Braga-1966. A primeira festa minhota no Jamor e a taça escondida na cama

Braga-1966. A primeira festa minhota no Jamor e a taça escondida na cama


Um golo do argentino Perrichon garante o 1-0 sobre o Vitória de Setúbal no ano da epopeia dos Magriços.


Em mil nove e sessenta e seis, o futebol português entra na Quinta Dimensão, tal é o número de acontecimentos imperdíveis. Para início de conversa, o Sporting é campeão nacional e impede o tetra do Benfica, a que aliás ganha (4-2) pela primeira vez em 11 anos na Luz, numa tarde de pura inspiração de Lourenço, autor de um póquer.

Em Alvalade, o Benfica responde (2-0) e fica a um escasso ponto dos leões, que perdem a liderança na 22.a ronda, após empate no Restelo (1-1) e vitória encarnada sobre o Leixões (2-0). Mas a derrota em Guimarães (2-3), na semana seguinte, é fatal para um Benfica que, desesperado, oferece 20 contos a cada jogador do Varzim (adversário dos leões na derradeira jornada) para vencer o Sporting. O expediente não resulta e há festa rija na Póvoa.Como em Lisboa, que se veste de verde e branco.

Nesse domingo, um outro jogo dá nas vistas. Nos Arcos, o Vitória humilha o Braga por 8-1 com bis de Quim, José Maria e Armando. Por essa altura (2 de Maio), as duas equipas ainda não sabem mas vão encontrar-se três semanas mais tarde no Jamor, para a final da Taça.

O Vitória aparece como detentor do troféu (3-1 ao Benfica), o Braga como convidado especial. Atenção, a equipa minhota é um osso duro de roer. Como prova, a irredutibilidade no 1.o Maio com os três grandes (triplo 0-0 com FCP,SLBe SCP, por ordem cronológica). Na Taça, em que a sobrevivência só se conquista com vitórias, o Braga comete a proeza de eliminar Benfica (4-1, 1-3) e Sporting (1-1, 1-1, 1-0).

É o ano do Mundial-66 e Portugal faz–se representar pelos Magriços. Antes de entrar em estágio, o setubalense Jaime Graça joga a final da Taça. É o dia 22 de Maio de 1966 e o Braga alinha com este onze: Armando; Mário, Coimbra, Juvenal e José Mário; Canário e Luciano; Bino, Perrichon, Adão e Estêvão.

Por capricho, o apelido do árbitro é Braga. Mais precisamente Braga Barros. Durante 76 minutos não se vêem golos. De repente, uma bola é metida nas costas da defesa vitoriana e Perrichon isola-se. O argentino, hoje com 71 anos de idade e já em Portugal para assistir à final, não perdoa no frente-a-frente com o guarda-redes Félix Mourinho. Um-zero e é tudo. Na tribuna de honra, a entrega da Taça pelo presidente Américo Thomaz faz-se na presença dos capitães (Canário mais Jaime Graça). Segue-se a festa.

Conta o guarda-redes Armando: “Eu saí da baliza e vi todos os outros, os jogadores, o treinador, o massagista e outros. Parecíamos ovelhas tresmalhadas, uns para um lado, outros para outro. Depois foram as comemorações normais de quem não está habituado a ganhar. Quando acabou o jogo perdemos a cabeça, ao ponto de a taça desaparecer. Andou toda a gente à procura dela. Tinha sido um jogador, salvo erro o Coimbra, que pegou nela e a meteu na cama.” Agora já mora em Braga.Sozinha, à espera de companhia. Será desta?