Golfe. Ricardo Santos renasce em Ras Al Khaimah

Golfe. Ricardo Santos renasce em Ras Al Khaimah


Ricardo Santos mostrou esta semana que, aos 39 anos, é preciso contar ainda com ele. Iniciou, com alguma surpresa, nos Emirados Árabes Unidos o seu ano competitivo, jogou sempre a Par ou abaixo do Par e estabeleceu objetivos renovados para 2022, cotando-se como um exemplo de longevidade.


Embora sem a categoria que desejaria (16b em 2022), o algarvio irá poder disputar alguns torneios do DP World Tour. Não entrou, naturalmente, nos dois eventos da Rolex Series no Abu Dhabi e no Dubai, mas já teve acesso ao Ras Al Khaimah Championship presented by Phoenix Capital, de dois milhões de euros em prémios monetários.

“Nem estava espera de entrar nestes torneios, daí que a minha pré-temporada tenha sido mais focada no aspeto físico do que no técnico, até porque, quando sinto-me bem fisicamente, também sinto-me mais forte mentalmente”, disse o campeão nacional de 2011 e 2016, que não só passou o cut, como terminou no grupo dos 47.º classificados – uma subida de 12 posições em relação à véspera.

Desde outubro, no Portugal Masters (32.º com -5) que Ricardo Santos não terminava uma prova do ex-European Tour no top-50 e, neste caso, o mais importante foi tê-lo feito com duas voltas a Par do campo e outras duas abaixo do Par do Al Hamra Golf Club: 72, 69, 72 e 68, para um total de 281 pancadas, 7 abaixo do Par, o seu melhor agregado desde o 6.º lugar (-14) no Open dos Países Baixos, em setembro.

“Não vinha com expectativas nenhumas nem com apreensões (por ser o início do ano), mas apenas com vontade de meter em prática aquilo que praticámos nas semanas antes de vir para aqui”, começou por afirmar ao Gabinete de Imprensa da FPG, depois de embolsar um prémio de 8.552,76 euros.

“Senti-me bem, há coisas que ainda falharam, talvez por ser o primeiro torneio do ano, mas, em geral, foi bastante positivo estou e no caminho certo”, acrescentou, depois de uma exibição sólida. Fechou com uma última volta sem sofrer qualquer bogey e converteu 4 birdies. No total do torneio foram 14 birdies (5 dos quais em buracos de Par-5), face a 7 bogeys, mas não perdeu qualquer pancada nos últimos 30 buracos!

Aos 39 anos, Ricardo Santos é um exemplo de longevidade e perseverança. À exceção de Filipe Lima, nenhum português jogou mais épocas no European Tour e tanto Lima como Santos foram os únicos a dedicarem-se exclusivamente ao jogo até quase aos 40 anos. Como se sabe, agora já nem Lima está neste grupo, pois aceitou um cargo de direção num campo nos arredores de Paris e divide essa atividade com a de jogador.

Para Santos será a sua sétima temporada (2012/13/14/15/20/21/22) e aquele hiato de quatro anos a penar no Challenge Tour (de 2016 a 2019) forjaram-lhe uma resistência mental assinalável. Contudo, só ele sabe o que tem passado e admite ter pensado várias vezes em encerrar a carreira internacional, como fez o seu irmão mais velho, Hugo Santos

“Na verdade, não tem sido nada fácil. Nos últimos anos não tenho tido apoios para poder jogar as temporadas (inteiras). Claro que a questão de continuar a competir mete-se sempre, mas, como sinto que tenho capacidades para competir ao mais alto nível, temos (ele, a família e a equipa técnica) feito alguns sacrifícios”.

Nesse sentido, Ras Al Khaimah deu-lhe um alento suplementar. Depois de ter fechado o ano de 2021 no 161.º posto da Corrida para o Dubai, já sabe que este top-50 vai levá-lo a aparecer pela primeira vez no rebatizado DP World Tour Ranking no 134.º posto.

Talento nunca lhe faltou e se o físico está forte e mente resistente, um grande resultado poderá estar ao virar da esquina. “Há que continuar a trabalhar e esperar por melhores dias. É no que penso e acredito. Com trabalho e atitude certa, as coisas acontecem, apesar de às vezes não ser no timing certo. Vamos acreditar que sim”.

E para sossegar os muitos fãs que tem em Portugal e no estrangeiro, atira logo com ambiciosos objetivos para 2022. “O principal é manter cartão do DP World Tour, mas há um outro que é voltar a ganhar neste mesmo circuito”, elencou, referindo-se ao seu sensacional triunfo no Madeira Islands Open BPI de 2012.

Ainda hoje é um dos raros três portugueses a ter conquistado um título do European Tour, a par de Daniel Silva e Filipe Lima. E embora com aquele seu ar sempre bonacheirão de bom gigante, Ricardo alimenta aquele bichinho competitivo interno. Já foi campeão nacional de profissionais por duas vezes, mas agora, com a FPG a abrir aos profissionais o Campeonato Nacional Absoluto Hyundai, não se esquece que nos seus tempos de amador nunca venceu essa prova. “A nível nacional, quero ganhar o Campeonato Nacional”.

O próximo torneio de Ricardo Santos será o Ras Al Khaimah Classic. Embora ainda apareça dois lugares de fora da lista de inscritos, já lhe foi dada a garantia de que irá jogar, porque há vagas de categorias superiores à sua que não irão ser preenchidas.

Trata-se igualmente de um evento de dois milhões de euros e realiza-se no mesmo campo. “É um campo que tem algumas oportunidades birdie, mas também tem buracos complicados”, elucida.

Esse segundo torneio neste emirado do médio oriente conta de novo com Ricardo Melo Gouveia e o atual n.º1 português (155.º no ranking mundial) já deverá ser capaz de adaptar-se melhor às características do percurso que levaram-no a falhar o cut esta semana por 1 única pancada.

 “Foi um torneio em que as coisas não me correram bem. Estive mal no putt, hoje (sexta-feira) até criei bastantes oportunidades, mas não consegui adaptar-me bem aos greens. Vim de greens no Abu Dhabi e no Dubai rápidos e duros, estes são um pouco lentos, com granulação e foi difícil adaptar-me. Não estava a ler bem as linhas, mas agora vou preparar-me para a próxima semana”, comentou à FPG.

O campeão nacional absoluto de 2020 somou 147 pancadas, 3 acima do Par, após voltas de 74 e 73 e caiu no DP World Tour Ranking de 75.º para 93.º, mesmo assim, bem dentro do top-118 que no final da temporada mantém o cartão.

“Sinto-me bem e sinto que o jogo está a evoluir. É certo que venho de uma lesão nas costas, antes de começar nos torneios, e isso afetou-me um bocadinho a pré-época, que não foi a melhor, mas agora as coisas vão começar a melhor e com o treino irei ganhar mais ritmo”, assegurou.

 Mesmo com essa limitação física que prejudicou a sua preparação para 2022, o certo é que o atleta olímpico português arrancou bem este ano, ao passar o cut nos dois torneios da Série Rolex, sendo 53.º (+2) no Abu Dhabi e 66.º (+5) no Dubai, amealhando mais de 40 mil euros em prémios monetários nessas duas semanas.

O Ras Al Khaimah Championship presented by Phoenix Capital foi ganho pelo dinamarquês Nicolai Hojgaard, de apenas 20 anos, que viveu uma última volta de loucos antes de totalizar 264 (67+65+64+68), -24, batendo por 4 o inglês Jordan Smith (71+64+67+66).

Hojgaard, o atual campeão do Open de Itália, partiu para o último dia com uma vantagem de 3 pancadas sobre o escocês David Law, mas, a dada altura viu-se a 2 shots do novo líder, Jordan Smith, um antigo vencedor do Portugal Pro Golf Tour (agora PT Tour), mas 1 birdie no buraco 13, seguido de 1 eagle no 14, catapultaram-no de novo para o topo de classificação, não mais arredando pé.