Duelo histórico: Trump ou Kamala?


Aparentemente a vitória de Kamala só é possível com a mobilização dos moderados de direita, das mulheres e dos destratados latinos.


Nota prévia: O Orçamento do Estado foi patrioticamente aprovado na generalidade. Passou à fase da discussão na especialidade que permite alterações ao documento. A composição do Parlamento, com várias geometrias possíveis para formar maioria absoluta, tanto pode dar sequência lógica à votação na generalidade como criar uma crise política em caso de impasse ou de chumbo do documento final. É natural que haja picos de tensão e suspense nos próximos dias e eventualmente até ameaças de rutura, desde logo de um governo a quem podem ser impostas coisas que não quer. É desejável que o bom senso da generalidade se mantenha. Caso contrário, dificilmente o país será governável sem novas eleições legislativas, por muito inconvenientes que sejam.

1. Por mais informação que se procure, não há como antever quem vai ganhar as presidenciais americanas, porventura as mais importantes de sempre. Pela primeira vez, os americanos estão à beira de levar ao poder alguém que visa instalar uma ditadura, como o próprio Trump já reconheceu. Os trumpistas incondicionais podem até não ser adeptos de ditaduras, mas é gente de ideias fixas, não contaminável por qualquer dúvida. Já o eleitor kamaliano é mais flexível, variado ideologicamente e permeável à dúvida e à oscilação. Aparentemente, uma vitória de Kamala só pode ser tangencial e resultar de um sobressalto cívico de eleitores, nomeadamente mulheres e latinos, e de moderados da direita republicana que rejeitem Trump e prezem os valores bicentenários da democracia americana, uma das mais antigas, complexas e sofisticadas do mundo. Segundo os especialistas, a contagem de votos e os processos jurídicos em casos de divergência serão muitos, longos e mais controversos e tangenciais do que nunca. É uma tendência que se agrava quanto mais pequena é a diferença de votos. O sistema americano de eleição presidencial resulta de uma síntese híbrida do valor do conceito um eleitor um voto conjugado com círculos de estados em que são compensados os menos populosos. Dessa forma, evita-se que os maiores decidam tudo, criando clivagens que poderiam levar a uma conflitualidade separatista num país federal. É para os estados mais populosos não abafarem os mais pequenos que a decisão final quanto ao presidente é remetida o colégio de Grandes Eleitores. Por isso, sucedeu várias vezes que quem teve mais votos nas urnas não ganhasse a presidência. O próprio Trump foi indicado para Presidente, apesar de Hillary Clinton ter recebido mais três milhões de votos. O problema é que, agora, Trump proclama antecipadamente que qualquer derrota sua resultará de uma fraude. O ex-Presidente está a aquecer a sua falange para um novo assalto físico ao poder, se voltar a perder como sucedeu face a Biden. Em contrapartida, se ganhar, atuará numa lógica de vingança contra os que o derrotaram ou não apoiaram a sua desordem terrorista há quatro anos. O regresso de Trump, um fanfarrão, pato-bravo falhado e autocrata, só será evitado se os democratas genuínos, de direita ou de esquerda, as mulheres destratadas e as minorias, designadamente as latinas, se mobilizarem para votar na democrata. Kamala é uma cidadã birracial que não teve vida fácil e se dedicou à causa pública. Honraria todas as mulheres do mundo livre se fosse a primeira a ocupar o lugar mais importante do mundo.

2. A fotografia colocada na manchete do Nascer do SOL de um Guterres a cumprimentar curvado um todo poderoso Putin na recente cimeira dos BRICS, em Kazan, é simbólica. A vénia ilustra não apenas a sua postura pessoal mas também a forma fascinada e subserviente como o Ocidente encara o crescimento económico, político e militar dos BRICS e de muitos países iliberais, onde avultam as duas maiores tiranias da atualidade, a russa e a chinesa, e caricaturas grosseiras de democracia como o Brasil, a Índia e África do Sul. Isto para não falar da aliança sinistra que russos e chineses mantêm com outros estados africanos, latino-americanos, islâmicos e asiáticos. A afirmação dos BRICS resulta de um indiscutível crescimento económico que os analistas, empresários e políticos ocidentais veneram, mas que é feito do atropelo de regras democráticas, da exploração do trabalho e da pilhagem dos recursos naturais de forma nunca vista. Ao contrário do que se pensou nos anos 90, esse desenvolvimento não favoreceu a expansão das democracias liberais. Apenas criou a ilusão a esses povos de que são mais livres por terem acesso a mais bens materiais. Claro que o crescimento do PIB do Sul Global (expressão da moda) tem aspetos positivos. Mas não haja ilusões. As principais economias desse movimento são inimigas do Ocidente, da democracia, da diversidade cultural e da autonomia individual. Os dirigentes dos BRICS ou dos estados iliberais são castas que desprezam valores humanitários e se servem de métodos opacos ou ditatoriais para se manterem no poder, beneficiando do crescimento para roubarem tudo o que podem. Embasbacados, democratas europeus e americanos saúdam diariamente a circunstância do PIB desses países ir a caminho dos 40% a nível mundial. Não querem perceber que, ao mesmo tempo, há uma estratégia totalitária que visa a destruição dos valores democráticos ocidentais. Para os poderosos totalitários dos BRICS e quejandos, a prioridade é evitar a contaminação vinda das democracias liberais, nem que seja asfixiando-as economicamente como está a acontecer.

3. Na vila de Rilleux-la-Pape, nos arredores de Lyon, dois autocarros de transporte público foram incendiados na noite das bruxas e dois polícias foram feridos. São cenas recorrentes em França, embora Rilleux seja uma zona relativamente calma. Os autores são jovens encapuzados ligados ao tráfico de droga. Perante os factos, o presidente da câmara prometeu uma reação forte. Defendeu que as famílias de jovens menores envolvidos sejam sancionadas por não conseguirem tomar conta deles, perdendo certos apoios sociais. Nos próximos dias, essas famílias serão convocadas e ouvidas. Não há nota de haver muitos protestos e indignação à ideia deste político. Cá, caiu o Carmo e a Trindade na esquerda quando Ricardo Leão, o socialista presidente da Câmara de Loures, subscreveu a ideia, exposta pelo Chega e subscrita pelo PSD locais, de os envolvidos em distúrbios poderem perder as casas sociais que ocupam. Surgiram reações indignadas nalguns setores, designadamente de Alexandra Leitão, uma imitação socialista de Odete Santos, mas sem sentido humor. Leão afirmou inicialmente que o despejo das casas devia ser feito sem dó nem piedade, mas, depois, encolheu as garras e esclareceu que qualquer punição só pode acontecer após tudo transitar em julgado. Ou seja, no dia de São Nunca. O assunto tem tudo para se tornar fraturante. Leão vai passar mal e o seu lugar de líder do PS/Lisboa já está em causa. Das as funções que ocupa, Ricardo Leão lá saberá porque razão propõe sanções deste tipo a arruaceiros ou a gente que não paga rendas simbólicas anos a fio.

4. Três dos membros da comissão mais qualificados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ) decidiram demitir-se, sobretudo por discordarem dos procedimentos impostos no organismo pelos quais responsabilizam a presidente, Licínia Girão. Desde que assumiu funções, Licínia foi sempre contestada por suposta escassez de prestígio profissional. A isso juntou-se um alegado excesso de benesses pessoais (senhas de presença abundantes) e a promoção de ações de formação que não se coadunam com o propósito da CCPJ pelas quais também seria remunerada. Numa altura em que o ministro Pedro Duarte quer mexer no setor da comunicação social, é óbvio que não pode ignorar tão lamentável e pitoresca situação que divide os jornalistas e descredibiliza a profissão. É urgente uma solução que reconcilie a classe à volta do reconhecimento de um título profissional. Existem várias hipóteses e – diga-se – nenhuma passa pela criação de uma Ordem. Nem tão pouco pelo regresso da ilegal responsabilidade de atribuição da carteira ao sindicato dos jornalistas, embora se reconheça que sempre era melhor então do que agora com a CCPJ.

Duelo histórico: Trump ou Kamala?


Aparentemente a vitória de Kamala só é possível com a mobilização dos moderados de direita, das mulheres e dos destratados latinos.


Nota prévia: O Orçamento do Estado foi patrioticamente aprovado na generalidade. Passou à fase da discussão na especialidade que permite alterações ao documento. A composição do Parlamento, com várias geometrias possíveis para formar maioria absoluta, tanto pode dar sequência lógica à votação na generalidade como criar uma crise política em caso de impasse ou de chumbo do documento final. É natural que haja picos de tensão e suspense nos próximos dias e eventualmente até ameaças de rutura, desde logo de um governo a quem podem ser impostas coisas que não quer. É desejável que o bom senso da generalidade se mantenha. Caso contrário, dificilmente o país será governável sem novas eleições legislativas, por muito inconvenientes que sejam.

1. Por mais informação que se procure, não há como antever quem vai ganhar as presidenciais americanas, porventura as mais importantes de sempre. Pela primeira vez, os americanos estão à beira de levar ao poder alguém que visa instalar uma ditadura, como o próprio Trump já reconheceu. Os trumpistas incondicionais podem até não ser adeptos de ditaduras, mas é gente de ideias fixas, não contaminável por qualquer dúvida. Já o eleitor kamaliano é mais flexível, variado ideologicamente e permeável à dúvida e à oscilação. Aparentemente, uma vitória de Kamala só pode ser tangencial e resultar de um sobressalto cívico de eleitores, nomeadamente mulheres e latinos, e de moderados da direita republicana que rejeitem Trump e prezem os valores bicentenários da democracia americana, uma das mais antigas, complexas e sofisticadas do mundo. Segundo os especialistas, a contagem de votos e os processos jurídicos em casos de divergência serão muitos, longos e mais controversos e tangenciais do que nunca. É uma tendência que se agrava quanto mais pequena é a diferença de votos. O sistema americano de eleição presidencial resulta de uma síntese híbrida do valor do conceito um eleitor um voto conjugado com círculos de estados em que são compensados os menos populosos. Dessa forma, evita-se que os maiores decidam tudo, criando clivagens que poderiam levar a uma conflitualidade separatista num país federal. É para os estados mais populosos não abafarem os mais pequenos que a decisão final quanto ao presidente é remetida o colégio de Grandes Eleitores. Por isso, sucedeu várias vezes que quem teve mais votos nas urnas não ganhasse a presidência. O próprio Trump foi indicado para Presidente, apesar de Hillary Clinton ter recebido mais três milhões de votos. O problema é que, agora, Trump proclama antecipadamente que qualquer derrota sua resultará de uma fraude. O ex-Presidente está a aquecer a sua falange para um novo assalto físico ao poder, se voltar a perder como sucedeu face a Biden. Em contrapartida, se ganhar, atuará numa lógica de vingança contra os que o derrotaram ou não apoiaram a sua desordem terrorista há quatro anos. O regresso de Trump, um fanfarrão, pato-bravo falhado e autocrata, só será evitado se os democratas genuínos, de direita ou de esquerda, as mulheres destratadas e as minorias, designadamente as latinas, se mobilizarem para votar na democrata. Kamala é uma cidadã birracial que não teve vida fácil e se dedicou à causa pública. Honraria todas as mulheres do mundo livre se fosse a primeira a ocupar o lugar mais importante do mundo.

2. A fotografia colocada na manchete do Nascer do SOL de um Guterres a cumprimentar curvado um todo poderoso Putin na recente cimeira dos BRICS, em Kazan, é simbólica. A vénia ilustra não apenas a sua postura pessoal mas também a forma fascinada e subserviente como o Ocidente encara o crescimento económico, político e militar dos BRICS e de muitos países iliberais, onde avultam as duas maiores tiranias da atualidade, a russa e a chinesa, e caricaturas grosseiras de democracia como o Brasil, a Índia e África do Sul. Isto para não falar da aliança sinistra que russos e chineses mantêm com outros estados africanos, latino-americanos, islâmicos e asiáticos. A afirmação dos BRICS resulta de um indiscutível crescimento económico que os analistas, empresários e políticos ocidentais veneram, mas que é feito do atropelo de regras democráticas, da exploração do trabalho e da pilhagem dos recursos naturais de forma nunca vista. Ao contrário do que se pensou nos anos 90, esse desenvolvimento não favoreceu a expansão das democracias liberais. Apenas criou a ilusão a esses povos de que são mais livres por terem acesso a mais bens materiais. Claro que o crescimento do PIB do Sul Global (expressão da moda) tem aspetos positivos. Mas não haja ilusões. As principais economias desse movimento são inimigas do Ocidente, da democracia, da diversidade cultural e da autonomia individual. Os dirigentes dos BRICS ou dos estados iliberais são castas que desprezam valores humanitários e se servem de métodos opacos ou ditatoriais para se manterem no poder, beneficiando do crescimento para roubarem tudo o que podem. Embasbacados, democratas europeus e americanos saúdam diariamente a circunstância do PIB desses países ir a caminho dos 40% a nível mundial. Não querem perceber que, ao mesmo tempo, há uma estratégia totalitária que visa a destruição dos valores democráticos ocidentais. Para os poderosos totalitários dos BRICS e quejandos, a prioridade é evitar a contaminação vinda das democracias liberais, nem que seja asfixiando-as economicamente como está a acontecer.

3. Na vila de Rilleux-la-Pape, nos arredores de Lyon, dois autocarros de transporte público foram incendiados na noite das bruxas e dois polícias foram feridos. São cenas recorrentes em França, embora Rilleux seja uma zona relativamente calma. Os autores são jovens encapuzados ligados ao tráfico de droga. Perante os factos, o presidente da câmara prometeu uma reação forte. Defendeu que as famílias de jovens menores envolvidos sejam sancionadas por não conseguirem tomar conta deles, perdendo certos apoios sociais. Nos próximos dias, essas famílias serão convocadas e ouvidas. Não há nota de haver muitos protestos e indignação à ideia deste político. Cá, caiu o Carmo e a Trindade na esquerda quando Ricardo Leão, o socialista presidente da Câmara de Loures, subscreveu a ideia, exposta pelo Chega e subscrita pelo PSD locais, de os envolvidos em distúrbios poderem perder as casas sociais que ocupam. Surgiram reações indignadas nalguns setores, designadamente de Alexandra Leitão, uma imitação socialista de Odete Santos, mas sem sentido humor. Leão afirmou inicialmente que o despejo das casas devia ser feito sem dó nem piedade, mas, depois, encolheu as garras e esclareceu que qualquer punição só pode acontecer após tudo transitar em julgado. Ou seja, no dia de São Nunca. O assunto tem tudo para se tornar fraturante. Leão vai passar mal e o seu lugar de líder do PS/Lisboa já está em causa. Das as funções que ocupa, Ricardo Leão lá saberá porque razão propõe sanções deste tipo a arruaceiros ou a gente que não paga rendas simbólicas anos a fio.

4. Três dos membros da comissão mais qualificados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ) decidiram demitir-se, sobretudo por discordarem dos procedimentos impostos no organismo pelos quais responsabilizam a presidente, Licínia Girão. Desde que assumiu funções, Licínia foi sempre contestada por suposta escassez de prestígio profissional. A isso juntou-se um alegado excesso de benesses pessoais (senhas de presença abundantes) e a promoção de ações de formação que não se coadunam com o propósito da CCPJ pelas quais também seria remunerada. Numa altura em que o ministro Pedro Duarte quer mexer no setor da comunicação social, é óbvio que não pode ignorar tão lamentável e pitoresca situação que divide os jornalistas e descredibiliza a profissão. É urgente uma solução que reconcilie a classe à volta do reconhecimento de um título profissional. Existem várias hipóteses e – diga-se – nenhuma passa pela criação de uma Ordem. Nem tão pouco pelo regresso da ilegal responsabilidade de atribuição da carteira ao sindicato dos jornalistas, embora se reconheça que sempre era melhor então do que agora com a CCPJ.