O Príncipe do Dakar com pontaria certeira

O Príncipe do Dakar com pontaria certeira


Conhecido pela sua hiperatividade e determinação em ganhar, Nasser Al-Attiyah veio a Portugal dominar a terceira prova do Mundial de rally-raid. O bicampeão do mundo de todo-o-terreno é um desportista multifacetado, já participou em seis Jogos Olímpicos e até ganhou uma medalha olímpica no tiro. Aos 53 anos, continua a ser uma referência no mundo…


Conhecido pela sua hiperatividade e determinação em ganhar, Nasser Al-Attiyah veio a Portugal dominar a terceira prova do Mundial de rally-raid. O bicampeão do mundo de todo-o-terreno é um desportista multifacetado, já participou em seis Jogos Olímpicos e até ganhou uma medalha olímpica no tiro. Aos 53 anos, continua a ser uma referência no mundo do desporto.

A prova superiormente organizada pelo Automóvel Club de Portugal (ACP) contou com os grandes especialistas do todo-o-terreno, com destaque para Nasser Al-Attiyah, vencedor do mítico Dakar por cinco vezes! O piloto qatari tem outras competências pouco conhecidas. Há quase três décadas que ocupa o seu tempo com as corridas de automóveis e o tiro, sendo também um exímio cavaleiro. Na sua vida tudo se passa a grande velocidade e com muita precisão, tornando-se um ícone no seu país.

Faz parte de uma das principais famílias do Qatar, proprietária do maior grupo imobiliário do país, e é o mais velho de sete irmãos. Nasser não é familiar direto do emir do Qatar, Hamad bin Khalifa Al Thani, mas a proximidade da sua família com Al Thani permite-lhe ser tratado com toda a honra e respeito e até recebeu o título de Príncipe. É também primo do presidente do Paris Saint-Germain, Nasser Al-Ghanim Khelaïfi.

Nasser sempre gostou de praticar desporto. Em jovem, fez atletismo e ginástica e chegou a tentar o futebol, mas o seu talento foi parar a outras áreas. Aos 12 anos, já conduzia nas dunas à volta da capital, Doha, e quando fez 18 anos recebeu um Nissan Patrol; já nessa altura acompanhava o pai na caça, foi aí que ganhou o gosto pelo tiro.

O Qatar tem poucos atletas relevantes pelo que as suas façanhas nas estradas de todo o mundo e nos campos de tiro fizeram dele um herói nacional. Com grande determinação fez questão de contrariar a ideia de que não é possível ser muito bom em dois desportos ao mesmo tempo – as suas performances aparecem em alguns manuais escolares. «Depois de lerem coisas sobre mim, muitos jovens querem participar em corridas e fazer tiro», admitiu Nasser Al-Attiyah, que também é um exímio cavaleiro, mas deixou o hipismo com medo de se lesionar e ficar impedido de participar nas suas principais paixões que são os automóveis e o tiro.

Começou a correr em 1989 e durante sete anos não teve grandes apoios. O presidente da federação de desporto automóvel e moto do Qatar pertencia a uma família rival dos Al-Attiyah e promovia outros pilotos. Essa situação fê-lo optar pelo tiro, uma paixão que se manteve para a vida. Quando o seu primo Khalifa Al-Alttiah foi eleito presidente da federação o Príncipe do Qatar voltou a tempo inteiro às corridas.

Sonho olímpico

Foi campeão asiático de tiro em 2001 e 2006 e integrou a seleção campeã em 2002. Desde 1994 que participa no Campeonato do Mundo de Tiro, mas nunca conseguiu o título mundial, e conhece bem o palco olímpico uma vez que representou o Qatar em seis olimpíadas na modalidade de tiro aos pratos. Foi 15.º em Atlanta 1996, terminou em sexto nos jogos de Sydney 2000, foi quarto classificado em Atenas 2004, perdeu a medalha no desempate, terminou na 15.ª posição em Pequim 2008, antes de ganhar a medalha de bronze em Londres 2012. «Sempre sonhei com os Jogos Olímpicos e com uma medalha olímpica, que é diferente de outros prémios. Ganhei o Dakar e muitas provas do Mundial de ralis e do campeonato do Médio Oriente, mas quando conquistei a medalha de bronze a sensação foi diferente. Fiquei muito orgulhoso por representar o meu povo», disse com grande sentimento patriótico. Nasser Al-Attiyah é um dos seis atiradores que conseguiu a pontuação máxima de 150 alvos na final do campeonato asiático de tiro em 2012. O feito ocorreu um dia depois de ter desistido no Dakar quando liderava a prova. As más-línguas insinuaram que abandonou intencionalmente a prova para poder participar no campeonato. Quatro anos depois, no Rio 2016, ficou em 31.º lugar e falhou os jogos de Tóquio 2020. Doze anos depois de conquistar a medalha olímpica, Nasser Al-Attiyah busca nova glória nos Jogos Olímpicos Paris 2024. No final do ano passado conquistou a medalha de bronze na competição individual e fez parte da equipa que conquistou a prata nos jogos asiáticos. Considerou essas performances um incentivo para conseguir a qualificação para as olimpíadas no próximo verão.

Está determinado a voltar a fazer parte da elite olímpica e a conquistar nova medalha: «Há muito que comecei a preparar-me para o desafio que é Paris». A poucos meses do maior evento desportivo do mundo, referiu que «será a sétima participação em Jogos Olímpicos». «Não será fácil, vou ter uma preparação rigorosa, com um estágio de dois meses em Itália e a participação em diversas competições de tiro locais, regionais e internacionais».

Nasser pratica tiro de competição há 30 anos, mas é também um piloto muito rápido e versátil. «O meu sonho era ser campeão mundial de ralis e campeão de tiro. A diferença entre disparar e conduzir é que no tiro tenho de estar calmo, manter a adrenalina sob controlo e manter-me focado num único alvo. Nas corridas é diferente, tenho de ser muito ativo e dinâmico e ter reações rápidas para controlar o carro», explicou. Há, no entanto, um aspeto onde se complementam. «O tiro ajudou-me a manter a concentração e a ser mentalmente forte, isso é muito importante porque andamos no sempre máximo. Se perder a concentração os erros podem acontecer. Tento ser inteligente e quando sinto que estou a perder a concentração reduzo a velocidade», admitiu.

Figura incontornável no mundo do desporto automóvel, Nasser Al-Attiyah foi campeão do mundo de ralis no agrupamento de Produção e no WRC 2 (patamar inferior do Mundial de ralis), ganhou o campeonato de ralis do Médio Oriente por 16 vezes e conquistou a Taça do Mundo de Ralis Todo-o-Terreno cinco vezes. Participou em provas do Mundial de ralis e tem como melhor resultado o quarto lugar no Rali de Portugal. Fez uma passagem pela velocidade no Campeonato do Mundo de carros de Turismo e depois fez pontaria para o todo-o-terreno, onde tem obtido inúmeros êxitos. Para vencer «é importante ser talentoso, mas não se trata apenas de talento». «É necessário trabalhar muito em termos físicos e saber usar a mente e ser inteligente. Diria que 40% é de talento e 60% de trabalho. E claro, é preciso arriscar para sermos melhores», afirmou quem sabe.

Feliz em Portugal

O piloto do Qatar dominou o BP Ultimate Rally-Raid Portugal com o poderoso Hunter T1, um protótipo com 400 cv. Nasser Al-Attiyah foi um dos protagonistas da prova com 1.008 quilómetros feitos ao cronómetro por estradões de terra. Ganhou o prólogo, uma classificativa espetáculo para os fãs, e duas das cinco etapas, conseguindo uma vantagem que depois controlou com grande mestria. Numa competição onde estiveram as grandes estrelas do todo-o-terreno mundial, destaque também para o segundo lugar de João Ferreira que ficou a 2m49s do bicampeão do mundo. O piloto do Mini JCW Plus fez uma grande prova, a exemplo do que tinha acontecido no Dakar, e mostrou que há excelentes pilotos em Portugal. Nasser Al-Attiyah já tinha corrido no nosso país, mas esta prova do ACP surpreendeu o experiente piloto. «Não foi fácil. Estivemos sempre a atacar para não perder tempo. A terceira etapa foi muito, muito difícil, nunca tinha feito um classificativa tão difícil», assegurou. No final, não poupou nos elogios. «Portugal é quase a minha segunda casa. Tenho muitos amigos aqui e estou feliz por ganhar esta fantástica prova. Obrigado à organização, ao país e a todos os envolvidos! Não é fácil fechar estradas e montar uma prova como esta. Obrigado aos espetadores», disse o piloto qatari, que deixou ainda uma palavra para os seus adversários: «O João Ferreira e o Lucas Moraes tiveram um excelente ritmo, estavam perto… eles são a nova geração do todo-o-terreno».