Em 2008, o Museum of Modern Art de Nova Iorque, com a exposição: Home Delivery: Fabricating the Modern Dwelling; pretendeu, não só estabelecer que existia um futuro em toda a investigação em torno da concepção e produção digital, como acima de tudo que a mesma não era apenas uma questão apenas técnica, mas que pertencia ao campo da arquitectura e da sua estreita relação com a construção. Resultou numa série de experiências demonstrativas da pertinência de se abandonar gradualmente a reprodução mecânica na prefabricação e a urgência de se prosseguir com o maior e mais aprofundado número de estudos sobre o tema da prefabricação por meios de produção digital.
A reprodução mecânica dos objectos baseia-se numa relação de indexação estrita entre o original e a reprodução, processo que implica uma rigorosa transposição do projecto para o artefacto fabricado através de um sistema notacional, que determina como transpor um no outro e que Mario Carpo [1] definiu em 2011 como o conceito de “Identicalidade”. Inversamente, os meios de produção digital são susceptíveis de constante reajustamento e de auto personalização por via do projecto.
O Projecto, desenvolvido em ambiente Building Infomation Model (BIM), distancia-se do modo tradicional da REPRESENTAÇÃO do artefacto a ser construído para se tornar numa CONSTRUÇÃO VIRTUAL prefigurativa da obra física. No que diz respeito ao processo de invenção e desenvolvimento em projecto – o design process – a crescente popularização da produção digital tem vindo a criar laços muito fortes entre o projecto e a produção, facto que abre novas possibilidades para a construção.
Na metodologia BIM o modelo não mais REPRESENTA, mas antes SIMULA a construção real. Este facto obriga a que o projecto integre desde a fase de concepção decisões sobre os sistemas construtivos e os materiais, os quais passam a ser representados por elementos BIM em que a chave é o trabalho colaborativo. A verdadeira matéria da construção – o material e a sua montagem – integram a esfera da especulação do arquitecto e do engenheiro no acto do projecto. Neste, a performance de cada um e de todos os materiais e sistemas envolvidos e a sustentabilidade do resultado tornam-se variáveis que se podem ir avaliando progressivamente com o seu desenvolvimento.
São compreensíveis quais as vantagens de trabalhar com uma interacção de plataformas digitais para o projecto e para a produção que assentam num controlo muito elevado na fase de projecto dos conflitos das operações de fabrico e de montagem, uma vez que esses conflitos podem ser totalmente ensaiados em modelo virtual. No entanto para se atingir este grau de performance, as equipas de projecto terão de ser obrigadas a deter um elevado e diversificado conhecimento de ferramentas digitais para a sua execução, pois é a metodologia BIM que o promove, o sustenta e o possibilita, numa estreita interação entre projecto e construção.
Hoje, impõe-se que os futuros arquitectos saibam projectar em BIM. Em 2023, iniciei uma unidade curricular opcional no Mestrado Integrado em Arquitectura do Instituto Superior Técnico versando a metodologia BIM. Aí, todo o trabalho dos estudantes é desenvolvido em projecto colaborativo, na metodologia proposta, preparando-os para melhor integrarem o mercado de trabalho. Esta iniciativa de ensino decorre da importância que o BIM adquiriu na minha prática profissional e de investigador.
Projectos profissionais de arquitectura, Projectos internacionais de Investigação, actividade de normalização nacional e obtenção de certificações na área – nacional (Curso BIM 2014) [2] e internacional (BuildingSmart -2023) [3] – definem um perfil pessoal de prática holística e de colaboração, que procuram estar alinhados com os objetivos de Built4People – construído para as pessoas.
Na prática de projecto desenvolvido em BIM no Atelier dos Remédios (ATREM) (2012-23) [4], evoluiu-se do controlo e contabilização de materiais e sistemas a utilizar e o domínio das alterações em projecto para contenção de custos de obra (até cerca de 10%), para a utilização repetitiva e adaptação de “famílias” de objectos, diminuindo o tempo de concepção em mais de 30% e o tempo de implementação de alterações em obra em mais de 50%, para a criação de Templates TIPO para a produção automática das folhas de processo que incluíram diversos tipos de desenhos a diferentes escalas, para, mais recentemente, modelos BIM integradores dos projectos de arquitectura e especialidades onde se coordenaram com eficácia os conflitos de obra, em fase de projecto.
Projectos internacionais de Investigação como o BIMCert (2019) [5] e o Circular EcoBIM (2022) [6], ambos centrados na eficiência energética e vias de descarbonização por via digital, possibilitaram lidar com o cálculo automático da carga energética despendida na construção e na utilização de um edifício. No último, utilizou-se um modelo BIM de habitação do ATREM analisando comparativamente diferentes sistemas construtivos para a criação de um Plugin de cálculo automático de carbono a ser disseminado e utilizado como ferramenta de apoio ao projecto.
Na área da normalização desenvolveu-se o Plano de execução BIM (2023), integrado na CT197-Comissão Técnica para a Normalização BIM [7] que estabelece os princípios de contratação para um processo mais transparente rigoroso e célere.
Estas vertentes simultâneas de acção conjugam a matriz de investigação pessoal de cruzamento colaborativo de prática, ensino e investigação. Gostaria de conseguir juntar estudantes de arquitectura e de engenharia para aprenderem a projectar em colaboração BIM, como na prática.
[1] CARPO, M. (2011), The Alphabet and the Algorithm-M.S. MIT Press, Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, Massachusetts.
[2] Curso BIM – Building Information Modelling – 17ª Edição
[3] buildingSMART International
[4] ATELIER DOS REMÉDIOS (atrem.eu)
[5] BIMcert – 1. Construction skills, 2. Energy efficiency, 3. Regulating supply chains, 4. Tackling climate change | BIMcert Project | Results | H2020 | CORDIS | European Commission (europa.eu)
[6] Circular EcoBIM – Integrating Circularity and BIM tools
[7] Home – CT 197
Professor de arquitetura no Instituto
Superior Técnico, investigador
CiTUA – Centro para a inovação em Território, Urbanismo e Arquitetura