Objetivo cumprido. Luís Montenegro conseguiu mesmo guardar os nomes que vão integrar o novo Governo até à hora em que entrou no Palácio de Belém. Com a comunicação social em peso a anunciar nomes e pastas ao longo de todo o dia, a verdade é que o acerto final do elenco governativo foi entregue em primeira mão a Marcelo Rebelo de Sousa.
Este era um ponto de honra para o novo primeiro-ministro, que quis começar a marcar a diferença com o seu antecessor logo nos primeiros atos como chefe de Governo.
São 17 ministros, 7 mulheres e 10 homens que compõem um Governo com poucos independentes e muitos nomes do PSD.
O vigésimo quarto Governo Constitucional tem muitos nomes próximos de Luís Montenegro, que integram o seu núcleo duro e que claramente se preparam para uma missão de combate político. Os últimos dias terão acentuado a necessidade de encontrar os nomes que deem garantias de coesão interna, evitando surpresas. O escasso número de independentes foi a nota negativa mais sublinhada pela Oposição, considerando que revela, pelo menos na aparência, falta de capacidade de recrutamento na sociedade civil, facto que se deverá ter acentuado nos últimos dias, face às dificuldades de fazer eleger José Pedro Aguiar-Branco como presidente da Assembleia da República. É certo que Rita Júdice, na Justiça, Margarida Blasco, na Administração Interna, Fernando Alexandre, na Educação, e Dalila Rodrigues, na Cultura, são independentes, embora nos últimos tempos tenham colaborado ativamente com o PSD – e Fernando Alexandre já tinha mesmo integrado um dos Governos de Passos Coelho, como secretário de estado Adjunto da Administração Interna.
A bancada do PSD no Parlamento Europeu, agora em fim de mandato, foi também, claramente, uma base de recrutamento para Luís Montenegro. Com Paulo Rangel à cabeça, Maria da Graça Carvalho e José Manuel Fernandes são os outros dois nomes que saem de Bruxelas diretamente para ocupar pastas importantes no Executivo. Paulo Rangel acumula os Negócios Estrangeiros com o lugar de número dois do Governo, Maria da Graça Carvalho fica com a pasta do Ambiente e Energia e José Manuel Fernandes vai dirigir o Ministério da Agricultura e Pesca. Tudo pastas que têm uma forte influência das diretivas europeias e que os até agora eurodeputados acompanharam de perto nas instâncias europeias. Aos sociais-democratas regressados de Bruxelas junta-se também o líder do CDS-PP, Nuno Melo, que vai ocupar uma pasta que também Paulo Portas já ocupou, a da Defesa Nacional.
Guarda avançada para o combate político
Ao longo dos últimos dias, foi unânime a opinião de que o novo Governo teria de ter uma forte componente política, capaz de enfrentar os desafios que um Governo minoritário como o que agora toma posse terá que ultrapassar.
Para a difícil tarefa, Montenegro conta com António Leitão Amaro na presidência do Conselho de Ministros, com a missão de ajudar o primeiro-ministro na coordenação de toda a atividade governativa. A fazer dupla com Hugo Soares no trabalho de negociação parlamentar, onde este Governo terá que perder muitas horas, estará Pedro Duarte, com uma longa carreira política que começou na JSD e passou pelo Governo, como secretário de Estado da Juventude de Pedro Santana Lopes. Pedro Duarte que vai ser o próximo ministro dos Assuntos Parlamentares e é também muito próximo de Marcelo Rebelo de Sousa, tendo sido o escolhido para dirigir a campanha do Presidente na sua primeira candidatura a Belém. Nos últimos anos, tem trabalhado no setor privado, como diretor de corporate affairs da Microsoft.
É neste trio que Luís Montenegro aposta para os árduos trabalhos de negociação permanente com os vários partidos representados no Parlamento, particularmente com os dois maiores, PS e Chega, que, como os últimos dias provaram, prometem não fazer vida fácil ao novo Governo. Se tiverem sucesso, podem garantir maior durabilidade a um Executivo para o qual, ainda antes de ter tomado posse, já muita gente prevê uma vida curta.
Ensino Superior na Educação e Juventude ganha Ministério
Fernando Alexandre é um dos independentes que volta ao Governo, depois de ter sido secretário de Estado com Passos Coelho, onde entrou pela mão de Miguel Macedo. Agora, o economista assume uma das pastas mais importantes do Executivo. Se já se esperavam dificuldades no Ministério da Educação, com a junção do Ensino Superior e da Ciência a tarefa é ainda mais complexa. Não será por acaso que este é um dos nomes mais elogiados das escolhas de Montenegro. Fernando Alexandre é também vice-presidente do Conselho Económico e Social, onde trabalhou lado a lado com Francisco Assis.