The Great American Disaster. “Há casais que se conheceram aqui nos anos 80e continuam a cá vir”

The Great American Disaster. “Há casais que se conheceram aqui nos anos 80e continuam a cá vir”


É o restaurante americano mais antigo da capital. Lá dentro podemos viajar aos EUA e ao final do século passado, sem sair de Lisboa. Enquanto o The Great American Disaster resiste à passagem do tempo, muitos outros espaços vão abrindo portas, querendo proporcionar aos seus clientes uma experiência 100% americana.


Os EUA são o destino de sonho de muitos. Os filmes de Hollywood marcam gerações e dominam a indústria cinematográfica mundial com os seus grandes sucessos de bilheteira. Na música, acontece o mesmo: do blues de B.B. King; ao jazz de Louis Armstrong; passando pelo rock and roll de Elvis Presley ou a folk de Bob Dylan. O patriotismo é também uma das principais características dos americanos – com muitas casas decoradas com a bandeira -, tal como o foco no desporto.
Quando pensamos nos EUA, pensamos em grande, não fosse este um dos países onde as pessoas mais consomem.
E com a comida? Grandes hambúrgueres, pizzas, frango frito, batidos, panquecas, marshmallows, mac n’Cheese… Os EUA são também sinónimo da cultura da fast-food. E, em Lisboa, há mais de 40 anos que os portugueses podem mergulhar nesse universo, no restaurante The Great American Disaster (GAD), no Marquês de Pombal.

Uma viagem aos anos 50

A noite já caiu. Como sempre, no Marquês, há muito movimento. Há quem pareça regressar a casa ainda de fato, ou de pasta na mão. Outros, mais descontraídos, vão ao encontro de amigos para aproveitar ao máximo mais um final de dia. O destino é precisamente o restaurante. O objetivo? Ter uma experiência 100% americana. O The Great American Disaster é o restaurante americano mais antigo de Lisboa.
Inaugurado no dia 10 de junho de 1981, foi aqui que muitos portugueses comeram os primeiros hambúrgueres. “Marcou uma nova tendência na cidade”, garante o diretor geral do Hotel Florida, Pedro Cardoso. Recorde-se que, nessa altura, o Mcdonald’s ainda não tinha chegado a Portugal – a cadeira instalou-se no país apenas em 1991. “A reação dos lisboetas não poderia ter sido melhor! Com o Expresso e o Diário de Notícias bem perto, assim como muitas outras empresas, o GAD rapidamente se tornou num ponto de encontro e de celebração”, lembra o responsável.
Ao entrar na galeria comercial do edifício do Hotel Florida – que detém o espaço -, somos surpreendidos pelo abandono do que outrora foram lojas de câmbio, de roupa, cafés, etc. Sabe-se que o imóvel foi comprado em 2016 por um fundo de investimento chinês e, na altura, as notícias davam conta de que as lojas se iriam manter. No entanto, cerca de quatro anos depois, os comerciantes começaram a ser confrontados com a hipótese de não verem os seus contratos renovados. Com o passar do tempo, as lojas foram fechando. Hoje só resta a barbearia Brasília e o The Great American Disaster. Segundo o diretor geral do restaurante, o restaurante vai manter-se.
“Não temos documentada a história por detrás do nome do estabelecimento mas, segundo consta, terá sido ideia do antigo fundador e proprietário inspirado numa famosa hamburgueria de Londres com o mesmo nome aberta nos anos 70”, explica Pedro Cardoso. Ao subir até ao primeiro andar, atrás de uma porta de vidro, um cenário colorido contrasta com as paredes cinzentas da antiga galeria comercial. Ao entrarmos, viajamos imediatamente para a América dos anos 50. O vermelho forte dos bancos reluzentes, as cadeiras viniladas a azul bebé, o chão em xadrez preto e branco, bancos altos na entrada, cartazes alusivos à época, pequenas placas de metal com figuras icónicas da altura. Como banda sonora ouvimos grandes nomes como Ella Fitzgerald com a música ‘I Got A Guy’; Margaret Whiting com ‘I Can’t Help It’ e Carmen McRae com ‘My Foolish Heart’.

Uma experiência 100% americana

Sentamo-nos numa das mesas com vista privilegiada para a rotunda do Marquês. “Nos dias de maior movimento, um dos maiores problemas é que toda a gente quer as mesas encostadas à janela”, revela Luciana, gerente, que nos recebe com grande simpatia. Trabalha no The Great American Disaster há três anos. “É muito especial trabalhar aqui por toda a história. Foi realmente a primeira hamburgueria da capital. Foi o lugar escolhido para muitos primeiros encontros de casais que estão juntos até hoje. O lugar onde muitos outros pediram as namoradas em namoro. O mais giro é que ainda há muita gente que mantém o ritual de cá vir nos aniversários das relações. Aliás, muitos trazem os filhos e netos para conhecerem o espaço. É muito especial e emotivo”, afirma a gerente. “O restaurante faz parte da história de muita gente”, frisa. E há grupos que chegam ao restaurante vestidos a rigor. “Vêm vestidos aos anos 50. É muito giro”, acrescenta Luciana. E revela-nos que tudo é cuidado para que o brilho dos assentos se mantenha.
A escolha é óbvia. Não faria sentido ir à hamburgueria mais antiga de Lisboa sem provar os famosos hambúrgueres. Mas começamos com os aros de cebola com queijo cheddar. A lista de entradas estende-se por batata doce assada ou frita; pão de queijo com mozzarela; nachos cheese bites; batata frita com queijo cheddar e bacon; maçaroca de milho assada com manteiga; nuggets de frango e mozzarela sticks. Os preços vão dos 3,80 euros aos 5,80. No que toca aos “pratos principais”, a ementa vai dos hambúrgueres às pizzas e bifes de 200 gramas, 100% Angus.
Segundo Luciana, os clientes procuram, sobretudo, o Gringo Go Home, composto por feijão, carne picada e molho chili. “É picante. É diferente e bem gostoso. Os clientes antigos já o conhecem e, por norma, são fiéis. Quando nos chegam pessoas novas, também encaminhamos para esse”, explica. No entanto, acrescenta Pedro Cardoso, muitas pessoas optam pelo Kiss Kiss com queijo, bacon e molho barbecue e “pelo prato mais emblemático do restaurante”, o Cheesy Gonzalez com queijo, cebola caramelizada, ovo estrelado e chilli. Há uma panóplia de escolhas e os preços vão dos 8,90 aos 13,90. “Muitas pessoas procuram a experiência 100% americana e, por isso, perguntam com o que é que os americanos costumam acompanhar a comida… Com os milkshakes ou a conhecida Pepsi Float, que é Pepsi com gelado de baunilha”, conta ainda a gerente.
Optamos pelo hambúrguer Tropicana: queijo cheddar, ananás grelhado e maionese de alho. Doce e suculento. As batatas fritas estão incluídas.

A américa em Santa Apolónia

Enquanto o The Great American Disaster resiste ao passar do tempo, muitos outros restaurantes americanos abrem em Lisboa. É o caso do Ground Burger, que há quatro semanas abriu o seu quarto espaço em Santa Apolónia. “Tudo começou em 2015, ano em que abrimos o nosso primeiro restaurante em São Sebastião. Antes disso, já tinha sido feita uma investigação e uma viagem pelos EUA, por parte do nosso gerente máximo. Queria perceber a cozinha, como é que os produtos são feitos originalmente. Durante dois anos, foi isso que fez, conhecer como se fazem os melhores hambúrgueres americanos. Os clássicos!”, conta Miguel Lopes, um dos administradores. “Em 2015 abrimos, e o conceito é mesmo esse. Ter um produto de extrema qualidade. Fazemos tudo diariamente na casa: seja o pão, os molhos, os pickles, a própria carne, que é algo que não é muito normal ver nas outras hamburguerias. A carne vem ao pedaço, nós partimos tudo aos pedacinhos e trituramos na máquina para fazer a tal bola do hambúrguer. Era assim que se fazia antigamente. Além dessa autenticidade, pretendemos sempre alinhar a higiene e uma atmosfera divertida e descontraída. Queremos ter as influências daquilo que é servir um hambúrguer nos EUA”, garante.
Depois da abertura da “casa-mãe” o negócio expandiu-se para o Mercado da Ribeira (Time Out Market) e uma roulotte toda em metal – uma airstream dos anos 50/60 -, na Avenida da Índia, em Belém. O espaço em São Sebastião recebeu a produção do filme Velocidade Furiosa. “Eram bastantes e estivemos à conversa com um dos produtores, que também esteve inserido no Star Wars”, lembra.
Como especialidades mais pedidas, segundo o administrador, os espaços têm o Ground Burger, com Carne 100% Black Angus Certificada (150g), queijo cheddar, alface, tomate, cebola grelhada e molho GB Special e o Cheeseburger, um clássico americano que vem com carne 100% Black Angus Certificada (150g), queijo cheddar, picles de pepino, cebola crua, ketchup e mostarda. “Quero ainda destacar um outro que foi criado por nós e teve um feedback bastante positivo: Lobster Burger, que para além da carne 100% Black Angus Certificada (150g), traz lavagante fresco (50g), manteiga noisette, maionese de aipo com malagueta e raspa de lima”, acrescenta Miguel Lopes.
Com a abertura do novo espaço em Santa Apolónia, há ainda uma novidade: Buttermilk Fried Chicken, com peito de frango frito em Buttermilk (130g), molho gribiche, salada de funcho, picles de pepino e tomate azul. “É uma sandes panada de frango, basicamente”, aponta. Os hambúrgueres e sanduíches vão dos 13,95 aos 29,95. A ementa conta ainda com milkshakes, onion rings, batatas fritas, mac and cheese, saladas, gelados e quase 200 cervejas artesanais. No que toca aos clientes, o administrador admite que quase 90 % são turistas. “Quase só os americanos é que acompanham os hambúrgueres com os milkshakes”, revela.
Abrir um espaço em Santa Apolónia era um desejo antigo. O gerente tinha como sonho, desde que veio para Portugal em 2010, abrir um restaurante no Cais da Pedra. A localização, a vista magnífica para o rio, o ambiente mais industrial… “Surgiu da ideia de ser essa a nova imagem que queria criar para o Ground Burger. É o que se identifica mais com a marca”, sublinha. “A decoração foi pensada numa junção do diner americano com a nossa filosofia mais minimalista. Compreendemos muito a questão da visão e do contacto com o interior, exterior. É tudo em vidro. Temos esse interesse máximo na amplitude do espaço. Depois, quisemos aliar as madeiras e o ferro, de uma forma industrial e vintage, que nos remete a memórias. Um lugar old school. Queremos passar a ideia de ambiente quente, acolhedor”, explica. A equipa tem as expectativas altas, mas ainda está a estudar o mercado, a perceber o tipo de cliente. “Queremos ter a casa cheia e que possa ser um sítio onde as pessoas se sentem bem. Que passe a ser este o espaço ‘mãe’”, remata Miguel Lopes.