Mais aulas de religião obrigatórias na universidade no Afeganistão

Mais aulas de religião obrigatórias na universidade no Afeganistão


Apesar de muitos religiosos conservadores do movimento fundamentalista talibã terem reservas em relação à educação moderna, os talibãs não ordenarão, contudo, a supressão de quaisquer disciplinas ou matérias ao atual programa das universidades, garantiu o ministro.


Os estudantes afegãos vão ter de frequentar mais aulas obrigatórias de estudos islâmicos nos respetivos cursos universitários, anunciaram hoje em Cabul responsáveis do Ministério da Educação.

 

Estes não deram, no entanto, qualquer indicação sobre a reabertura das escolas do ensino secundário para as raparigas, encerradas desde março pelos talibãs, há um ano no poder no Afeganistão.

"Vamos adicionar mais cinco disciplinas religiosas às oito existentes" na universidade, declarou o ministro do Ensino Superior, Abdul Baqui Haqqani, em conferência de imprensa.

Referiu em especial a história islâmica, a política e a governação, especificando que o número de aulas obrigatórias de religião passará de uma para três por semana.

Apesar de muitos religiosos conservadores do movimento fundamentalista talibã terem reservas em relação à educação moderna, os talibãs não ordenarão, contudo, a supressão de quaisquer disciplinas ou matérias ao atual programa das universidades, garantiu o ministro.

Algumas universidades alteraram, no entanto, as aulas de música ou de escultura, áreas muito sensíveis no âmbito da severa interpretação da 'sharia' (lei islâmica) pelos talibãs.

O êxodo da elite educativa afegã, em especial dos professores, também causou, na prática, a supressão de muitas disciplinas ou cadeiras.

Questionados sobre a reabertura das escolas secundárias para raparigas, os responsáveis falaram da questão das zonas rurais, depois de terem durante meses justificado a manutenção do encerramento por questões técnicas e financeiras.

Segundo Abdulkhaliq Sadiq, um alto funcionário do Ministério da Educação afegão, as famílias das zonas rurais ainda não estão convencidas da necessidade de enviar as raparigas para a escola secundária.

"Estamos a tentar elaborar uma política saudável em coordenação com os nossos dirigentes (…) para que os habitantes das zonas rurais sejam também convencidos", declarou o responsável na mesma conferência de imprensa.

Enquanto esperam, sem diploma de conclusão do ensino secundário, as adolescentes não poderão candidatar-se aos futuros exames de entrada na universidade.

Durante o primeiro regime dos talibãs (1996-2001), as escolas primárias e secundárias femininas nunca chegaram a ser reabertas.

Desde o regresso dos estudantes de teologia ao poder no Afeganistão, a 15 de agosto de 2021, estes impuseram severas restrições às raparigas e às mulheres, para que estas se comportem de acordo com a sua visão austera do Islão, afastando-as da vida pública na quase totalidade.

As jovens têm o direito de frequentar a universidade, mas algumas abandonaram-na devido ao valor das propinas e outras porque as suas famílias temiam vê-las exibir-se em público num país sob o jugo dos talibãs.

A comunidade internacional fez do direito à educação uma condição essencial para o reconhecimento oficial do Governo talibã, que não foi, até agora, reconhecido por qualquer país.