Liga das Nações. Uma imagem eterna de antigas opulências

Liga das Nações. Uma imagem eterna de antigas opulências


O Grupo C é um luxo para quem gosta de mergulhar nas páginas da História – hoje há Alemanha-Inglaterra e Itália-Hungria: já foram finais de campeonatos do mundo.


A Liga das Nações, disputada neste formato (alargado de um ano para o outro para evitar que, por exemplo, a Alemanha tombasse para a II Divisão), continuará a dividir as opiniões de adeptos, treinadores, jogadores e dirigentes, uns dando-lhe mais importância do que outros, mas não restam dúvidas que trouxe ao palco maior do futebol embates que só estávamos a habituados a ver em fases finais de Europeus e Mundiais. Agora, oficialmente, nesta fase de grupos, deparamo-nos com jogos cheios de história por dentro, tal como aconteceu na semana passada com o Espanha-Portugal de Sevilha.

O Grupo C é, no entanto, para aqueles que gostam de mergulhar nos canhenhos das antigas opulências, como é o meu caso, de um luxo sibarítico. Em quase todas as jornadas deparamo-nos com confrontos que já foram finais de campeonatos do mundo, algo que acontece hoje mesmo, no Estádio Dino Manuzzi, em Cesena (eis uma boa demonstração que os italianos aproveitam esta prova para levar a squadra azzurra a fazer turimo interno), com o Itália-Hungria, e em Munique, na Arena, com o Alemanha-Inglaterra.

O primeiro corresponde à final do Mundial de 1938, em França – no dia 19 de junho, no Estádio Olímpico de Colombes – os italianos treinados por Vittorio Pozzo bateram os húngaros comandados por Alfred Schaffer por 4-2 com golos de Gino Colaussi (6 e 35m) e Silvio Piola (16 e 82m) contra os de Pal Titkos (8m) e Gyorgy Sarosi (70m). O segundo corresponde à final do Mundial de 1966, em Wembley, com vitória dos ingleses pelo mesmo resultado (embora após prolongamento), graças aos golos de Geoff Hurst (18, 101 e 120m) e de Martin Peters (78m) contra os de Helmut Haller (12m) e de Wolfgang Weber (89m).

Dos quatro componentes deste grupo que a cada jornada nos oferece dois clássicos – que na versão de muitos autores se define como tendo aura de eterno – apenas a Hungria não foi campeã do mundo, a despeito de ter estado presente em duas finais (já vimos a primeira), a segunda das quais profundamente dolorosa porque significou a derrota da Equipa Mágica – que esteve três anos sem consentir uma única derrota – perante a Alemanha.

Perdeu o jogo impossível: no dia 4 de julho, em Berna, depois de ter anunciado uma goleada, com dois golos em 8 minutos por Puskás e Czibor (6 e 8m) – na fase de grupos a Hungria tinha humilhado os alemães com um resultado de 8-3 – mas acabando por ser surpreendida pelos golos de Max Morlock (10m) e Helmut Rahn (18 e 84m).

Na primeira jornada, enquanto Itália e Alemanha empatavam a um golo, emulando a final do Campeonato do Mundo de 1982, em Madrid, no Santiago Bernabéu, aí com vitória dos italianos por 3-1 (golos de Paolo Rossi, 57m, Tardelli, 69m, e Altobelli, 81m; e Paul Breitner, 83m, de penalti), a Hungria surpreendeu ao vencer a Inglaterra em Budapeste. 

O Jogo do Século Ora, o Inglaterra-Hungria (ou Hungria-Inglaterra) ficará para sempre como o(s) Jogo(s) do Século. No dia 25 de novembro de 1953, Wembley rebentou pelas costuras por via da promessa dos ingleses de desfazerem a grande seleção húngara de Puskás e Czibor, Hidegkuti e Kocsis, Bozsik e Budai.

Até aí, só por uma vez, a Inglaterra perdera um jogo em casa, face à Irlanda, algo que ficava lá entre eles, nas ilhas. Desta vez, um furacão húngaro levou tudo de arrasto e a goleada por 6-3 tornou-se um dos momentos extraordinários de futebol ofensivo jamais visto. 

Inconformados, os ingleses exigiram uma desforra.

Ficou marcada para Budapeste, no dia 23 de maio de 1954, vésperas de Mundial. Os húngaros conseguiram ser ainda mais fantásticos, algo que parecia impossível, e esmagaram a seleção dos três leões por nada menos do que 7-1. Na altura parecia inacreditável que a Inglaterra se sujeitasse a goleadas como estas. Mas o inacreditável não passava da mais pura das realidades e a Hungria era, sem dúvidas, a melhor equipa do mundo.

Na primeira jornada do Grupo C, não foi sem surpresa que a Hungria – que há muitos anos não consegue evoluir para o patamar mais alto do futebol – venceu por 1-0, deixando muitas contas para fazer nos próximos jogos. E se as disputas entre  ingleses e húngaros nunca atingiram a dignidade de uma final de um Mundial ou de um Europeu, os episódios das goleadas magiares tomaram conta do imaginário de todos os que sentem o apelo da nossa senhora das paixões: a bola. Afinal, a Liga das Nações ainda tem algo para nos dar…