A Associação Portuguesa de Seguradores (APS) organiza (de 18 a 21 de abril) a Semana de Combate à Fraude nos Seguros, uma iniciativa inédita e de enorme pertinência e na qual tive oportunidade de participar. Esta semana é composta por uma série de iniciativas de formação e reflexão sobre a temática da fraude e dos seus impactos no setor segurador. A semana de estudo incluiu dois seminários dedicados a temas transversais, que preocupam o setor e quatro workshops técnicos dedicados ao aprofundamento de conhecimentos nas áreas dos novos desafios do negócio, da digitalização, da proteção de dados e dos estudos sobre o fenómeno da fraude.
A este propósito importa recordar os resultados do estudo apresentado em 2016 pela APS e o OBEGEF (Observatório de Economia e Gestão de Fraude), em que se procurou perceber qual a perceção da fraude por parte dos clientes do setor. O estudo concluiu que entre os inquiridos que afirmam ter uma perceção, estes afirmam que em média, 27% da população comete fraude contra as companhias de seguros.
Apesar de a grande maioria das pessoas considerar esta prática totalmente inaceitável, quando confrontados com possíveis razões para justificar tais comportamentos, as justificações mais apresentadas são: 1) as companhias de seguros estão sempre a arranjar motivos para não pagarem as indemnizações; 2) se as companhias de seguros tratassem os consumidores com mais respeito, estes comportamentos não aconteciam; e 3) o preço do seguro é feito tendo em conta que estes comportamentos acontecem.
Estas respostas, julgo que ainda hoje terão validade e devem levar a uma análise ponderada por parte do mercado e respetivos operadores. No entanto, numa primeira análise, considero que a confiança é a melhor prevenção contra a fraude oportunista. A fraude é intencional: o erro e a ignorância não geram fraude. Assim sendo, tornar todo o processo percetível e transparente antes do produto ser vendido e aumentar a celeridade na resolução dos problemas serão duas armas importantes nos momentos fundamentais no relacionamento entre segurador e segurado: a contratação e o pagamento de indeminizações. Isto reforçará com toda a certeza a confiança no setor.
Existem questões gerais da sociedade que não sendo totalmente controláveis pelo setor afetam o mesmo sejam elas questões de natureza estrutural e/ou conjuntural. No entanto, caberá ao setor atuar em todas as frentes e conseguir o envolvimento de todos naquelas que dependem de si. Persistência e continuidade em todas as fases da relação companhia/segurado: antes da subscrição (prevenção), na subscrição (prevenção/deteção), na vigência normal do contrato (prevenção), no acidente/sinistro (deteção/prevenção) e no processo subsequente (prevenção/deteção) parece ser o percurso que melhor permite trilhar o caminho do sucesso no combate à fraude no setor segurador.