Apostas. Há lodo no ténis

Apostas. Há lodo no ténis


16 jogadores do Top50 são suspeitos de participarem em esquemas de combinação de resultados nos últimos dez anos. Oito deles estão no primeiro Grand Slam de 2016.


Está tudo empacotado na mala para seguir rumo à primeira ronda do Open da Austrália. Mas a televisão dá conta de uma notícia de última hora: a BBC e o site online BuzzFeed acabam de anunciar um escândalo de esquema de resultados combinados que envolve 16 jogadores do top-50 do circuito ATP, e oito deles estarão entre os 32 do primeiro grand slam do ano. E agora? Bom, agora antes de seguir para Melbourne vamos perceber a história toda (ou parte dela).

Logo que a bomba foi lançada, a ATP veio defender que “as autoridades do ténis rejeitam qualquer sugestão de que as provas de combinação de resultados terão sido, de alguma forma, suprimidas”, como escreveu o diretor Chris Kermode em comunicado. E isto, porque a Tennis Integrity Unit (TIU) criada em 2008 pelas quatro entidades do ténis mundial (ATP, ITF, WTA e a associação dos Grand Slams, que têm de decidir se avançam sob uma suspeita), é a entidade responsável por escrutinar o desporto e alegadas condutas de corrupção. O problema é que a TIU foi sendo notificada ao longo dos últimos dez anos sobre estes jogadores – incluindo vencedores de Grand Slam – mas estes continuaram a competir sem qualquer punição, como avança a investigação.

E quando é que tudo começou? Em 2007 quando a ATP investigou um jogo entre Nikolay Davydenko e Martin Vassallo Arguello. Nenhum dos tenistas foi acusado, mas a investigação não parou, e muitos documentos passados à estação de televisão britânica dizem agora que desde a Rússia ao norte de Itália foram gerados centenas de milhares de pounds em apostas de resultados combinados. Em 2008, 28 jogadores foram notificados, incluindo três partidas disputadas no torneio de Wimbledon. Apesar de um ano depois uma nova lei anticorrupção ter entrado em vigor, todas as suspeitas anteriores a essa data, ficariam sem efeito. “Nenhuma investigação nova será lançada aos jogadores que foram notificados em 2008”, disse um porta-voz da TIU. E assim se manteve durante anos.

Tanto a BBC como a BuzzFeed sabem os nomes – seguidos desde 2003 pelas autoridades -, mas optaram por não os revelar porque não podem aceder aos registos telefónicos, de e-mail ou contas bancárias, algo necessário para comprovar suspeitas de corrupção. Quem é que o pode fazer? A TIU, só que não o fez. “Há a vontade de deixar as coisas escondidas, se eles querem ser sérios e lidar com isto, têm de criar uma unidade íntegra”, disse Benn Gunn, um ex-polícia que conduziu uma investigação sobre as apostas na modalidade que levou à criação da TIU.

Investigação Muito menos com a equipa reduzida que tem_(5 pessoas), estando só presentes apenas em “20 ou 30 torneios por ano”. No entanto Kermode reforçou , no comunicado, que “nenhum jogador ou dirigente é imune a uma investigação, independentemente da sua posição no ranking” e que a TIU, nos últimos dois anos, abriu 18 casos disciplinares, banindo sete tenistas e um dirigente. “Só um desses jogadores chegou ao top 200”, disse o correspondente da BBC Russel Fuller.

E o que têm a dizer os visados disto tudo? “Temos que ser muito agressivos. é um problema tal como o doping. Adorava saber os nomes, é muito importante e sério manter a integridade do ténis”, disse Roger Federer, negando ter sido alguma vez abordado, após ter passado à segunda ronda do Open da Austrália ontem. Para o número um Novak Djokovic resultados combinados “são um crime no desporto”, recordando uma abordagem de que foi alvo em 2006, quando lhe foi oferecido (indirectamente) cerca de 200 mil euros para perder um encontro em São Petersburgo (a que não foi). “Rejeitámos logo, foi algo que me fez sentir muito mal, porque nunca queria estar ligado a algo desse tipo”. Apesar disso, o sérvio rejeita que a corrupção esteja na elite do ténis mundial: “não há provas, é só especulação”, afirmou depois de também vencer na primeira ronda.

Siga lá com a mala, há jogos (e mais por descobrir nesta polémica) na terra dos cangurus.

jose.capucho@ionline.pt