Fórmula 1. 2012 é o ano dos campeões


Sebastian Vettel. A correr, a cantar, o miúdo já só sabe é ganhar


Sebastian Vettel. A correr, a cantar, o miúdo já só sabe é ganhar

No meio da festa do segundo título de campeão, em Suzuka, Sebastian Vettel deu largas à veia de cantor e entrou num karaoke – onde também estavam os patrões Christian Horner e Adrian Newey. Vettel, fã assumido dos Beatles, cantou “Hey Jude”. Já Newey preferiu “Yellow Submarine”. Diz quem viu e ouviu que foi um espectáculo bonito. Mas o fim-de-semana no Japão já lá vai, agora há que arranjar motivos para novo karaoke. O RB8 tem dado sinais de estar pronto para o ataque ao terceiro título consecutivo e Vettel cumpriu a tradição de lhe dar um nome particular. Depois de Kate (2009), Luscious Liz (2010) e Kinky Kylie (2011), o piloto de 24 anos optou por baptizar o novo Red Bull de Abbey. Mas garante que nada tem a ver com a música dos Beatles nem com a chicane de Silverstone. “É só um nome fixe.” Para já, o bicampeão tem um desafio: ser capaz de seguir a mesma cantiga de Juan Manuel Fangio e Michael Schumacher, os únicos pilotos da história da Fórmula 1 a ganhar três títulos consecutivos. Ayrton Senna e Alain Prost, por exemplo, nunca o conseguiram.

Jenson Button. O playboy que se transformou em gentleman

As mulheres adoram-no. Começou a carreira como um playboy que adorava festas e coleccionava companhias femininas de alto gabarito. Isso já passou. Agora, Jenson Button é o protótipo do gentleman, o piloto cuja postura agrada à equipa sem pôr em causa a relação com os adversários. O ponto de viragem foi o Inverno de 2008 para 2009. A Honda desistiu da Fórmula 1 e o britânico ficou sem equipa, depois de ter sido 18.º no Mundial. O cenário era pouco animador, mas apareceu a Brawn. Button endireitou-se e ao fim de mais uma época era campeão. Na McLaren, foi o primeiro piloto a afirmar-se perante Lewis Hamilton, o protegido que se habituou a ser o preferido. Mais consistente do que o colega, Button até foi destacado por Christian Horner como o maior perigo para os seus Red Bull. Pelos vistos, também está mais confiante. Diz-se mais feliz do que há um ano e reclama parte da atenção: “Toda a gente é comparada ao Seb[astian Vettel] porque ele ganhou dois títulos consecutivos. Mas antes dele ganhei eu o campeonato do mundo.”

Lewis Hamilton. O prodígio que agora é mais um bad boy

O talento está lá. Não foi por acaso que a McLaren gastou 5,5 milhões de euros em Lewis Hamilton desde o dia em que o piloto teve a audácia de se meter com Ron Dennis, com 13 anos, até ao momento em que subiu à Fórmula 1. Mas o estatuto de prodígio tem dado lugar a um certo ar de bad boy. Em 2011, Hamilton coleccionou mais um punhado de conflitos em pista e fora dela. O caso mais emblemático deu-se no Mónaco, quando foi punido por forçar as desistências de Massa e Maldonado. Saiu do carro, abriu a boca e disse: “Se calhar é porque sou preto.” A cor fará pouca diferença para quem manda na McLaren. Os responsáveis querem é um piloto que ganhe (como ele fez em 2008) e seja regular, que responda com velocidade no carro e não com agressividade fora dele. Agora vai começar a sexta época na Fórmula 1 na Austrália, onde tudo começou. Também foi lá que armou mais uma das boas: em 2010 andou a fazer piões no meio da estrada, depois da sessão de qualificação. Na altura, o ministro das Estradas até disse bem alto: “Hamilton é um jovem muito tonto.”

Kimi Raikkonen. As corridas são o vício que lhe alimenta a loucura

A paciência para falar com os jornalistas é inversamente proporcional ao salário que recebia quando deixou a Fórmula 1, em 2009. Nesse ano ganhou 31 milhões de euros, o reflexo do título conquistado na época anterior. Luca Di Montezemolo, presidente da Ferrari, tinha apostado tão forte no finlandês que, pelo caminho, nem se importou com a saída de Michael Schumacher. Mas Kimi Raikkonen foi campeão apenas uma vez, o que soube a pouco à Ferrari. Acabou dispensado, para dar lugar a Alonso, e mudou de ares. Passou para os ralis, onde competiu durante os últimos dois anos. Ainda assim, já se sabia que um dia regressaria à disciplina que o fez feliz. E aí está ele, na Lotus, no lugar que maior curiosidade gera à partida para a nova temporada. O que vai ser capaz de fazer? Por agora promete intrometer-se no grupo dos Red Bull, McLaren e Ferrari. O Iceman, como o conhecem no mundo do automobilismo, não vive sem corridas, tanto assim que já fez uma num barco, mascarado de gorila da cabeça aos pés. É esta a realidade de Raikkonen, o louco.

Fernando Alonso. A seca de títulos chegou à boca: agora não fala

A Renault de Flavio Briatore, com a qual foi campeão em 2005 e 2006, está cada vez mais perdida nas memórias da Fórmula 1. E, se excluirmos os anos de ausência de Michael Schumacher, ninguém está há mais épocas sem ganhar do que Alonso. O espanhol tem tido problemas para recuperar o caminho das vitórias. Em 2010, o primeiro ano com a Ferrari, esteve perto, mas já sabe como acabou: em Abu Dhabi, saiu de uma paragem nas boxes atrás de Vitaly Petrov e nunca o ultrapassou. O erro estratégico da equipa custou caro, mas a temporada passada ainda foi pior. Tanto assim que, a meio do ano, a Ferrari já pensava em adiantar trabalho para 2012. E as perspectivas também não são melhores. Por isso é que nem Alonso nem Felipe Massa falam aos jornalistas. Declarações só mesmo ao site da escuderia; de resto, o silêncio é rei. Por outro lado, durante os testes de Barcelona, o espanhol esteve junto à pista a gravar a passagem dos outros carros com o iPhone, protegido por uma capa do Homem-Aranha. Mas não passou despercebido.

Michael Schumacher. O campeão que deixou de ganhar

Há uma batalha interior no génio de Michael Schumacher. Foi o piloto que mais ultrapassou em 2011 – 116 vezes –, mas apenas porque falhou na qualificação prova atrás de prova. O engenho ainda lhe dá o charme dos campeões, a classe de quem tem mesmo mãos para guiar um Fórmula 1 sem tremer por todos os lados. Por outro lado, Schumacher já tem 43 anos e o corpo lida cada vez pior com o desgaste de uma corrida. E o alemão admite que só regressou, em 2010, porque os testes durante a época tinham sido banidos – no fundo, a F1 roubar-lhe-ia muito menos tempo do que antes. Os resultados têm sido pouco simpáticos: já passaram 38 grandes prémios desde a última vez que Schumi subiu ao pódio. Para esta época, o desafio passa por subir mais uns degraus, talvez chegar ao patamar dos mais fortes. O heptacampeão acredita nessa hipótese, pelo menos. “Sei que ainda sou um dos melhores do mundo, que estou motivado, que me divirto e que a maioria está feliz por ainda me ter na Fórmula 1.” Só falta a Mercedes dar-lhe um carro vencedor.