Dylan Dog, o “detetive do pesadelo” criado por Tiziano Sclavi, estreou-se em 1986 com desenhos de Angelo Stano. As particularidades da personagem e as intersecções do policial com o fantástico resultaram num êxito popular, sendo o fumetto (história aos quadradinhos) mais vendido em Itália depois de Tex, adaptado já ao cinema nos Estados Unidos, onde é publicado pela Dark Horse, e traduzido em inúmeros países entre os quais, desde há pouco, Portugal.
Os fumetti nunca lograram entre nós uma popularidade comparável à BD franco-belga, excetuando os autores que nos chegavam por essa via: Hugo Pratt, Milo Manara, Vittorio Giardino, ou através do circuito alternativo, como Guido Crepax, com exceção feita aos autores Disney – Romano Scarpa e todos os outros – que nos chegavam embrulhados na panóplia multinacional da companhia. Mesmo um grande mestre como Franco Caprioli (1912-1974) teve uma presença modesta por cá. Uma das explicações pode ser a de o público português, pelo menos o que anda pelos 50-60 anos, habituado desde muito cedo a edições a cores – ainda há semanas vimos como as aventuras de Tintin eram coloridas na revista O Papagaio, enquanto que no país de origem saíam a preto e branco –, fosse pouco atreito ao preto e branco. Quem se lembra da “revolta” dos leitores da revista Tintin, quando Vasco Granja passou a publicar o Corto Maltese conforme o original?… Nos dias de hoje, porém, com a grande diversidade de oferta, a conversa será outra.
Dylan Dog (DD), antigo agente da Scotland Yard, dando ares ao ator Rupert Everett, é uma personagem desempoeirada, com algumas excentricidades: tal como Sherlock Holmes toca violino, à espera do seu eureka, também DD se deixa ir enquanto sopra um clarinete. Tem aversão à bebida e ao tabaco, em contrapartida é um sedutor, com uma nova conquista a cada aventura. Na sua caça a zombies e outras criaturas conta com o auxílio de Groucho, também mordomo e parceiro multifunções, sósia de Groucho Marx, piadista contumaz até ao insuportável, e do inspetor Bloch, o antigo chefe de DD na polícia.
O Número 200, com texto da milanesa Paola Barbato (1971) e desenhos do já nosso conhecido Bruno Brindisi, no extraordinário Até que a Morte Vos Separe, vai às origens da personagem, ainda na polícia, e ao primeiro caso como detetive particular, à relação com Bloch e ao surgimento de Groucho. E ficamos a saber os motivos da aversão a álcoois e fumos, assim como as prováveis causas da pulsão de conquistador instável, entre outras curiosidades, como o surgimento do modelo do galeão que nunca é terminado. Para quem ainda não conhece DD sugerimos sem reservas o já referido Até que a Morte Vos Separe e Trevas Profundas, enquanto esperamos pelo crossover DD / Batman (ou Groucho / Afred; Bloch / Gordon…). Como escreveu um conhecido poeta, a propósito doutras ingestões, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
BDTECA
ABECEDÁRIO
Y, de Yellow Kid (Richard F. Outcault, 1894). De seu nome Mickey Dugan, o rapaz amarelo era um miúdo de um bairro pobre de Nova Iorque, careca, orelhas de abano e traços orientais, que interagia com os habitantes do bairro, bem disposto e a falar em calão. As falas começaram por ser escritas nessa túnica ou camisa de noite que envergava; apenas no ano seguinte à sua aparição, Outcault, dando-lhe protagonismo, inicia a utilização das filacteras, um dos códigos distintivos da banda desenhada.
LIVROS
Blacksad – Então tudo cai (t.I), por Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido. “Encarregado de proteger o presidente de um sindicato infiltrado pela mafia em Nova Iorque, John Blacksad vai conduzir uma investigação que irá revelar-se particularmente delicada… e rica em surpresas. Enquanto procura uma notícia que o afirme como grande repórter, também Weekly vai envolver-se num perigoso mundo de corrupção e interesses. Será Blacksad capaz de proteger os seus amigos e resolver a situação? Nesta história, pela primeira vez repartida em dois álbuns, descobrimos não só o quotidiano dos trabalhadores encarregues da construção do metro nas profundezas da cidade, mas também o contraste absoluto entre a sombra e a luz, o submundo e o meio do teatro, os mundos de baixo e de cima, encarnado pelo ambicioso Salomon.” (Ala dos Livros).