Duas mortes no dia em que Portugal passou os 50 mil hectares ardidos

Duas mortes no dia em que Portugal passou os 50 mil hectares ardidos


Um casal na casa dos 70 anos morreu a tentar fugir do fogo na aldeia de Penabeice, em Murça. Incêndios não dão descanso. Só na semana passada ardeu tanto como em 2021, num ano que arrisca-se a figurar entre os piores da década. 


Baixou o nível de alerta, mas os incêndios continuam sem dar tréguas e ontem voltaram a matar. Dois idosos morreram a tentar fugir da aldeia de Penabeice, em Murça. Segundo os relatos no local, o casal na casa dos 70 anos tentou fugir pelos próprios meios e despistou-se de carro numa altura em que os acessos à localidade estavam cheios de fumo. A viatura caiu numa ravina. “Encontrámos a viatura completamente carbonizada, casal que morreu dentro da viatura”, afirmou o presidente da Câmara de Murça em declarações à SIC Notícias. “É uma situação completamente dramática que está a acontecer no concelho de Murça, com mais de metade do concelho a arder. Os meios são insuficientes”, constatava o autarca. 

Depois de a Proteção Civil adiantar que as causas do acidente estavam a ser analisadas no terreno, o presidente da República lamentou as mortes. “Independentemente do contexto em que ocorreu e das causas o que terão motivado, não posso deixar de lamentar profundamente o acidente de viação que motivou duas mortes no concelho de Murça e de apresentar os meus sentimentos aos familiares das vítimas”, declarou o chefe de Estado à agência Lusa. No briefing da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o comandante André Fernandes admitiu preocupação com os fogos de Murça, Guarda e Vila Pouca de Aguiar, que mobilizavam o maior número de meios para o concelho de Vila Real, garantindo que seriam despachados reforços para a região Norte. “Estamos numa situação de grande complexidade do ponto de vista meteorológico, os incêndios têm grande progressão. É necessário ter cuidado e adequar comportamentos face à grande expansão que ganham”, alertou.

Quatro mortes desde a semana passada O acidente trágico na aldeia de Penabeice eleva para quatro as mortes provocadas pelos incêndios desde a semana passada, depois de o corpo de uma mulher ter sido encontrado carbonizado na freguesia da Lagoinha, na Murtosa, onde os bombeiros combatiam um incêndio, e do acidente que vitimou o piloto André Serra em Foz Côa. Ainda assim, no balanço, a Proteção Civil referiu apenas três mortes.

No balanço da Proteção Civil, os incêndios que se multiplicaram no país nos últimos dias já obrigaram a retirar de casa cerca de 900 pessoas. 

Ontem, contabilizou o i, foi passada a barreira dos 50 mil hectares consumidos, mais de metade desde a semana passada, em que ardeu tanto como em todo o ano passado. 

Com o verão pela frente e a hipótese de uma nova onda de calor atingir o interior no final da semana, o cenário agrava-se e 2022 já não ficará entre os anos com menos fogos, com as críticas à desordenação da floresta e dispositivo de combate a voltarem a emergir. 

O ano passado, com 28.360 consumidos pelas chamadas, tinha sido o melhor registo dos últimos anos. O pior remonta a 2017, com 539.921 hectares queimados. 

Até este domingo tinham já ardido, segundo a monitorização agora feita em tempo real pelo Instituto de Conservação de Natureza e Florestas, 46.766 hectares, balanço que os fogos que lavraram ontem empurram para os mais de 50 mil hectares. 

O fogo voltou ontem a obrigar ao corte da A25 entre Guarda e Celorico da Beira, num incêndio que atingiu pelo menos três viaturas. Em termos de dados, o Governo garante que o levantamento está a ser feito. “Dos mais de 40 mil hectares que arderam este ano, metade é floresta, um terço é mato e 10% é área agrícola”, afirmou ontem a ministra da Agricultura Maria do Céu Antunes, adiantando que, à medida que os incêndios sejam considerados extintos e o levantamento feito a nível local pelas direções regionais, o Governo poderá “acionar medidas de estabilização de emergência e de restabelecimento do potencial produtivo”.

Reunião da seca na sexta-feira Com as temperaturas elevadas e os termómetros a poder voltar aos 40ºC em algumas zonas do país esta semana, a situação de seca no país, que já era severa a extrema em boa parte do território, vai-se agravando. Segundo o i apurou, a próxima reunião interministerial da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca está marcada para esta sexta-feira.