Fidel Castro. A morte do guerrilheiro que desafiou o império

Fidel Castro. A morte do guerrilheiro que desafiou o império


O homem que sobreviveu a 11 presidentes dos EUA não aceitou receber, no ano da sua morte, Barack Obama. Morreu a pensar que a história só o podia absolver


Corria o ano de 1973, o ódio e a guerra latente entre Cuba e os EUA era mais quente que tudo. Richard Nixon acabava de começar o seu segundo mandato. No Vietname os norte-americanos estavam a ser derrotados sem apelo nem agravo. No regresso de Fidel Castro de uma visita ao Vietname, o líder da revolução cubana dava uma conferência de imprensa. Num ambiente descontraído, Brian Davis, o jornalista de uma agência inglesa, perguntou: “Quando é que acha que se poderão restabelecer as relações entre Cuba e os Estados Unidos, dois países tão longe politicamente apesar da proximidade geográfica?”.

Fidel Castro olhou o jornalista nos olhos e respondeu em voz alta para que todos ouvissem: “Os Estados Unidos virão falar connosco quando tenham um presidente negro e haja no mundo um Papa latino-americano”. Poucos meses antes de Fidel Morrer, Barack Obama fez a primeira visita de um presidente dos EUA a Havana. O reatar das relações entre os dois países teve a mão do Papa Francisco.

Morreu com 90 anos. O seu irmão, Raúl Castro, que lhe sucedeu no poder, anunciou a notícia na televisão. Fidel Castro esteve no centro de muitos acontecimentos mundiais durante a sua vida. Chegou ao poder durante o mandato de Dwight Eisenhower e liderou a ilha até ao segundo mandato de George W. Bush. Morreu no final da presidência de Barack Obama, o primeiro presidente americano de todos os tempos a visitar Havana e a restabelecer as relações diplomáticas com a ilha, depois de uma longa negociação com Raúl Castro. Fidel, que recebeu Marcelo Rebelo de Sousa, não se encontrou com Obama. Num artigo para o “Granma”, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba, o líder da revolução declarou que não confiava nos norte-americanos, mas que era sempre favorável a que os conflitos se resolvessem pacificamente.

Numa entrevista em 1985 à revista “Playboy”, perguntaram-lhe o que tinha a responder sobre as afirmações do presidente Ronald Reagan qualificando-o como um horrível ditador. Fidel fez uma pausa, olhou para o seu entrevistador e disse: “Deixe-me pensar sobre a sua questão.” Durante a entrevista, acrescentou: “Se ser ditador significa governar por decreto, então acho que devem usar o mesmo argumento para acusar o Papa de ser um ditador.” E virou, em seguida, o argumento contra Ronald Reagan: “Se o poder inclui algo tão monstruoso e antidemocrático como a capacidade de ordenar uma guerra termonuclear, eu pergunto-lhe: quem é mais ditador, o presidente dos Estados Unidos ou eu?”.

Deixou escrito que não queria nenhuma estátua ou o seu nome atribuído a localidades e coisas. A sua herança ficará apenas na história.