Na passada semana iniciei a minha coluna semanal neste espaço, intitulada A Guerra da Energia relembrando que o mundo em que vivemos se desenvolve cada vez mais no binómio energia, informação e depois discorri sobre o papel central da energia enquanto recurso vital, nas várias perspetivas com que pode ser analisada, travada e decidida a confrontação entre o mundo livre e o totalitarismo, despoletada pela invasão da Ucrânia. Abordarei hoje algumas das dimensões associadas à informação.
A informação e a contrainformação sempre foram disciplinas presentes nos manuais e nos teatros de guerra, nas suas estratégias, táticas e ações operacionais. Tal como na energia, embora aqui talvez ainda com mais impacto, o que é novo é a importância das redes, das interdependências, da manipulação das ideias através da distorção dos conteúdos e em última análise das perceções, das decisões e das suas consequências, tudo isto feito com base em tecnologias que aceleram a comunicação e simulam, quando não antecipam, a consciência do tempo real.
Nas ultimas semanas tem-se debatido o efeito da regulação e do eventual bloqueio de fluxos e fontes de informação, tal como se debateu o efeito da regulação e o eventual bloqueio de fluxos e fontes de energia. A eficácia e o impacto destes movimentos que parecem similares na sua essência, torna-se muito diferenciada pela interface humana que ganha na informação não apenas um estatuto na equação de produção, transmissão e uso, mas também na interpretação e qualificação.
A literacia e a literacia digital em particular, os valores e a formação ética dos indivíduos são o melhor antídoto contra a desinformação crescente que contamina e envenena a sociedade em que vivemos e que é cada vez mais parte do arsenal de armas nas guerras modernas, com um impacto menos visível que os designados ataques cibernéticos, mas funcionando como uma espécie de corrente ou ataque contínuo à verdade e ao discernimento das opiniões públicas.
A verdade é em última análise aquilo que os indivíduos acreditam que é determinada pelos dados que lhe são fornecidos e pela matriz analítica de que dispõem. Não há ou não deveria haver verdades oficiais e de adoção forçada, mas nos totalitarismos elas pululam e no mundo livre as restrições, como por exemplo o cancelamento dos canais de propaganda do inimigo, merecem pelo menos reflexão e ponderação.
Não podendo neste texto tocar, nem ao de leve, em todas as implicações da guerra da informação, manifesto uma preocupação especial para as circunstâncias em que a interface humana, mesmo que frágil, podem deixar de ser centrais, como é o caso da Inteligência Artificial e dos algoritmos inteligentes, que tomam por bons os referenciais de base e os aplicam até à exaustão sem regra moral ou ética. Algoritmos que “compreendem”, mas não sentem nem pensam e que nos podem levar ao abismo sem saberem porquê.
Nunca deixemos de ser humanos nem que as máquinas estejam um segundo que seja à frente da nossa vontade. Que o instinto de sobrevivência e de humanidade nos proteja.