A narrativa russa tem novo capítulo, com o Kremlin a dizer que a Ucrânia se prepara para atacar a península da Crimeia com armas ocidentais de longo alcance (mísseis HIMARS de origem norte-americana e Storm Shadow ingleses), e que se isso acontecer irá responder contra alvos militares e políticos em território ucraniano. A ameaça do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, vem fora de tempo, pois há vários meses que a península tem sido atacada com esses mísseis, o que mudou agora é que a ofensiva ucraniana ameaça a presença russa na Crimeia. O senhor da guerra e líder do grupo Wagner, Yevgney Prigozhin, confirmou isso mesmo ao dizer que «até a Crimeia está em risco». O aviso de Moscovo sobre eventuais ataques a alvos políticos e centros de comando poderá significar, em caso extremo, o ataque ao palácio presidencial, residência oficial de Zelenski, e outros locais estratégicos, o que levaria esta guerra para um patamar extremamente perigoso.
Depois de ameaçar os centros de comando na Ucrânia, Putin veio dizer que já está disponível a nova geração de mísseis balísticos intercontinentais Sarmat, uma arma poderosa, com alcance de 18 mil quilómetros. Cada míssil transporta 10 a 16 ogivas nucleares, cada uma dirigida a um alvo diferente. Obviamente não disse que as iria utilizar, mas o Presidente americano, Joe Biden, veio avisar que «o risco de Putin usar armas nucleares táticas é real».
Na frente de batalha, a contraofensiva está a avançar a ritmo lento. «Há pessoas que pensam que é um filme de Hollywood e esperam resultados imediatos, mas não é o caso», disse Volodymyr Zelensky. Em entrevista à BBC, admitiu também que o progresso na contraofensiva está a ser «mais lento do que o desejado». Mesmo assim, a Ucrânia disse ter recuperado ao exército russo oito localidades e uma área de 113 km2. É verdade que são pequenas aldeias, mas é um sinal de libertação. As forças ucranianas têm como próximo objetivo isolar a Crimeia da região do Donbas. Vai ser uma tarefa difícil, pois implica aniquilar a linha defensiva russa para conquistar os 100 quilómetros que faltam. Especialistas militares voltaram a afirmar que a Ucrânia ainda não utilizou todo o potencial militar que tem à sua disposição e que «o golpe principal ainda está por acontecer». O passo decisivo pode acontecer com a chegada dos aviões F-16 da quarta geração, prevista para este verão.
Como seria de esperar, a Rússia continua no seu jogo de sombras e não reconhece que perdeu território, apesar de haver registo de os militares russos terem abandonado equipamento e munições na fuga. Pela segunda semana consecutiva os russos estão a transferir miliares do sul para as frentes de leste e estão a atacar as zonas de Lugansk.
Entretanto, a ONU deu conta de que as tropas russas estão a bloquear a entrada de ajuda humanitária nas zonas que ficaram inundadas pela destruição da barragem de Kakhovka. Dentro da política absurda que vem praticando, o Kremlin justificou o bloqueio à ajuda humanitária com questões de segurança.
Esta semana surgiram fotografias de um veículo supostamente armadilhado junto à barragem e com soldados russos por perto, o que pode ser mais uma prova de que o ato bárbaro que provocou, até ao momento, a morte de 55 pessoas foi realizado pelos russos.
No plano político, a Conferência Internacional sobre a Recuperação da Ucrânia, que decorreu em Londres e reuniu 60 países, apontou para a necessidade de recuperar 6.000 prédios de habitação, 20.000 casas particulares, 122 pontes, 500 instalações de saúde e mais de 1.000 escolas. De acordo com um relatório do Banco Mundial, o custo estimado da reconstrução da Ucrânia em 10 anos ascende a 376 mil milhões de euros.