Foram uma das bandas mais populares do rock alternativo português, procurando inovar com os sons que faziam furor lá fora, mas sem nunca esquecer a tradição nacional. Agora, 40 anos depois da sua formação, os Sétima Legião vão regressar aos palcos, nos dias 1 e 2 de dezembro, num concerto que servirá para celebrar as quatro décadas do grupo e homenagear a vida de Ricardo Camacho, produtor e teclista do grupo, que faleceu em 2018.
Inspirados por grupos provenientes de Manchester, como Echo & The Bunnymen e Joy Division, chegando a fazer alguns concertos envergando gabardines (algo que era hábito dos grupos desta região), Rodrigo Leão (baixo e teclados), Nuno Cruz (percussão) e Pedro Oliveira (voz e guitarra) criaram numa garagem a primeira formação dos Sétima Legião, um nome “emprestado” da legião do exército imperial romano que se instalou na Península Ibérica, que pretendia mostrar a forma como o grupo se mantinha ligadoàs suas raízes.
Depois de participarem no concurso Grande Noite do Rock, onde ficaram em segundo lugar, e da adesão de Susana Lopes (Violoncelo) e Paulo Marinho (Gaita de Foles), enquanto Francisco Menezes se encarregava de compor letras para as canções, a banda é convidada para entrar na editora Fundação Atlântica, criada por Pedro Ayres Magalhães, Ricardo Camacho e Miguel Esteves Cardoso, em 1983, ano em que lançaram uma das suas mais icónicas músicas, Glória.
Numa altura em que ainda muitos jovens estavam a aprender a lidar com a abertura de Portugal para o resto do mundo, após a Revolução dos Cravos, em 1974, e a descobrir a sua identidade, os Sétima Legião apresentavam-se com uma confiante linha de baixo que parecia saída dos dedos de Peter Hook, que passou pelos Joy Division e New Order, e uma letra de Miguel Esteves Cardoso, a voz sorumbática de Pedro Oliveira anunciava que “A morte não te há-de matar”. Um épico que falava sobre o amor entre um casal, “Amor oxalá seja amar / Ter prazer sem poder / Nem sequer te tocar”, mas também exaltava um sentimento nacionalista: “Talvez ao luar possas ver / O olhar que lembrar / Fez nascer Português”, o grupo apresentava-se a Portugal e ao mundo como inovador e eleva esta ideia de casamento no seu primeiro disco, lançado no ano seguinte, 1984, A um deus desconhecido, onde junta também o som da gaita de foles às suas músicas.
Apesar de inicialmente o single de Glória, editado com o lado B Partida, ter passado um pouco despercebido, acabando por não receber uma grande rotação na rádio, quando o álbum de longa duração foi lançado acabou por ser aclamado pela crítica e, atualmente, é considerado um dos mais importantes discos da música portuguesa.
Depois de algumas mudanças no alinhamento do grupo, por exemplo, com a saída de Susana Lopes (não chegou a participar nas gravações do disco de estreia do grupo), que pretendia seguir uma carreira mais ligada à música clássica, ou de Rodrigo Leão, que, apesar de continuar a integrar a banda, dedicava menos tempo ao projeto uma vez que tinha fundado os Madredeus, a banda continuou a sua senda de trabalhos aclamados pela crítica, enquanto conseguia cada vez mais sucesso comercial.
Sob a chancela da EMI, que passou a representar os Sétima Legião após a falência da Fundação Atlântica, o grupo lançaria trabalhos como Mar D’Outubro (1987), com grandes êxitos como Sete Marés ou Noutro Lugar, chegando a atingir o disco de prata.
Num disco com as “arestas mais limadas” do que o trabalho de estreia, que junta elementos como sintetizadores mais melódicos, mas também instrumentos de sopro ou o acordeão (em Noites Brancas), este trabalho abriu diversas portas ao grupo, oferecendo a oportunidade de apresentar as suas músicas em diversas salas do país.
Contudo, foi em De Um Tempo Ausente (1989), que contou com a participação de músicos como Flak, Luís Represas, Pedro Ayres Magalhães ou Teresa Salgueiro, que o grupo melhor conseguiu explorar a sua visão musical, juntando a tradição portuguesa com linguagens mais contemporâneas, em músicas como Porto Santo, El-rei dom Afonso VI ou no single maior do disco, Por Quem Não Esqueci.
Este seria o último grande lançamento dos Sétima Legião que, durante os anos 1990, apesar de continuarem a dar grandes concertos e a lançar discos, ainda que com menos interesse do público e crítica, a atenção dos membros fundadores do grupo acabou por se centrar noutros projetos e a banda chegaria ao seu fim em 2000 com os intervenientes a fundarem projetos como Danças Ocultas, Cindi Kat ou os Gaiteiros de Lisboa.
Com o passar dos anos, ainda tocaram juntos pontualmente, nomeadamente em 2012, quando celebraram os 30 anos do grupo, e em 2017, numa altura em que Ricardo Camacho já estava doente.
Agora, redescobertos também por uma nova geração de fãs, interessados pela música do grupo e com acesso ao catálogo da banda em plataformas de streaming online, os Sétima Legião preparam-se para este novo regresso aos palcos, na Culturgest, em Lisboa, com dois espetáculos já esgotados.
Neste regresso, a banda portuguesa contará no seu alinhamento com os três membros fundadores da banda, Pedro Oliveira, Rodrigo Leão e Nuno Cruz, que serão ainda acompanhados por Gabriel Gomes (acordeão), Paulo Marinho (gaita de foles, flautas), Paulo Abelho (percussão, samplers) e Francisco Menezes (letras, coros) e João Eleutério (teclados).
Apesar dos Sétima Legião prometerem oferecer uma nova vida às suas músicas, com arranjos atualizados para as canções que se celebrizaram nos anos 80 do século passado, o grupo promete também honrar o trabalho que lhes valeu uma legião de fãs fieis ao longo destas quatro décadas.