150 euros para comprar um skate, hoje em dia com 60 já se compra o skate completo e bom. Ou seja, a oferta e a própria distribuição dessa oferta também têm ajudado a manter a chama viva”, sublinha, acrescentado que, dada ausência de dados estatísticos sobre o desporto em Portugal, é esta a interpretação que faz quando o confrontamos com o crescimento do desporto.

Ex-competidor e campeão nacional em 1992, com apenas 14 anos e “contra os mais velhos todos”, Pimentão explica que o skate está muito próximo das pessoas e passa pelos “sonhos de infância” de muitos miúdos. Por ser um desporto para jovens, quem se mantém a praticá–lo depois dos 20, 25 anos são pessoas que competiram. “Não tens tantas pessoas com 30, 35 anos a começarem a andar de skate como há no surf. O skate é um desporto muito mais agressivo, os adultos já não estão para aprender a saltar escadas. Já os miúdos não se importam de chegar a casa esfolados, sujos e rotos.”

Por seu turno, Nuno Falcão, sales manager da Vans, da Brixton, da Rhythm e da Raen, explica-nos que o skate está cada vez mais disperso e por isso é difícil traçar o perfil do consumidor em duas ou três palavras. Existe o “consumidor core” – que é o praticante activo, frequenta as skate shops, conhece os riders, está ligado à indústria e acompanha os eventos -, e é partir deste que as marcas comunicam. A imagem é passada “para o maior volume de consumo, que são os miúdos da escola, e que muitas vezes até são praticantes de skate mais ocasionais”. São jovens entre os 15 e os 21 anos, que tanto podem consumir surf como skate, frequentadores de shoppings e que poderão não ser fiéis no futuro. Por último, existe ainda outro, mais velho, que “também é um nicho e que consome produtos de skate porque se quer diferenciar do mainstream”.

Quanto às vendas, Falcão apresenta uma visão um pouco mais pessimista que Rodrigo, acreditando porém que o desporto está a crescer. Com as vendas em queda devido à crise, Nuno explica que “o principal problema da indústria é ser muito copiada”. “Quando isso acontece e começas a ver produtos em grandes superfícies que são imitações das marcas genuínas, passados dois, três anos há um decrescimento porque o mercado precisa de coisas novas.” Na sua opinião, o que salva o skate e o surf é “serem desportos com um bom suporte de imagem, terem raízes e assentarem em valores”, fazendo com que persistam sempre. “Como em tudo, os números sobem e descem, mas se tirarmos uma curva média, existe sempre crescimento e isso é o importante para nós”, conclui.

Porque existem algumas áreas em que surf e skate se cruzam (muitas das principais empresas têm marcas de ambos os desportos), quem joga só de um lado acusa o outro de querer ficar com os louros. Um exemplo é Pedro “Roskof” Raimundo, que defende que o surf no asfalto movimenta mais dinheiro que o seu parente mais velho. “Existe e vende-se muito mais calçado de skate. As marcas de surf o que mais vendem é material técnico, para quem pratica, e roupa, mas desde que entraram aí as multinacionais espanholas, com artigos quase iguais e a menos de metade do preço, as coisas mudaram um bocado”, afirma Pedro, que já trabalhou em algumas marcas e garante estar por dentro dos números. Actualmente editor da única revista da modalidade em Portugal, a “Surge” – grátis e disponível em lojas de skate e outros locais que a malta costuma frequentar – “Roskof” é o único que avança com números no que toca a praticantes nacionais. “Se formos a falar de pessoas que andam todos os dias, esses rondam os três, quatro mil, o que não é muito. Depois se formos contabilizar o pessoal que tem uma tábua em casa e que vai dar umas voltas, aí já vamos para os 10, 12 mil.”

“Penso que neste momento podemos dizer que o skate é um desporto que já está na sociedade portuguesa”, argumenta Luís Paulo, ex-competidor e uma das figuras mais importantes do desporto a nível nacional. Ultrapassada a fase dos feios, porcos e maus, “está estável, a amadurecer, já não é por ondas ou por modas”. À frente de uma escola, Luís explica que actualmente se vendem muitos skates, quer aqueles mais baratos, de iniciação, para miúdos ou curiosos, quer os mais caros, “que têm o nome dos ídolos na tábua”.

Fundador e responsável máximo pela Associação Portuguesa Skateboard (APS), o skater organizou até ao ano passado o circuito nacional, com o aval da Federação Portuguesa de Surf, que tutela a modalidade. Confrontado com a recente decisão da entidade de não apoiar nenhum dos campeonatos até que todas as partes se reorganizem (existe mais um circuito, organizado pelo Radical Skate Clube e anterior ao da APS), Luís Paulo confessa ter ficado desiludido com a notícia avançada na semana passada pela nova direcção, afirmando que esta surgiu numa altura em que o circuito estava a ganhar “nome” e “força”. “O skate está dentro da Federação Portuguesa de Surf e logo aí é confuso. Mas o bodyboard também está e o mesmo acontece com o skimming. Mas o skate é o único desporto terrestre, não tem nada a ver com mar”, frisa, explicando que esta situação resulta em parte de a modalidade não estar organizada em clubes e associações. Quanto à decisão, argumenta que “é mau para os atletas, mau para tudo”. “Não se pode chegar a um sítio e parar as coisas, é tentar apagar a história.”

Questionado sobre que alterações são necessárias para que o desporto continue a crescer em Portugal, Luís Paulo responde: “A criação de associações de skate por todo o país, atletas federados e um trabalho em conjunto para um desporto transparente e verdadeiro.”