Poluição. 13 em 15 cidades portuguesas respiram ar envenenado


Quase nove em cada dez habitantes das cidades do mundo estão expostos a níveis de poluição acima dos limites considerados seguros para a saúde pública. A qualidade do ar na maioria das zonas urbanas do planeta piorou, aumentando o perigo de doenças respiratórias e coronárias e outras complicações associadas à poluição atmosférica. As conclusões são…


Quase nove em cada dez habitantes das cidades do mundo estão expostos a níveis de poluição acima dos limites considerados seguros para a saúde pública. A qualidade do ar na maioria das zonas urbanas do planeta piorou, aumentando o perigo de doenças respiratórias e coronárias e outras complicações associadas à poluição atmosférica. As conclusões são da Organização Mundial de Saúde (OMS), que fez o maior levantamento de sempre ao avaliar as partículas em suspensão de 1600 cidades em 91 países: PM 10 e PM 2,5 (dois dos poluentes mais preocupantes para a saúde pública, a par do ozono).

O barómetro de 2014 actualiza um banco de dados que agora conta com mais 500 novos centros urbanos do que no ano anterior e mostra que nem as principais cidades portugueses escapam à contaminação do ar. Treze das 15 cidades monitorizadas pela OMS ultrapassam os limites de poluição internacionalmente considerados aceitáveis. A OMS recomenda que a concentração de pequenas partículas até 10 milésimos de milímetro de diâmetro (PM 10) não ultrapasse 20 microgramas por metro cúbico de ar, numa média anual – limites que entre as 15 cidades portuguesas incluídas no estudo são apenas respeitados em Braga e Vila Franca de Xira (ver caixa ao lado). Todas as outras zonas urbanas apresentam níveis de poluição acima dos valores recomendados, mas é na cidade do Seixal onde pior se respira, com quase o dobro (39 microgramas) das concentrações de partículas acima dos valores-limite. Seguem-se Paredes, Valongo, Porto e Matosinhos, na região Norte, e só depois é que surgem as cidades do Funchal, na Madeira, de Lisboa e de Almada.

Para partículas muito finas, de 2,5 milésimos de milímetro de diâmetro (PM 2,5), há dez cidades portuguesas a ultrapassar o limite médio anual de 10 microgramas por metro cúbico. Seixal volta a liderar a tabela, seguido de Lisboa, Paredes e Valongo. Outras cinco cidades estão dentro dos valores considerados seguros: Faro, Amadora, Braga, Vila Franca de Xira e Porto.

Recordes Os maiores recordes, no entanto, estão nos países asiáticos. Das 20 cidades com a pior qualidade do ar, metade está na Índia, com Nova Deli a ultrapassar de longe os limites de partículas PM 10: 286. Peshawar e Rawalpindi, as duas no Paquistão, são, contudo, as cidades mais contaminadas do planeta, com registos que multiplicam até 27 vezes os máximos recomendados: 540 e 448. São valores que estão bem afastados dos registos europeus, a rondar os 60 microgramas em cidades da Bulgária ou da Polónia e a cair até aos 11 de Reiquiavique, na Islândia, ou os 12 de Copenhaga, na Dinamarca.

Segundo a OMS, a qualidade do ar piorou principalmente nas economias emergentes mas, nos países mais desenvolvidos, os resultados também não melhoraram como tinha vindo a acontecer nas últimas duas décadas. A monitorização da Organização Mundial de Saúde demonstrou que só 12% destes centros urbanos respiram ar limpo.

Metade da população a viver nas cidades está exposta a níveis de poluição pelo menos duas vezes e meia superiores aos valores recomendados pela OMS. As causas são uma espécie de cocktail que mistura vários factores: a dependência dos combustíveis fósseis, como das plantas que produzem energia com carvão, os transportes privados ou a deficiente eficiência energética nos prédios (isolamento e climatização).

Os investigadores apontam os automóveis a diesel como os grandes responsáveis pela má qualidade do ar de muitas cidades. Emitem mais partículas microscópicas e óxidos de nitrogénio que os de gasolina, e essa é a principal razão para soarem os alarmes. Recorde-se, aliás, que em 2012 a OMS certificou que o fumo libertado pelos motores a diesel provoca cancro de pulmão.

Esse foi um dos motivos para a organização ter recomendado reduzir os valores-limite de partículas PM 2,5, também conhecidas por partículas finas, que resultam da queima de combustíveis fósseis, especialmente os veículos a diesel. Trata-se de partículas compostas por elementos tóxicos, como metais pesados, e são consideradas muito perigosas pois, por serem microscópicas, infiltram-se com grande facilidade nas vias respiratórias, potenciando doenças cardiovasculares e respiratórias. A OMS estabeleceu 10 microgramas em média anual como o limite de protecção à saúde.

O banco de dados da OMS recolhe também as medições de PM 2,5 e mostra que Nova Deli, com uma média anual de 153 microgramas por metro cúbico, é a cidade mais poluída do mundo quando se avalia a concentração desta partícula. Das 20 cidades com piores registos, 13 estão na Índia. Na Europa, os piores estão na Polónia, com cidades acima de 40, e na República Checa, com vários centros urbanos a ultrapassarem os 30 microgramas.

O barómetro das cidades mais poluídas do planeta surge um mês depois de a OMS ter divulgado um outro estudo em que estreita ainda mais a relação entre contaminação do ar e as doenças respiratórias, os acidentes cardio e cerebrovasculares ou cancro. A Organização Mundial de Saúde quantificou em cerca de 7 milhões as mortes que em 2012 podiam ser atribuídas à poluição, o que representa 12,5% dos óbitos nesse ano. Os resultados do estudo, incidente sobre 2012, mostraram que “os riscos devidos à poluição do ar são mais importantes do que se pensava, em particular no que respeita às cardiopatias e aos acidentes vasculares cerebrais. Poucos riscos têm um impacto superior sobre a saúde, na hora actual, como a poluição atmosférica (…) e é preciso uma acção concertada para tornar mais limpo o ar que respiramos”, alertou a organização no relatório divulgado em Abril.