Poupança. Aforro com regras alteradas, saiba se ainda compensa investir

Poupança. Aforro com regras alteradas, saiba se ainda compensa investir


Governo mexeu nas taxas de remuneração e baixou para 2,5% para novas subscrições. Ainda assim, é o produto financeiro a oferecer os juros mais altos. No entanto, existem outras alternativas, veja quais mais se adequam ao seu perfil.


Depois de ter atingido recordes de procura devido à elevada taxa de remuneração, o Governo resolveu mexer nas condições oferecidas. O limite da taxa-base diminuiu de 3,5% da série anterior – para aqueles que ainda conseguiram investir consoante estas regras, nada muda – para 2,5%. Este limite pode subir consoante os prémios de permanência. Mas também estes mudam, tornando-se menos favoráveis. A estrutura destes prémios começa em 0,25% entre o 2.º e 5.º anos, atingindo os 1,75% nos últimos dois anos do prazo máximo de subscrição. O montante máximo que poderá aplicar também sofreu alterações e passou de 250 mil euros para 50 mil euros.

Outra alteração diz respeito ao alargamento da sua rede de distribuição aos bancos, juntando-se aos CTT e Espaços do Cidadão e a ideia segundo o Ministério de Fernando Medina é “estimular a concorrência” e permitir a redução dos custos de distribuição, respondendo assim às “observações que têm vindo a ser feitas pelo Tribunal de Contas”.

De acordo com a Deco Proteste, a baixa nas taxas de juros nesta nova série de certificados de aforro é um mau sinal para quem poupa. Mas ainda assim afirma que “apesar de as condições remuneratórias terem sofrido uma degradação com a mudança da série E para a série F, a taxa de juro máxima de 2,5% continua a ser superior às taxas oferecidas pela maioria dos depósitos a prazo comercializados pela banca portuguesa. Comparando exclusivamente estes dois tipos de poupança sem risco, os Certificados de Aforro continuam a ser a opção mais favorável”.

 

Outras alternativas

Os Certificados do Tesouro Poupança Valor (CTPV) podem ser outra hipótese para quem pretende à mesma investir em dívida pública. Este produto de poupança oferece uma remuneração mais baixa, e um prémio que vem mais tarde: paga 0,7% nos dois primeiros anos, a taxa sobe para 0,8%, 0,9% e 1% nos anos seguintes, sendo que no sexto e sétimo ano os títulos oferecem uma remuneração de 1,3% e 1,6%. Ou seja, é preciso manter a subscrição até ao final para assegurar as taxas maiores. Em março registaram uma queda de 4,5%, fechando o mês com 13,4 mil milhões de euros aplicados, o valor mais baixo desde maio do 2017. Há 17 meses consecutivos que o stock de Certificados do Tesouro está a minguar.

E se até há bem pouco tempo adquirir Obrigações do Tesouro (OT) era um bom negócio, já que era uma das formas mais rentáveis de aplicar as poupanças a médio ou longo prazo com capital garantido. As OT ganharam uma nova vida quando, em 2016, o Estado lançou as Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) – o novo produto de dívida do Estado. Este produto inverteu a tendência de desinvestimento que as famílias portuguesas vinham fazendo em títulos de dívida.

Em relação ao risco é semelhante à dos certificados, ou seja, só há risco de perder capital se o Estado entrar em incumprimento.

 

Depósitos: juros sobem mas ainda pouco atraentes

Se a simplicidade é uma das vantagens, a taxa de remuneração oferecida torna este produto financeiro menos atrativo. O Banco Central Europeu tem vindo a subir as taxas de juro, mas pouco se tem refletido nas remunerações oferecidas pelas instituições financeiras. Ainda assim, alguns bancos têm vindo a acenar com com taxas na ordem dos 2%, mas mediante algumas condições, nomeadamente a domiciliação de ordenado, cartão de crédito, seguro, etc. É o chamado cross-selling.

De acordo com a Deco, “tipicamente, os depósitos a prazo até 12 meses, que podem ser mobilizados antecipadamente, são a melhor opção para esta primeira fase da poupança. Embora as rentabilidades atuais não sejam particularmente atrativas, o capital está garantido e a liquidez é imediata. Tenha, porém, em atenção a ficha de informação normalizada do depósito, para confirmar se pode levantar o dinheiro antes do fim do prazo, em caso de necessidade”.

Mas se é certo que não existe nenhuma aplicação financeira que esteja 100% isenta de risco, também é verdade que há aplicações que comportam um risco maior do que outras.

Se analisarmos a escala de risco dos vários produtos financeiros disponíveis para os aforradores e investidores, os depósitos estão entre as aplicações mais seguras e, no pior cenário e se o banco um dia falir, os clientes podem recorrer ao Fundo de Garantia de Depósitos até 100 mil euros por banco e por titular.

 

Dicas para investir vs perfil do investidor

Ter em conta o imprevisto

•  Antes de investir, pense se realmente precisa desse dinheiro. Se chegar à conclusão de que não precisa, então poderá começar a aplicar essa verba extra de forma a rentabilizá-la da melhor forma. Não se esqueça de que deve reservar dinheiro para despesas de três a seis meses do agregado familiar para que consiga enfrentar eventuais imprevistos. É o caso, por exemplo, dos custos de saúde.

Investir a longo prazo

• Pense sempre a longo prazo, principalmente se estiver a pensar em apostar no mercado bolsista. A explicação é simples: quanto mais tempo der aos seus investimentos, mais pode arriscar e, como tal, mais pode rentabilizar. Deve investir no mínimo a cinco anos – dez anos é bom e 20 ainda é melhor – para que o montante aplicado em ações seja maximizado e possa minorar perdas temporárias.

Evitar investir tudo no mesmo

•  Não colocar todos os ovos no mesmo cesto é uma das regras de ouro que deve seguir sempre que está
a pensar em investir. Isso significa que não deve deter apenas um título ou títulos de empresas cujos lucros dependem de negócios semelhantes. A explicação é simples: caso aconteça uma alteração no regime legal, o seu património pode sofrer profundas alterações.

Não apostar no que não percebe

•  Se não percebe o produto que uma empresa vende, não compre ações. Se quer investir em dívida pública mas não percebe como funcionam as obrigações do Tesouro, compre certificados de aforro. Se não percebe a descrição da política de investimento no prospeto de um fundo, não o subscreva. Se o depósito a prazo que lhe propõem tem uma fórmula de cálculo para aferir a taxa de juro, troque-o por um depósito de taxa simples.

Evite endividar-se

•  É um pecado capital para o investidor: financiar-se para investir. Se os seus investimentos desvalorizarem, o crédito tem um efeito multiplicador dos prejuízos. Se as suas aplicações subirem, o crédito amortiza o efeito dos ganhos. Qualquer que seja o resultado, os empréstimos para investir nunca têm os efeitos que se desejavam à partida. Só há uma entidade que ganha sempre: o banco, quer o investidor ganhe ou perca.

Ter em conta o perfil

•  Conservador: O investidor tem como grande objetivo preservar o valor investido. Por isso mesmo, prefira investimentos de baixo risco e, como tal, tem também uma expectativa de rentabilidade mais limitada. Neste caso, deve investir, por exemplo, em depósitos a prazo, certificados de aforro e seguros de capitalização.

•  Moderado: O investidor já está disposto a assumir um risco considerável nos investimentos, de forma a potenciar um crescimento sustentado do capital aplicado a médio e longo prazo. Invista, por exemplo, em fundos imobiliários, já que apresentam um risco moderado, pois o capital não está garantido, mas regra geral rendem mais do que os depósitos a prazo.

•  Dinâmico: A ideia é potenciar um crescimento importante, a médio e longo prazo, da sua carteira de investimento. Neste caso, assume um risco elevado nas soluções que subscreve e adquire. Se está nesta situação, então apostar na bolsa é uma das soluções.

Outras regras a seguir

•  Faça um mapa de receitas e despesas, apontando diariamente todos os encargos, só fazendo uma lista exaustiva das despesas vai ser possível avaliar o caminho que o seu dinheiro está a tomar. Além disso, será ainda possível avaliar o peso das diferentes despesas no orçamento familiar, de forma a reequilibrar as contas.

•  Capacidade de endividamento: É a chamada taxa de esforço. Na prática, não é mais do que verificar quanto pesam os créditos no seu orçamento. Se os créditos ultrapassam os 40% e prevê que esse valor aumente, tenha atenção, porque está na zona de alerta.