Porquê fazer um doutoramento? Porquê contratar um doutorado?


Além de conferir formação avançada complementar, é uma marca de conquista com a garantia de que o seu detentor, para além de conhecer profundamente o seu tópico, tem mais competências e oportunidades de carreira. E é imprescindível em qualquer empresa inovadora!


Por Isabel Sá-Correia, Professora Catedrática do Departamento de Bioengenharia do Instituto Superior Técnico; Coordenadora do Doutoramento em Biotecnologia e Biociências, Diretora do PD-FCT BIOTECnico.

Oiço frequentemente a pergunta: devo fazer doutoramento ou ir para uma empresa ou outra instituição fora do perímetro universitário? A resposta interliga-se, de forma tão apertada, com a resposta a esta outra “porque é que um empregador pode querer contratar um doutorado?”, que tentarei responder a ambas sem as independentizar. 

Trabalhei durante um ano no Medical Center da Universidade de Illinois, em Chicago, após um doutoramento realizado em Portugal numa das escassíssimas ilhas que permitiam investigação de nível internacional conducente ao grau. Era frequente encontrar no elevador jovens investigadores dos vários laboratórios carregando porta-fatos de viagem. Durante o dia, trocavam de roupa (e de sapatos!) e, dificilmente reconhecíveis, saíam para uma entrevista de emprego em empresas com nomes sonantes. Muitos estavam no seu segundo pós-doutoramento, considerando-se já numa boa posição para conseguir a ambicionada carreira na indústria. Todos tinham adquirido competência em ciências biológicas e, criteriosamente, escolhido as Instituições, os grupos de investigação e os projetos para atingir aquele objetivo. Candidatavam-se também a outras posições e, aqueles com vocação e os devidos pergaminhos, a carreiras académicas. Esta situação, que me parecia quase irreal há quase 4 décadas, estendeu-se a Portugal. É hoje possível realizar um doutoramento de qualidade no País em muitas áreas, a competição dos doutorados para as diversas posições e carreiras disponíveis é dura e o nível de exigência elevado. A necessidade de pós-doutoramento para alavancar os currículos é sentida. A empregabilidade não pode mais restringir-se à academia pois, se esta tiver estratégia e competir no ensino superior global, necessita de um número sustentável de excelentes colaboradores com competências em muito diversas áreas, algumas emergentes, deficientemente ou não representadas. 

Mas haverá oportunidades fora da academia? O Inquérito aos Doutorados realizado pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência mostra que, em 2020, já havia 37.113 doutorados (75 por 10.000 habitantes na população ativa), 51% mulheres, 95% empregados, apesar da precariedade de muitos vínculos laborais. A tendência era de um continuado aumento da percentagem nos setores Estado (13%) e Empresas (8%), e descida no Ensino Superior onde continuava elevada (77%).

Por que razões um empregador poderá ter interesse em contratar um doutorado que normalmente auferirá um salário superior a um não-doutorado? Muitos não são recrutados essencialmente pelos seus conhecimentos técnicos, mas por outras competências adquiridas durante 4 anos de trabalho intenso dedicado ao seu tópico de investigação. Pese embora a variabilidade inerente à personalidade de cada um e ao ter ou não complementado a sua formação com um pós-doutoramento, o doutorado foi treinado para, de forma autónoma, identificar, atacar e encontrar soluções para problemas, sendo hábil na pesquisa de informação confiável. É capaz de obter resultados relevantes, compreendê-los, analisá-los, fazer a sua síntese e defender as conclusões. Entende a importância de manter registos precisos da sua atividade. É capaz de aprendizagem rápida de qualquer novo assunto técnico, muitas vezes mais importante do que a experiência prévia. Sabe como pensar, treinou um pensamento crítico, é capaz de obter informação ou conhecimento novo. Além desta capacidade de inovação, ganhou resiliência ao conviver com o fracasso e está disposto a correr riscos. A incerteza e as dificuldades estimulam-no a prosseguir devido à motivação interna que demonstrou. Apesar da tese de doutoramento ser um projeto individual, aprendeu a trabalhar diariamente na equipa e com colaboradores, nacionais e estrangeiros, na execução de experiências, tratamento e discussão de resultados, preparação de artigos. Criou, assim, uma valiosa rede de contactos. Foi aprendendo a partilhar e competir por recursos e publicações, a dividir tarefas, a conviver e comunicar. Ao praticar, de forma ativa e prolongada, a comunicação escrita e oral, acompanhada por uma supervisão competente, foi aumentando essas capacidades. Vários acumularam uma experiência de apoio ao ensino o que os tornou mais capazes de transmitir ideias, de fazer de mentor, de motivar e ajudar outros a atingir objetivos, a ganhar experiência de avaliação de desempenho e assim competências de liderança. Desenvolveram ainda competências na preparação e gestão de projetos, desde o concurso à bolsa de doutoramento, à gestão e elaboração da tese, passando por contributos variados às múltiplas candidaturas do grupo para financiamento da investigação. Tal justifica muitos recrutamentos recentes já que as empresas têm tido oportunidades de se candidatarem a projetos vários, com financiamento substancial.

Contudo, um doutoramento depende do sistema de ensino (que pode incluir ou não formação escolar pós-graduada ou só valorizar investigação e publicações), da qualidade e reconhecimento dos orientadores e da instituição formadora, e até da sua área. Um doutoramento qualifica também para posições na indústria e outras instituições não académicas. É simplesmente um 3º ciclo de estudos, que se segue ao 2º ciclo (mestrado) e ao 1º ciclo (licenciatura). Além de conferir formação avançada complementar, é uma marca de conquista com a garantia de que o seu detentor, para além de conhecer profundamente o seu tópico, tem mais competências e oportunidades de carreira. E é imprescindível em qualquer empresa inovadora! 

Porquê fazer um doutoramento? Porquê contratar um doutorado?


Além de conferir formação avançada complementar, é uma marca de conquista com a garantia de que o seu detentor, para além de conhecer profundamente o seu tópico, tem mais competências e oportunidades de carreira. E é imprescindível em qualquer empresa inovadora!


Por Isabel Sá-Correia, Professora Catedrática do Departamento de Bioengenharia do Instituto Superior Técnico; Coordenadora do Doutoramento em Biotecnologia e Biociências, Diretora do PD-FCT BIOTECnico.

Oiço frequentemente a pergunta: devo fazer doutoramento ou ir para uma empresa ou outra instituição fora do perímetro universitário? A resposta interliga-se, de forma tão apertada, com a resposta a esta outra “porque é que um empregador pode querer contratar um doutorado?”, que tentarei responder a ambas sem as independentizar. 

Trabalhei durante um ano no Medical Center da Universidade de Illinois, em Chicago, após um doutoramento realizado em Portugal numa das escassíssimas ilhas que permitiam investigação de nível internacional conducente ao grau. Era frequente encontrar no elevador jovens investigadores dos vários laboratórios carregando porta-fatos de viagem. Durante o dia, trocavam de roupa (e de sapatos!) e, dificilmente reconhecíveis, saíam para uma entrevista de emprego em empresas com nomes sonantes. Muitos estavam no seu segundo pós-doutoramento, considerando-se já numa boa posição para conseguir a ambicionada carreira na indústria. Todos tinham adquirido competência em ciências biológicas e, criteriosamente, escolhido as Instituições, os grupos de investigação e os projetos para atingir aquele objetivo. Candidatavam-se também a outras posições e, aqueles com vocação e os devidos pergaminhos, a carreiras académicas. Esta situação, que me parecia quase irreal há quase 4 décadas, estendeu-se a Portugal. É hoje possível realizar um doutoramento de qualidade no País em muitas áreas, a competição dos doutorados para as diversas posições e carreiras disponíveis é dura e o nível de exigência elevado. A necessidade de pós-doutoramento para alavancar os currículos é sentida. A empregabilidade não pode mais restringir-se à academia pois, se esta tiver estratégia e competir no ensino superior global, necessita de um número sustentável de excelentes colaboradores com competências em muito diversas áreas, algumas emergentes, deficientemente ou não representadas. 

Mas haverá oportunidades fora da academia? O Inquérito aos Doutorados realizado pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência mostra que, em 2020, já havia 37.113 doutorados (75 por 10.000 habitantes na população ativa), 51% mulheres, 95% empregados, apesar da precariedade de muitos vínculos laborais. A tendência era de um continuado aumento da percentagem nos setores Estado (13%) e Empresas (8%), e descida no Ensino Superior onde continuava elevada (77%).

Por que razões um empregador poderá ter interesse em contratar um doutorado que normalmente auferirá um salário superior a um não-doutorado? Muitos não são recrutados essencialmente pelos seus conhecimentos técnicos, mas por outras competências adquiridas durante 4 anos de trabalho intenso dedicado ao seu tópico de investigação. Pese embora a variabilidade inerente à personalidade de cada um e ao ter ou não complementado a sua formação com um pós-doutoramento, o doutorado foi treinado para, de forma autónoma, identificar, atacar e encontrar soluções para problemas, sendo hábil na pesquisa de informação confiável. É capaz de obter resultados relevantes, compreendê-los, analisá-los, fazer a sua síntese e defender as conclusões. Entende a importância de manter registos precisos da sua atividade. É capaz de aprendizagem rápida de qualquer novo assunto técnico, muitas vezes mais importante do que a experiência prévia. Sabe como pensar, treinou um pensamento crítico, é capaz de obter informação ou conhecimento novo. Além desta capacidade de inovação, ganhou resiliência ao conviver com o fracasso e está disposto a correr riscos. A incerteza e as dificuldades estimulam-no a prosseguir devido à motivação interna que demonstrou. Apesar da tese de doutoramento ser um projeto individual, aprendeu a trabalhar diariamente na equipa e com colaboradores, nacionais e estrangeiros, na execução de experiências, tratamento e discussão de resultados, preparação de artigos. Criou, assim, uma valiosa rede de contactos. Foi aprendendo a partilhar e competir por recursos e publicações, a dividir tarefas, a conviver e comunicar. Ao praticar, de forma ativa e prolongada, a comunicação escrita e oral, acompanhada por uma supervisão competente, foi aumentando essas capacidades. Vários acumularam uma experiência de apoio ao ensino o que os tornou mais capazes de transmitir ideias, de fazer de mentor, de motivar e ajudar outros a atingir objetivos, a ganhar experiência de avaliação de desempenho e assim competências de liderança. Desenvolveram ainda competências na preparação e gestão de projetos, desde o concurso à bolsa de doutoramento, à gestão e elaboração da tese, passando por contributos variados às múltiplas candidaturas do grupo para financiamento da investigação. Tal justifica muitos recrutamentos recentes já que as empresas têm tido oportunidades de se candidatarem a projetos vários, com financiamento substancial.

Contudo, um doutoramento depende do sistema de ensino (que pode incluir ou não formação escolar pós-graduada ou só valorizar investigação e publicações), da qualidade e reconhecimento dos orientadores e da instituição formadora, e até da sua área. Um doutoramento qualifica também para posições na indústria e outras instituições não académicas. É simplesmente um 3º ciclo de estudos, que se segue ao 2º ciclo (mestrado) e ao 1º ciclo (licenciatura). Além de conferir formação avançada complementar, é uma marca de conquista com a garantia de que o seu detentor, para além de conhecer profundamente o seu tópico, tem mais competências e oportunidades de carreira. E é imprescindível em qualquer empresa inovadora!