Benfica-Juventus.  A Luz que cega a Velha Senhora

Benfica-Juventus. A Luz que cega a Velha Senhora


Hoje (20h00) a Juventus desloca-se ao estádio do Benfica pela quarta vez nas provas europeias – saiu sempre derrotada até agora.


A Juventus não se dá bem com o Estádio da Luz e a aversão não é de agora, já recua ao mês de maio de 1968, dia 9 mais precisamente, aliás a primeira vez que o Benfica teve de medir forças com aquela que os italianos chamam de Vecchia Signora para as taças europeias. Clube rico como poucos, um dos anéis dos dedos dos Agnelli – a família a qual se dizia que o Rei de Itália puxava o lustro às maçanetas das portas – percebeu logo aí que nem sempre o dinheiro faz a diferença, sendo claramente batida pelos encarnados na primeira mão da meia-final da Taça dos Campeões, por 2-0, golos de Torres e de Eusébio. Depois, em Turim, mais uma vitória do Benfica, sublinhada pelo golo que mais gozo deu a Eusébio marcar, num livre a uns 40 metros da baliza e com o público na bancada a rir às escâncaras do descaramento do moçambicano quando este começou a tomar balanço para atirar direto à baliza. O riso amarelou-se nos lábios turineses. Eusébio festejou com o seu salto de pantera e a Velha Senhora começou a ter achaques quando chegava a hora de ter de visitar a Luz.

No dia 4 de março de 1993, estive na Luz que cegou por completo a Senhora italiana. Uma daquelas enchentes de antanho, apesar da noite manhosa, e uma exibição formidável de Vítor Paneira, muitas vezes esquecido na hora de apontar aos melhores extremos de sempre da história do futebol português. O que o Vítor jogou encaixa no capítulo das barbaridades. Sozinho, fez gato sapato de um desgraçado chamado Torricelli e ainda teve tempo para deixar o alemão Köhler e o brasileiro Júlio César a precisarem de umas doses de paracetamol. Dois golos (aos 11 e aos 80m) que teriam dado uma vitória por uma vantagem mais do que merecida não fosse uma precipitação de Silvino que provocou o penálti convertido por Vialli e permitiu à Juve passar a eliminatória com uma vitória na segunda mão por 3-0, com uma arbitragem de deixar o nosso pobre António Oliveira, esse Toni amigo/irmão de Mogofores, ao tempo treinador da equipa, com fumo a sair pelas narinas e pelas orelhas ao mesmo tempo.

O tempo passou, Benfica e Juventus só voltariam a encontrar-se na meia-final da Liga Europa de 2013/14, com o acicate juventino de saber que a final estava marcada para o novo estádio de Turim que veio substituir um gélido Stadio Delle Alpi. Em Lisboa, a 24 de abril, a Luz voltou a cegar a velhota que, aos 2 minutos já perdia, com um golo de cabeça de Garay. O ambiente fervia e continuou a ferver depois do empate apontado por Carlos Tévez (73m). E ferveu mesmo até à ebulição quando, a cinco minutos do final, à entrada da área, após uma solicitação de calcanhar de Ivan Cavaleiro, Lima mandou o pé direito às compras e assegurou a vitória defendida quinze dias depois em Turim com um zero-zero categórico imposto pelo torno inventado por Jorge Jesus, tão forte que suportou as expulsões de Enzo Pérez (67m) e Markovic (89m). Não, a_Velha Senhora não gosta do encarnado. Não lhe fica bem…

 

A saga dos invencíveis!

O tema da invencibilidade deste Benfica orientado (e que bem!) por Roger_Schmidt começa a tornar-se pesado e numa verdadeira lotaria para quem, todas as semanas, é obrigado a abordá-lo nas páginas de jornais ou nas reportagens de áudio ou de TV. No fundo, cada um espera acertar numa espécie de totoloto, deitando-se a adivinhar qual o dia em que os invencíveis deixarão de o ser. E, depois da demonstração inequívoca levada a cabo no velho lugar das Antas, onde Schmidt mostrou à saciedade aquilo que há muito anos vou teimando em escrever – que ao habitual arreganhar de dentes e cuspilhar de gengivas com que os treinadores, jogadores e adeptos do FC_Porto recebem os que deveriam ser seus adversários mas que teimam em ver como inimigos basta ter sangue frio e coragem para ignorar o que, na maior parte dos casos, não passa de fanfarronice – abre-se agora a perspetiva de que a Velha Senhora não se deixe voltar a cegar pela luz da Luz e que, apresentando-se com óculos escuros ou coisa que o valha, saiba desmentir a absoluta inferioridade que a fez ser engolida em Turim por uma águia que se tivesse um toque extra de classe na hora de converter as oportunidades de golo que inventa poderia ser um caso raro do futebolzinho nacional das últimas décadas. Schmidt já avisou que não joga para empates – e um empate basta para o apuramento dos encarnados. Quem pensa (e age) assim está sempre um passo mais perto de vencer…