Fado


Nada em Portugal anda ou andou por si próprio, naturalmente. Nem as dinâmicas sociais, nem as económicas, nem as políticas. Nunca houve média ou longa duração estruturada. O dito Império resultou, antes de tudo, numa soma de lugares de emigração, sem que tivesse existido a robustez económica de um sistema que o pudesse sustentar e…


Nada em Portugal anda ou andou por si próprio, naturalmente. Nem as dinâmicas sociais, nem as económicas, nem as políticas. Nunca houve média ou longa duração estruturada. O dito Império resultou, antes de tudo, numa soma de lugares de emigração, sem que tivesse existido a robustez económica de um sistema que o pudesse sustentar e que agora permitisse desenvolver sem complexos as naturais dinâmicas pós-coloniais. Vivemos muito mais das oportunidades virtuosas, do comércio dos escravos, do ouro do Brasil, do dinheiro dos torna-viagem, das remessas dos emigrantes, dos fundos europeus, do que daquilo que paulatinamente consolidámos dentro de casa. Foram, assim, as vicissitudes da História que nos fizeram sempre desejar enriquecer depressa e sem muito trabalho. De um modo geral, o poder e as elites funcionaram sempre parasitariamente. O povo, esse, ou se acomoda e raramente esperneia, ou emigra.

O torrão pátrio, sim, manteve-se constante no tempo. As velhas fronteiras que tanto nos orgulham são talvez a única coisa consistente que erguemos. Deram-nos uma identidade cultural única, de elevado apuro e tempero, e que pode muito bem vir a ser a mais-valia que nos resta, se a tanto nos chegarem a inteligência e muito trabalho. E se ao menos isso conseguirmos não estragar. Sem “saudades do futuro”, claro está.

Historiador. Escreve ao sábado