O buraco negro da guerra de Putin e o inevitável lado errado da história do PCP


Putin é um produto imperialista que assumiu as rédeas de um perfil de produção, sem olhar a meios, sem acolher quem pensa diferente, sem esboço de democracia efetiva. 


Estamos em guerra! Há muito que o “não ser à nossa porta” deixou de ser critério para a preocupação e a ação individual e comunitária. Quase tudo é global, apesar de nos refugiarmos na proximidade dos portos de abrigo, das zonas de conforto e de outras conquistas que os avanços civilizacionais nos proporcionam, com maior ou menor escala, em função das disponibilidades de recursos de cada um. E, no entanto, depois de reiteradas indiferenças em relação a conflitos e guerras noutras latitudes do mundo, depois da morte nos entrar pelas casas adentro com a pandemia globalizada, estamos com a Europa como palco de mais uma expressão do imperialismo russo materializado, depois de tantas diatribes digitais. Estamos em guerra real, física e digital, assente na mesma arrogância com que convivi em reuniões alargadas de parlamentares na NATO, na OSCE e nas instituições europeias em que participavam representantes da Federação Russa. A soberba do império reergueu-se dos despojos da União Soviética, armou-se de militares digitais e avançou com as receitas de sempre para a afronta das nações emancipadas pela soberania e para comunidade internacional.

Muitos de nós, e bem, têm a felicidade de nunca ter tido de conviver com este sobressalto da guerra, embevecidos que estávamos da Europa como espaço essencialmente de paz, longe das fragilidades dos poderosos de outrora e assente em equilíbrios forjados nos ensinamentos da história. Mas, alguns seres humanos têm essa capacidade de nos surpreenderem nas derivas negativas, nos artifícios e na incomensurável barbárie de não olhar a meios para determinados fins, à revelia dos padrões civilizacionais do nosso tempo.

Putin é um produto imperialista que assumiu as rédeas de um perfil de produção, sem olhar a meios, sem acolher quem pensa diferente, sem esboço de democracia efetiva e com a capacidade de fazer renascer o pior do espírito imperialista que permanece, pasme-se, com adeptos em Portugal, saudosos que estão da supremacia da ideologia e da propaganda sobre os mais básicos direitos individuais e das nações.

Putin não precisou de pretexto nem de ensejo, fez o que um imperialista cego de ambição e inchado de soberba faria, agora como no tempo da União Soviética ou de outras latitudes de evidente desgraça humanitária e de desenvolvimento civilizacional.

O PCP, alguns comunistas, não mudam nem mudarão, mesmo que alguns lhes tenham dado boleia de anos e mais tempo de máscara sob a capa de apoio à solução de governo que vigorou entre 2015 e 2021.

Quem reiteradamente abocanha o centralismo de Bruxelas e o projeto europeu por alegadamente ser uma imposição aos povos, não hesita a colocar-se ao lado dos impulsos imperialistas de Putin só porque são a expressão revisitada do espírito da URSS, ainda que com esmagamento das vontades legítimas de povos e nações como aconteceu tantas vezes na história.

Quem agora se indigna com as posições do PCP perante a invasão e a guerra na Ucrânia ou com a sustentada demonização da NATO, com quem continua a confortar as tentações autocráticas da Coreia do Norte, da Venezuela ou de Cuba, são, em boa parte os mesmos que, pelo acesso e manutenção do poder em Portugal, andaram de braço dado com quem claudicava em parte essencial dos valores e dos princípios, em manifesta divergência com o acervo histórico do Partido Socialista. Em boa parte, serão agora, lágrimas de crocodilo de quem desvalorizou a evidência da incompatibilidade política em relação à Europa e à NATO, confirmada à primeira oportunidade pela realidade e pelo chumbo orçamental de 2021.

Sem espaço para os maniqueísmos ideológicos ou as rotulagens gratuitas da realidade, sabendo que não há santos no altar da política internacional, há quem nunca prescinda de estar do lado errado da história.

Não há melindre de proximidade à fronteira que justifique a barbárie promovida por Putin, apoiada pelo PCP, porque a lógica da desculpabilização conduziria a que, pelo mesmo argumento, os países da NATO e a instituição como um todo ripostasse, dando origem a um conflito de maior amplitude, na intensidade e nas sequelas.

Não há nada que desculpe Putin nem a encarquilhada reincidência da adesão comunista às tentações imperialistas sedentas de inspiração na URSS e no Pacto de Varsóvia.

A pandemia voltou a banalizar a morte, pela grandeza do número de vidas ceifadas, mas foi o valor da vida, do esforço de as salvar pelas vacinas, pela proteção e pelos atos médicos que mobilizaram todos os nossos esforços individuais e comunitários. Depois desse esforço global positivo, é uma catástrofe que, sem razão ou senso, um tresloucado resolva impulsionar uma guerra, num espaço que tanto se esforçou para construir pilares de paz, de respeito pela diversidade, de integração e de desenvolvimento, embora boa parte das últimas lideranças políticas da Europa tenham deixado e continuem a deixar muito a desejar. Aliás, em boa parte a atual guerra é mais uma expressão do falhanço dessas lideranças. Definitivamente, estamos a viver tempos que nunca julgámos viver, de múltiplos riscos e exigências para quem se julgava noutro patamar civilizacional.

Há sempre alguém que insiste no retrocesso, tem de haver sempre alguém que insista em contrariá-los, sem hesitações, ainda que quase isolados pela substância ou pelas circunstâncias.
Estamos ao lado dos ucranianos contra a barbárie imperialista de Putin.

NOTAS FINAIS
TEMPESTADE PERFEITA. Viver este tempo, quase sem parlamento e sem governo em plenitude de funções, é uma loucura coletiva, quando se avizinham tempos ainda mais desafiantes, em que a guerra se soma aos impactos da pandemia, à seca, à inflação e a uma diversidade de riscos individuais e comunitários.

SUCATA PARA COMBATER INCÊNDIOS. Não aprender com a história, nas opções políticas e na utilização dos recursos financeiros dos contribuintes, parece ser uma espécie de sina. A Força Aérea Portuguesa lançou um concurso destinado à compra de helicópteros para combate a incêndios que permite a aquisição de aparelhos com 35 anos. Serão seis helicópteros médios e outros tantos ligeiros, pelos quais o Estado poderá pagar um máximo de 69,3 milhões de euros. Será mais um negócio tipo Kamov?

SOBREVIVER NO INTERIOR. Quem vive no Litoral, em especial os decisores políticos e económicos, deveriam estar obrigados a ter um banho regular de Interior. Ir a essas comunidades e territórios, sem mediatismo, sentir o pulso de uma alma que se esvai, de uma identidade que subsiste além da espuma dos dias e de traços negativos que não se invertem. É preciso muito mais para voltar a ter mais vida e sangue novo nas ruas quase despidas de gente de Pínzio, em Pinhel, no distrito da Guarda. É outro tipo de guerra, que valerá a pena travar, com senso e sentido de futuro.

Escreve à segunda-feira

O buraco negro da guerra de Putin e o inevitável lado errado da história do PCP


Putin é um produto imperialista que assumiu as rédeas de um perfil de produção, sem olhar a meios, sem acolher quem pensa diferente, sem esboço de democracia efetiva. 


Estamos em guerra! Há muito que o “não ser à nossa porta” deixou de ser critério para a preocupação e a ação individual e comunitária. Quase tudo é global, apesar de nos refugiarmos na proximidade dos portos de abrigo, das zonas de conforto e de outras conquistas que os avanços civilizacionais nos proporcionam, com maior ou menor escala, em função das disponibilidades de recursos de cada um. E, no entanto, depois de reiteradas indiferenças em relação a conflitos e guerras noutras latitudes do mundo, depois da morte nos entrar pelas casas adentro com a pandemia globalizada, estamos com a Europa como palco de mais uma expressão do imperialismo russo materializado, depois de tantas diatribes digitais. Estamos em guerra real, física e digital, assente na mesma arrogância com que convivi em reuniões alargadas de parlamentares na NATO, na OSCE e nas instituições europeias em que participavam representantes da Federação Russa. A soberba do império reergueu-se dos despojos da União Soviética, armou-se de militares digitais e avançou com as receitas de sempre para a afronta das nações emancipadas pela soberania e para comunidade internacional.

Muitos de nós, e bem, têm a felicidade de nunca ter tido de conviver com este sobressalto da guerra, embevecidos que estávamos da Europa como espaço essencialmente de paz, longe das fragilidades dos poderosos de outrora e assente em equilíbrios forjados nos ensinamentos da história. Mas, alguns seres humanos têm essa capacidade de nos surpreenderem nas derivas negativas, nos artifícios e na incomensurável barbárie de não olhar a meios para determinados fins, à revelia dos padrões civilizacionais do nosso tempo.

Putin é um produto imperialista que assumiu as rédeas de um perfil de produção, sem olhar a meios, sem acolher quem pensa diferente, sem esboço de democracia efetiva e com a capacidade de fazer renascer o pior do espírito imperialista que permanece, pasme-se, com adeptos em Portugal, saudosos que estão da supremacia da ideologia e da propaganda sobre os mais básicos direitos individuais e das nações.

Putin não precisou de pretexto nem de ensejo, fez o que um imperialista cego de ambição e inchado de soberba faria, agora como no tempo da União Soviética ou de outras latitudes de evidente desgraça humanitária e de desenvolvimento civilizacional.

O PCP, alguns comunistas, não mudam nem mudarão, mesmo que alguns lhes tenham dado boleia de anos e mais tempo de máscara sob a capa de apoio à solução de governo que vigorou entre 2015 e 2021.

Quem reiteradamente abocanha o centralismo de Bruxelas e o projeto europeu por alegadamente ser uma imposição aos povos, não hesita a colocar-se ao lado dos impulsos imperialistas de Putin só porque são a expressão revisitada do espírito da URSS, ainda que com esmagamento das vontades legítimas de povos e nações como aconteceu tantas vezes na história.

Quem agora se indigna com as posições do PCP perante a invasão e a guerra na Ucrânia ou com a sustentada demonização da NATO, com quem continua a confortar as tentações autocráticas da Coreia do Norte, da Venezuela ou de Cuba, são, em boa parte os mesmos que, pelo acesso e manutenção do poder em Portugal, andaram de braço dado com quem claudicava em parte essencial dos valores e dos princípios, em manifesta divergência com o acervo histórico do Partido Socialista. Em boa parte, serão agora, lágrimas de crocodilo de quem desvalorizou a evidência da incompatibilidade política em relação à Europa e à NATO, confirmada à primeira oportunidade pela realidade e pelo chumbo orçamental de 2021.

Sem espaço para os maniqueísmos ideológicos ou as rotulagens gratuitas da realidade, sabendo que não há santos no altar da política internacional, há quem nunca prescinda de estar do lado errado da história.

Não há melindre de proximidade à fronteira que justifique a barbárie promovida por Putin, apoiada pelo PCP, porque a lógica da desculpabilização conduziria a que, pelo mesmo argumento, os países da NATO e a instituição como um todo ripostasse, dando origem a um conflito de maior amplitude, na intensidade e nas sequelas.

Não há nada que desculpe Putin nem a encarquilhada reincidência da adesão comunista às tentações imperialistas sedentas de inspiração na URSS e no Pacto de Varsóvia.

A pandemia voltou a banalizar a morte, pela grandeza do número de vidas ceifadas, mas foi o valor da vida, do esforço de as salvar pelas vacinas, pela proteção e pelos atos médicos que mobilizaram todos os nossos esforços individuais e comunitários. Depois desse esforço global positivo, é uma catástrofe que, sem razão ou senso, um tresloucado resolva impulsionar uma guerra, num espaço que tanto se esforçou para construir pilares de paz, de respeito pela diversidade, de integração e de desenvolvimento, embora boa parte das últimas lideranças políticas da Europa tenham deixado e continuem a deixar muito a desejar. Aliás, em boa parte a atual guerra é mais uma expressão do falhanço dessas lideranças. Definitivamente, estamos a viver tempos que nunca julgámos viver, de múltiplos riscos e exigências para quem se julgava noutro patamar civilizacional.

Há sempre alguém que insiste no retrocesso, tem de haver sempre alguém que insista em contrariá-los, sem hesitações, ainda que quase isolados pela substância ou pelas circunstâncias.
Estamos ao lado dos ucranianos contra a barbárie imperialista de Putin.

NOTAS FINAIS
TEMPESTADE PERFEITA. Viver este tempo, quase sem parlamento e sem governo em plenitude de funções, é uma loucura coletiva, quando se avizinham tempos ainda mais desafiantes, em que a guerra se soma aos impactos da pandemia, à seca, à inflação e a uma diversidade de riscos individuais e comunitários.

SUCATA PARA COMBATER INCÊNDIOS. Não aprender com a história, nas opções políticas e na utilização dos recursos financeiros dos contribuintes, parece ser uma espécie de sina. A Força Aérea Portuguesa lançou um concurso destinado à compra de helicópteros para combate a incêndios que permite a aquisição de aparelhos com 35 anos. Serão seis helicópteros médios e outros tantos ligeiros, pelos quais o Estado poderá pagar um máximo de 69,3 milhões de euros. Será mais um negócio tipo Kamov?

SOBREVIVER NO INTERIOR. Quem vive no Litoral, em especial os decisores políticos e económicos, deveriam estar obrigados a ter um banho regular de Interior. Ir a essas comunidades e territórios, sem mediatismo, sentir o pulso de uma alma que se esvai, de uma identidade que subsiste além da espuma dos dias e de traços negativos que não se invertem. É preciso muito mais para voltar a ter mais vida e sangue novo nas ruas quase despidas de gente de Pínzio, em Pinhel, no distrito da Guarda. É outro tipo de guerra, que valerá a pena travar, com senso e sentido de futuro.

Escreve à segunda-feira